Falta de remédios impede pacientes de fazer quimio na Santa Casa

Fabiana Gouvea, que faz quimioterapia para câncer de mama, foi orientada pelo hospital a voltar só após Carnaval para verificar chegada de remédio

Saúde Deborah Giannini, do R7 06/02/2018 – 17h59 (Atualizado em 06/02/2018 – 19h05)

A Santa Casa de São Paulo, maior complexo hospitalar privado e filantrópico da América Latina, que atende gratuitamente, não realizou o tratamento de câncer de diversos pacientes nesta terça-feira (6) devido à falta de medicamentos quimioterápicos.

A artesã Fabiana Gouvea, 40, que faz tratamento para câncer de mama e axila na unidade de Oncologia, Edifício Conde de Lara, é uma delas. “Cheguei para minha sessão de quimioterapia, que estava agendada para esta terça-feira (6), e fui orientada a voltar para a casa porque não tinha medicamento. Disseram para retornar ao hospital só depois do Carnaval para ver se o remédio chegou”, afirma. O tratamento de Fabiana exige quimioterapia a cada 21 dias.

Uma enfermeira da unidade de Oncologia, que não quis se identificar, confirmou a falta de alguns quimioterápicos, como ciclofosfamida e doxorrubicina, utilizados no tratamento de câncer de mama avançado. Ela não soube informar quando o estoque será reposto.

Contatada pelo R7, a assessoria de imprensa da Santa Casa de São Paulo não respondeu sobre a falta de medicamentos quimioterápicos nem forneceu orientação aos pacientes que não puderam realizar a quimioterapia nesta terça-feira (7). Em nota, informou que “o tratamento a pacientes oncológicos é prioritário. O planejamento do tratamento quimioterápico é individualizado e em caso de indisponibilidade de algum item, é feito o remanejamento do atendimento, para que a assistência ao paciente seja realizada”.

A Santa Casa de São Paulo é financiada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com recursos do Ministério da Saúde e do governo do Estado de São Paulo. Sobre o assunto, o Ministério da Saúde informou, nesta terça-feira (7), por meio de nota, “que todos os hospitais do SUS habilitados em oncologia recebem mensalmente recursos federais para a compra e oferta de medicamentos. O valor já está incluso no total pago para a realização dos procedimentos ambulatoriais e hospitalares para o tratamento de câncer. Para auxiliar a aquisição dos hospitais, o Ministério da Saúde centralizou a aquisição de sete produtos (Talidomida, Mesilato de Imatinibe, Dasatinibe, Cloridrato de Nilotinibe, Rituximabe, Trastuzumabe e Dactinomicina)”.

De acordo com o oncologista Fábio Franke, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, respeitar os ciclos da quimioterapia, que são o número de aplicações e o intervalo entre as doses de medicamento, é fundamental para o resultado do tratamento. “O tratamento é planejado com algumas doses que são necessárias para combater a doença. Essa dose é calculada de acordo com a necessidade de cada paciente. Então, se ele não recebe a dose no período ideal, por qualquer motivo, deixa de fazer o tratamento correto, dando riscos para que a doença possa progredir ou deixando de prevenir sua volta”, afirma.

Ela ainda ressalta os prejuízos emocionais. “São incalculáveis. “A quimioterapia tem vários efeitos colaterais e o paciente se prepara emocionalmente para o impacto que o tratamento vai ter no organismo. Quando uma pessoa chega ao hospital e não recebe o tratamento, o abalo psicológico é muito grande. Além disso, há o medo de a doença voltar. Não fazer o tratamento dá um total desemparo, pois o paciente vai ter medo de que isso possa fazer falta no controle da doença”.

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