Poni, fundador da rede, acompanha de perto a empresa que, em 2016, faturou R$ 664,8 milhões
Thaíne Belissa
Uma mistura de talento, coragem e um pouco de sorte. Foi assim que o empresário mineiro Alexandre Poni construiu, em Belo Horizonte, o Verdemar, uma rede de supermercados – hoje com nove lojas e entre as 50 maiores do setor – que faturou R$ 664,8 milhões em 2016 e que não para de crescer. Para este ano, a estimativa é alcançar receita de R$ 830 milhões, expansão de 25%.
Sem muita cerimônia para falar da própria história, que envolveu uma infância relativamente simples e muito “malabarismo financeiro” para começar um negócio, o empresário compartilhou aprendizados de sua trajetória, durante almoço realizado, no início desta semana, pela Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), na região Centro-Sul da Capital.
Apesar de ser tratado como empresário por onde vai, Poni confessa não gostar muito do termo. Para ele, sua atuação é, sobretudo, como comerciante. Mesmo após construir uma rede bem estruturada e com mais de 3 mil funcionários, o sócio-fundador faz questão de passear pelos corredores das lojas, observar o comportamento dos clientes e pensar em constantes inovações para as gôndolas. “Sou uma daquelas histórias de gente que montou um negócio do nada e que acreditou muito no que estava fazendo. Mas sou comerciante: gosto mesmo é de estar nas lojas no meio dos clientes”, disse.
A relação do executivo com o comércio começou ainda na infância, quando ele ajudava a mãe a vender frango abatido na hora. Mais tarde, ele convenceu a família a ampliar o negócio, abrindo uma mercearia na garagem de casa, onde também começou a vender frios fatiados. O garoto que cresceu ouvindo sobre vendas, diferenciação de produto e lucro acabou indo para a faculdade de administração, onde o empreendedorismo o perseguiu.
“Na faculdade, conheci o Halisson, que hoje é o meu sócio. Ele me fez uma proposta de vender queijo de Guanhães de padaria em padaria em Belo Horizonte e aceitei”, relata. Pouco tempo depois Poni acabou comprando uma camionete, dando sequência à venda de queijos por conta própria. “Ao mesmo tempo em que fazia faculdade, eu viajava de um lado para o outro transportando cerca de 3 mil quilos de queijo por semana”, disse. Seu primeiro degrau na trajetória de empreendedorismo se deu em 1992, quando trocou um carro por uma padaria.
Mas a semente do Verdemar só seria lançada no ano seguinte, quando comprou quase “forçado” uma mercearia no bairro São Pedro, na região Centro-Sul da Capital. “Um corretor me perguntou se eu não queria comprar a mercearia e eu disse que não tinha dinheiro. Como ele insistiu fui até lá ver e fiz uma proposta daquelas bem cheia de condições e que eu tinha certeza que não iam aceitar. Acabaram aceitando”, lembrou.
Como ele não tinha dinheiro suficiente, fez sociedade com um amigo, que entrou no negócio com um carro, e o com o atual sócio, Halisson Moreira, que participou com uma linha telefônica que tinha em casa e que tinha bastante valor na época. Hoje, aos 24 anos, o Verdemar é uma rede de nove supermercados que continua crescendo mesmo em tempo de crise. A expectativa de crescimento para 2017 é de 25% em relação ao ano passado. Este ano, a rede ainda inaugurará três unidades, sendo uma no bairro Serra e uma no shopping Pátio Savassi, na região Centro-Sul, e uma no bairro Castelo, na Pampulha.
Coragem – A coragem para enfrentar oportunidades inusitadas acabou se tornando uma constante na trajetória de Poni. Quando lançaram o Verdemar, ele e o sócio ficaram conhecidos como compradores de oportunidade, pois na época da inflação, eles iam de supermercado em supermercado comprar produtos em oferta, deixando o mix da loja mais diversificado. Quando fez a primeira expansão para a avenida Nossa Senhora do Carmo, na região Centro-Sul da Capital, o empresário também precisou de coragem para inovar no segmento e colocar um estacionamento com manobrista. “O Verdemar é um conceito de coisas boas que vejo por aí. Vou copiando e melhorando as ideias que me inspiram dentro e fora do País”, disse.
Outro momento que exigiu ousadia do empresário foi em 2013, quando ele abriu a filial do bairro Buritis, também na região Centro-Sul. Poni disse que a unidade não deu retorno no tempo esperado e muitos o aconselharam a embarcar nas promoções e na venda de produtos mais baratos, fugindo do padrão adotado pelo empreendimento até então. “A região era formada pelos chamados ‘filhos da Zona Sul’, então eram pessoas que estavam começando a vida e ainda não tinham muito dinheiro. Eu não cedi às propostas de mudar o perfil da loja e insisti que precisávamos manter nossa identidade. Fizemos um trabalho de manter os produtos lá o máximo que pudéssemos e, quando o prazo de validade se aproximava, nós transferíamos para a loja da Nossa Senhora do Carmo, onde o fluxo de venda era maior. Hoje, a unidade vai muito bem, é a terceira maior da rede”, disse.
O empresário também chamou a atenção para a preocupação da empresa com a sustentabilidade. A rede é uma das poucas que não fornece sacolas plásticas para os clientes. Poni acredita que essa é apenas uma pequena ação dentro de um universo grande e cheio de demandas, mas ele está convicto de que a rede faz sua parte na construção de uma cultura em torno da sustentabilidade. “Semana passada, nós abrimos a primeira operação na Pampulha, que é praticamente outra cidade dentro de Belo Horizonte. Vi que os clientes estranharam o fato de não fornecermos as sacolas e fiquei um pouco apreensivo, mas nós não vamos abrir mão: isso faz parte da nossa identidade”, frisou.