A nova geração de medicamentos será utilizada, sobretudo contra doenças como o câncer.
Jordan Bezerra (jordan.bezerra@redebahia.com.br)
07/05/2017 08:30:00 Atualizado em 07/05/2017 08:31:13
O Instituto de Tecnologia da Saúde (ITS) do Senai/Cimatec, localizado na Avenida Orlando Gomes, está se preparando para dar início a uma das primeiras produções nacionais de remédios biológicos, que utilizam como principal ingrediente organismos vivos chamados de anticorpos monoclonais. A IMS Health (um instituto de pesquisas em saúde, sediado nos EUA) revelou em relatório que neste ano, os remédios biológicos devem representar 20% do consumo mundial de remédios. A nova geração de medicamentos será utilizada, sobretudo contra doenças como o câncer.
O professor e diretor do ITS, Roberto Badaró, visitou no início deste ano o Instituto de Pesquisas em Doenças Infecciosas de Seattle, nos Estados Unidos, de onde a tecnologia para a fabricação dos remédios será transferida. “Os estudos desses anticorpos são considerados o grande futuro da Medicina. Eles são muito específicos para cada doença e conseguem retardar a atividade de células cancerígenas, inflamatórias, além de outros processos degenerativos”, explicou Badaró.
História
O primeiro remédio desse tipo foi elaborado em 1982, quando uma insulina humana foi produzida em uma criação de bactérias geneticamente modificadas. O processo ocorre a partir de procedimentos biotecnológicos que realizam a recombinação do DNA, alterando os genes de uma célula para que ela produza proteínas específicas que combatem diversas doenças. As medicações são também utilizadas para o tratamento de artrite reumatoide, esclerose múltipla e urticária crônica. Além disso, elas aceleram cicatrizações e servem como hormônio de crescimento.
Colaterais
Badaró alerta que os biofarmacêuticos, assim como todo medicamento, podem causar efeitos colaterais. “São remédios injetados na veia, assim como as vacinas e podem causar desde febre, mal-estar, e queda de pressão, até coisas mais graves como choques anafiláticos”, contou. Ele também disse que por se tratar de organismos vivos, as medicações precisam ser guardadas em temperaturas específicas, geralmente em refrigeradores, e necessitam de uma distribuição controlada por conta do alto custo.
Atualmente, esse tipo de medicação usada no Brasil é importada da Europa, onde a patente de 21 remédios foi quebrada. De acordo com o Ministério da Saúde, esse tipo de remédio representa 4% de tudo que é distribuído pelo SUS, mas corresponde a 51% do orçamento de compra de medicamentos.
Custos
Além da importação, um outro desafio enfrentado para o barateamento da medicação é que, diferente dos remédios convencionais, os biológicos não possuem fórmulas específicas para serem replicados e produzidos em massa. Esse fator impossibilita a produção de versões genéricas, uma vez que ainda não é possível reproduzir cópias perfeitas de seres vivos, o máximo que se consegue fazer são versões parecidas dos organismos utilizados, gerando os chamados medicamentos biossimilares.
A produção dos medicamentos biológicos no Brasil vai acontecer, além da Bahia, no Instituto Butantan, em São Paulo, Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e no Instituto de Tecnologia em Imunobiológico Bio-Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.
Biofármacos são distribuídos pelo SUS
Alguns remédios biológicos são distribuídos – ainda que restritamente – pelo Sistema Único de Saúde. Em Salvador, a distribuição só acontece no posto do Hospital Juliano Moreira, no bairro de Tancredo Neves. Um dos biofarmacêuticos distribuídos ali é o Omalizumab, também conhecido como Xolair; trata-se da primeira medicação aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) voltada para o tratamento da urticária crônica, inflamação de pele que compromete até as atividades físicas das pessoas.
Vanusa Querino, 39 anos, é portadora da doença e encontrou na medicação o alívio para um sofrimento de 13 anos. “Eu tomava vários tipos de remédios e não obtinha resultados. Com o Omalizumab, fiquei muito feliz, pois os sintomas ficaram mais fracos e consegui retomar minha qualidade de vida”, contou.
O chefe da equipe de Alergologia e professor do Hospital das Clínicas (Universidade Federal da Bahia/Hupes-Ufba), Régis Campos, liderou um estudo sobre o efeito de medicamentos com anticorpos monoclonais em um paciente com urticária crônica, e ressalta a importância e a urgência de uma produção nacional.
“Além da diminuição do custo de fabricação, o acesso da população vai ser muito mais amplo. Os imunobiológicos ainda não são muito acessíveis, alguns necessitam de requisição especial ou de um pedido na Justiça”, declarou.
Para obter as medicações, é necessário ter: cartão do SUS, laudo médico que comprove o diagnóstico de alguma das doenças que podem ser tratadas pelos remédios biológicos, receita médica, cópia de documento com CPF e foto, cópia do comprovante de residência.