Fernando Silva explica os reais riscos e benefícios da vacinação; mãe de autista conta seu lado
VINICIUS MENDES
DA REDAÇÃO
Grupos de pais que decidem não vacinar seus filhos estão crescendo no País.
Por falta de informação, eles acreditam que as vacinas trazem mais malefícios do que benefícios e podem fazer com que as crianças contraiam doenças ou até mesmo autismo.
Janielly Cássia Barbosa é mãe de uma criança autista. Ela afirma que tomou vacinas no período do pré-natal, mas não acredita na relação delas com o autismo.
“Quando tomei a vacina o bebê já estava pronto, porque eu só descobri que estava grávida aos cinco meses, só tomei as vacinas finais. Então como poderiam falar que foi a partir deste momento da vacina que meu filho ‘contraiu’ autismo se eu já descobri a gravidez tarde? Isso é contraditório nessa questão da vacina”, disse Janielly.
Ela afirma que já conhecia o boato da relação do autismo com as vacinas e que já chegou a acreditar nele.
Quando os pais falam de estudos que dizem que algumas vacinas podem levar ao autismo, tem que saber qual a base deste estudo. Eu nunca vi um estudo sério sobre isso, com um nível de evidência elevado”
“Meu filho tomou todas as vacinas, fez o teste do pezinho, fez todos os processos que uma criança recém-nascida deve fazer. Cheguei a achar que podia ter sido a vacina, mas hoje sei que não é, existem estudos que dizem que é genético. Até hoje eu ouço colegas falando que pode ser a vacina, que pode causar o autismo”, contou a mãe.
Ela acredita que este medo das vacinas vem do preconceito e da falta de informação das pessoas sobre o transtorno.
“A pessoa vê o autismo como um monstro ou como um bicho de sete cabeças, e nem sempre é assim. A relação que fazem entre a vacina e o autismo é ligada ao preconceito, à falta de informação. Veem o autista como uma pessoa fora da sociedade e não é por esse lado, eu como mãe, como educadora, sei que não é por esse olhar”, afirmou Janielly.
Este medo dos pais com relação às vacinas não está ligado somente ao autismo.
Muitos acreditam que as crianças vacinadas ficam mais propensas às doenças e que seus filhos não precisam de vacina para construir seus sistemas imunológicos.
Segundo o médico Fernando Antonio Santos e Silva, que atua na Unidade de Saúde da Família (USF) do bairro Praeiro, em Cuiabá, podem sim existir efeitos colaterais às vacinas, mas o benefício é sempre maior que o risco.
“Pode haver algum efeito colateral, mas quando tem é um pouquinho de dor, dependendo pode dar febre, mas são reações esperadas da vacina, não é nada grave. O Ministério da Saúde não iria, de forma amadora, lançar vacinas que pudessem deixar as pessoas doentes ou com autismo”, afirma o doutor.
Quanto ao argumento de que a criança pode desenvolver seu sistema imunológico sozinha, o doutor diz que é possível, mas arriscado.
“A criança até pode criar imunização sozinha, mas a vacina é pra acelerar este processo, porque se depender da doença, às vezes quem pegou pode ficar com sequelas para o resto da vida”, disse o médico.
Ele afirmou que os grupos de pais que são contra a vacinação existem já há algum tempo e se baseiam em estudos que não são sérios.
“Isso já é de longa data. É muito em questão dos hábitos dos pais, às vezes eles tem um formação que não gosta de usar remédios, aí facilita pra eles terem este discurso. E quando os pais falam de estudos que dizem que algumas vacinas podem levar ao autismo, tem que saber qual a base deste estudo, qual o nível de evidências. Eu nunca vi um estudo sério sobre isso, com um nível de evidência elevado”, contou.
O médico também afirmou que não acredita, e nunca viu, algo que relacione a vacinação com o transtorno.
“Até onde eu conheça, nas literaturas científicas, não existe nenhuma relação com o autismo. Eu tomei vacina quando pequeno, tenho filhos e todos tomaram, ninguém ficou doente, nós não contraímos autismo, e meus pacientes também não”, disse.
Ele disse que, no Brasil, não existe uma obrigação legal dos pais para vacinar seus filhos e também explicou que esta prática, de não vacinar, é mais comum em classes mais altas, que não dependem do serviço público de saúde.
“Não existe nenhuma lei nem punição para quem não vacina, mas toda criança que vem na unidade a gente vê o cartão de vacina, e os agentes que fazem visitas nas casas também olham, e quando vemos que está atrasado nós cobramos, então quem utiliza os nossos serviços é difícil ficar sem vacinar. Você pode ver que a maioria destes pais que não vacinam seus filhos, normalmente, não frequentam o serviço público”, afirmou.
O médico explicou que o desenvolvimento das vacinas é feito baseado em muitos estudos e que até mesmo na hora da aplicação da vacina o processo é feito com muito cuidado.
“Toda vez que vai ser lançado um produto, têm estudos. Ninguém lança vacina de um dia para a noite, isso são anos fazendo e avaliando a relação do risco e do benefício. Em todas as vacinas você toma algumas precauções. Também na sala de vacina, o técnico que irá aplicar já está preparado para perguntar, para fazer uma triagem pra saber se a pessoa tem alguma contraindicação, alguma alergia a um ingrediente da vacina ou se não está com imunidade boa, pra saber se pode ou não ser vacinado”, explicou.
Fernando Silva diz que é arriscado não vacinar os filhos, já que além de colocar a própria criança em risco, também oferece perigo às pessoas em volta.
“Eu acredito que os pais têm o direito de decidir aquilo que eles julgam melhor para os filhos, porém não podem ser negligentes. E se seu filho ficar doente lá na frente? Você tem sua parcela de culpa. E isto também é perigoso porque se chega alguém doente em um lugar onde muita gente não está imune, começa a disseminar de forma rápida entre eles”, afirmou.
Algumas doenças já foram erradicadas no Brasil, graças à vacinação, como foi o caso da poliomielite e da varíola.
O Ministério da Saúde trabalha neste sentido. O órgão possui o Plano Nacional de Imunização (PNI), que oferece vacinas gratuitamente pela rede pública.
O médico afirmou que o papel dos servidores da saúde é este: garantir a saúde da população, sendo que a vacinação é uma ferramenta poderosa nesta ação.
“Nós aqui nas unidades de saúde, trabalhamos com prevenção de doenças e promoção de saúde. Minha recomendação aos pais é para levarem seus filhos à unidade de saúde mais próxima, manterem o calendário vacinal de seus filhos em dia, porque vacina é igual a saúde, e não há nenhum bem maior do que a saúde de nossos filhos”, disse.