As fornecedoras esperam ampliar as vendas de forma gradual com fábricas de alimentos e bebidas voltando a investir de olho na recuperação do mercado interno nos próximos meses
São Paulo – As fabricantes de máquinas e equipamentos esperam ampliar gradativamente as vendas para o setor de alimentos e bebidas a partir do segundo semestre, segundo os executivos entrevistados pelo DCI.
A expectativa de melhora na demanda por produtos de necessidade básica já começa a se traduzir em um aumento das consultas e compras de novos equipamentos.
"Esperamos uma retomada. Já atingimos o patamar inferior que deveríamos atingir e devemos ter alguma recuperação, talvez lenta e gradual, mas que continua até 2018", afirma o gerente de produtos pneumáticos, eletrônicos e de processos da Festo, Osvaldo Tomio Sato.
Ele chama a atenção para a concentração dos aportes ainda vindos das companhias de capital externo. "Pela informação que temos do mercado alimentício, a maior parte dos investimentos é feito pelas multinacionais. É triste, porque as nacionais deveriam investir, mas sabemos a situação recessiva acabou prejudicando todos", comenta o gerente da Festo.
Segundo ele, o desempenho da companhia de automação no primeiro trimestre foi positivo e se os negócios mantivessem esse ritmo as vendas cresceriam neste ano, mas o comportamento dos meses seguintes não tem sido tão bom. "Para o ano todo, ficar no mesmo patamar do ano passado é a melhor situação [possível]", diz ele.
A fabricante de portas industriais Rayflex, por outro lado, espera um avanço dos aportes do setor ainda em 2017. "Alguns setores já começaram a mostrar uma melhora, principalmente no segmento alimentício – com processamento de alimentos e bebidas -, temos alguns projetos grandes acontecendo, em comparação a 2014 a velocidade é menor, mas acreditamos que o segundo semestre de 2017 vai ser melhor que 2016", conta a diretora da Rayflex, Giordânia Ribeiro.
A executiva projeta um aumento de 9% no faturamento este ano, com a maior parte da carteira de clientes no setor alimentício. "Em momentos de crise econômica [esse] é um segmento que nunca para de investir", avalia Giordânia.
Já a Thyssenkrupp está apostando na venda de uma máquina de processamento em alta pressão. "Para alimentos do tipo integral, com as características de cor e aroma específicas, esse processo mantém as características inalteradas sem adição de produto químico", explica o gerente de desenvolvimento de negócios da Thyssenkrupp Industrial Solutions, Luiz Mello.
Ele ressalta que essa tecnologia oferecida pela companhia, atualmente, não atende produções em grande escala, mas mercados de nicho, por não ser um processo contínuo.
"Há uma crença de que a demanda vai voltar. O mercado brasileiro, principalmente para alimentos, é muito grande. Por mais que tenhamos uma crise, é inevitável algum crescimento daqui para frente", avalia ele, baseado na expectativa de mercado.
Apesar de ser uma máquina importada, Mello acredita que o risco cambial de um investimento como esse é compensado pela taxa de juros baixa encontrada pelos clientes em programas de financiamento à exportação da Europa.
Bebidas
A cadeia de embalagens também espera o retorno dos investimentos a partir da segunda metade do ano. A fabricante de embalagens longa vida SIG Combibloc já identificou um aumento no mercado de lácteos, enquanto bebidas como sucos prontos perdem vendas.
"Enquanto em lácteos percebemos sinais de recuperação, temos o mercado de sucos sofrendo bastante. Porque em leite, quando o consumidor migra vai [do flavorizado] para o leite longa vida. Em sucos, o pronto para beber é o item mais premium, então ele migra para o suco concentrado, em pó e a própria fruta", conta a diretora de Marketing da SIG Combibloc Américas, Luciana de Paula Galvão.
Ela prevê estabilidade no segmento de bebidas em embalagem longa vida neste ano, com um "crescimento marginal de 0,5% a 1% em lácteos" na comparação com 2016.
"Nesse momento em que estamos mais recessivos, todo mundo vai buscar otimização operacional. Começamos a ter uma procura maior de projetos por empresas que estão buscando isso, mas também temos casos de quem está se organizando para expandir capacidade", revela Luciana.
Como o mercado de leites no Brasil ainda é muito regional, observa a executiva, para as fabricantes apresentarem expansão no segmento lácteos será necessário investir na expansão geográfica.
"E com a estrutura tributária atual, para crescer muitas vezes a empresa precisa investir em uma fábrica em outra região. Já vimos alguns players investindo em expansão geográfica, mesmo com a crise", acrescenta a diretora da SIG.
Jéssica Kruckenfellner