Nestlé apoia produção de leite orgânico em SP
Empresa pretende ampliar a participação no segmento por meio de parcerias com pecuaristas que incluem pagamento de bônus, apoio na aquisição de insumos e na certificação de fazendas
São Paulo – A Nestlé pretende adquirir de 20 mil a 30 mil litros de leite orgânico por dia até 2019. A empresa capta hoje 1,7 bilhão de litros por ano, ou 4,8 milhões litros por dia, dos quais apenas 16 mil são orgânicos.
O volume ainda não é suficiente para que a empresa tenha um produto elaborado apenas com leite orgânico, mas denota o interesse da empresa no segmento.
De acordo com a gerente de Desenvolvimento de Qualidade e Fornecedores da Nestlé Brasil, Taissara Martins, a meta será atingida por meio de parcerias já firmadas com 18 produtores do interior de São Paulo e com outras 30 propriedades interessadas em mudar a forma de produção.
"Deste total, apenas uma propriedade fez a transição completa para a produção orgânica e as demais estão em processo de conversão de pasto e dos animais", afirma.
É considerado orgânico o leite produzido por animais que não recebem insumos químicos, como medicamentos, por exemplo, e que se alimentam de pastagem ou grãos que não recebem agroquímicos, entre outras exigências.
A busca de parceiros para o fornecimento do produto começou este ano e tem no pagamento de um bônus um dos principais atrativos. O preço médio pago pelo litro de leite, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), foi de R$ 1,2343 por litro em julho. Além disso, a companhia firma contratos de 36 meses com os produtores e paga o preço do leite orgânico desde o começo do processo de conversão como forma de estímulo.
A empresa também auxilia na aquisição de ração orgânica e arca com os custos da certificação orgânica e subsídio parcial para assistência técnica.
A companhia justifica o interesse no segmento por se tratar de um mercado que, como um todo, cresce 30%, conforme dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). "Acreditamos que o consumidor brasileiro está mais atento a informado sobre as novas tendências de consumo, como é o caso dos produtos orgânicos", observa Taissara Martins,.
Ajustes
Na fazenda Recanto SS, de Claudinei Saldanha Júnior, em Itirapina (SP) o processo de conversão para a produção orgânica teve início em 2013. Ele é o único dos parceiros da Nestlé a concluir todas as etapas e mantém um rebanho de 42 vacas, das quais 37 em lactação, e produz 620 litros por dia.
"Atingimos hoje a mesma média que tínhamos antes de a produção de se tornar orgânica", comenta. "Mas tivemos quedas ao longo do processo até nos acostumarmos com as mudanças", reconhece ele.
O primeiro passo foi deixar de usar produtos químicos no solo, como herbicidas e fertilizantes, na produção de milho e de cana-de-açúcar, cultivados para a produção de silagem, e na pastagem.
Essa primeira etapa leva um ano e é seguida pela substituição dos medicamentos aplicados no rebanho por produtos de homeopatia, que leva seis meses. "Os carrapatos, por exemplo, sempre foram um problema para nós", afirma o produtor. "No processo de transição para o novo sistema chegamos a perder 10% do rebanho para os carrapatos. Mas acredito que o sistema orgânico é muito mais eficaz nesse sentido." Concluídas essas fases, foi feita a certificação da propriedade.
Júnior planeja ampliar a área de pastagem especialmente devido à remuneração maior obtida por litro. "Recebemos 50% em cima do valor do Cepea", conta. Ele pretende adquirir outros cinco hectares nos quais manterá o mesmo sistema de produção. Ele mantém sete hectares de pastagem irrigada e em sistema de rotação. "Estamos segurando nosso estoque de novilhas para produzir 1,1 mil litros por dia nos próximos dois anos", estima o produtor.
Marcela Caetano