Biscoitos Zezé dribla a crise com orçamento conservador
Adriana Lampert
A palavra cautela resume bem a postura financeira adotada pela diretoria da fabricante de massas e bolachas Biscoitos Zezé, que completará 30 anos de mercado em 2018. Contando com uma rentabilidade maior do que a média do setor, a empresa familiar se manteve enxuta mesmo no períodos de maior crescimento – primeiro no início da década de 2000 e, depois, em 2013, quando o ritmo de trabalho foi intensificado pelo bom desempenho nos negócios.
"Quando a economia vai bem, evitamos criar muitos cargos novos – procedimento comum quando as empresas começam a aumentar o faturamento -, justamente para nos reguardarmos de problemas futuros, no caso de ocorrer uma crise como a que o País vive atualmente", comenta o diretor de Planejamento da Biscoitos Zezé, Fábio Langlois.
Casado, pai de um menino de cinco anos, Langlois tem 39 anos e trabalha na empresa desde 2001. Formado em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), fez pós-graduação em Gestão Empresarial na Fundação Getulio Vargas (FGV), e, paralelamente à atividade na empresa, administra com o pai, José Ruivo, negócios com pecuária de corte, no município de Capão do Leão.
Empresas & Negócios – Qual tem sido o maior desafio de gestão na Biscoitos Zezé?
Fábio Langlois – Manter cumplicidade, competência, profissionalismo e respeito que a geração anterior à minha gestão estabeleceu nas últimas décadas. Meu pai e meus tios sempre preservaram esses valores e obtiveram o sucesso financeiro apostando em um perfil mais moderado e conservador. Além disso, a valorização dos funcionários, não só com treinamentos, mas com relacionamento pessoal, sempre fez a diferença. Desde pequeno, assisti a meu pai passar o dia na fábrica e ter relações diretas com os colaboradores, criando vínculos, inclusive. Procuramos empregar as famílias da vizinhança, conhecer quem são, de onde vêm. É um valor que ajuda muito na relação. E um orgulho nosso é ter funcionários com mais de 30 anos de empresa, sendo que dois deles estão conosco desde a fundação da fábrica. Já no que se refere a desafios como empresa, o fato de estarmos localizados no Extremo Sul do Estado (Pelotas) torna nossa logística um ponto a ser enfrentado. Com a Lei nº 13.103/2015, que controla a jornada de trabalho de motoristas, o rendimento e a produtividade na entrega caiu na ordem de 15% a 20%, pois exige paradas no percurso a cada quatro horas.
Empresas & Negócios – Como a empresa está situada no mercado? A crise afetou as vendas?
Langlois – Vínhamos crescendo muito, com um ritmo bom, trabalhando em tempo integral. Desde os anos 2000, o crescimento no mercado foi bastante significativo. Há quatro anos, implementamos uma linha de produção de biscoitos nova – na época, tínhamos três fornos e compramos mais um, com capacidade maior. Foi um investimento de R$ 8 milhões. Com a crise, as vendas não caíram, mas também não conseguimos crescer muito.
Empresas & Negócios – Em quanto ficou o faturamento da empresa no ano passado?
Langlois – Nosso faturamento gira em torno de R$ 70 milhões, sendo que a linha de biscoitos é o carro-chefe das vendas, representando 85% deste valor.
Empresas & Negócios – Qual foi a estratégia adotada para que a crise não prejudicasse ainda mais os negócios, considerando que o crescimento caiu?
Langlois – O que nos garantiu driblar a crise foi o fato de a empresa nunca se aventurar financeiramente, e de sempre investirmos com os "pés no chão". Sempre fomos conservadores. Até usamos recursos de crédito, quando houve oferta no mercado, mas muito aquém do que poderíamos ter optado. Esse foi nosso diferencial frente a outras muitas empresas, que se endividaram facilmente, indo atrás de crédito com juros baixos, acreditando em um potencial de mercado que não correspondeu. Considerando esse contexto, ficamos felizes com nosso resultado em 2016. Claro que, para obter o faturamento recente, seguramos investimentos, reduzimos despesas e, infelizmente, deixamos de gerar novos empregos.
Empresas & Negócios – Qual é o plano para os próximos dois anos, período que, segundo previsões de especialistas, a economia deve aquecer novamente?
Langlois – A ideia agora é substituir uma das linhas de biscoitos, incorporando tecnologia nova, pensando na melhoria da qualidade do produto e aumento da capacidade de produção. Até porque, neste ano, nosso saldo dos primeiros quatro meses foi muito bom, e realmente estamos com cenário otimista pela frente.
Empresas & Negócios – O mercado de biscoitos é bastante concorrido; há muitas marcas disponíveis e o produto não é considerado básico na alimentação. Qual é estratégia para se manter em evidência nas gôndolas?
Langlois – O mercado do biscoitos sempre teve marcas regionais com alguma força, com fábricas de porte, importantes. Nesta briga de mercado, concorrer com os grandes – a exemplo de duas indústrias que temos no Estado, com capacidade instalada e possibilidade de investir – exige um diferencial. E o que nos permitiu alavancar é termos um produto um pouco diferente. O biscoito folhado e o biscoito doce são produtos que fábricas maiores não costumam trabalhar, porque precisa de dedicação. No nosso caso, essa dedicação vem de família. Já as maiores não têm interesse em investir nessas linhas, porque se tornam inviáveis economicamente. Seria difícil de automatizar todo o processo, porque isso envolve mão de obra e controle de produção, o que não faz parte, muitas vezes do perfil de empresas grandes. Então, esse é o nosso diferencial: conseguimos industrializar um produto artesanal. E temos outros biscoitos que caíram no gosto do consumidor, como o salgado, que tem formato, fórmula e gramatura diferente dos tradicionais.
Empresas & Negócios – Qual é o volume da produção?
Langlois – Fabricamos 500 toneladas de biscoitos por mês. Estamos sempre dentro da fábrica, supervisionando, em cima do processo. A diretoria fica totalmente inserida no contexto da produção de alimentos. Em breve, iremos lançar dois produtos novos e aumentar esta capacidade de produção.
Empresas & Negócios – Com maior volume, a meta de crescimento aumenta. Quanto será investido neste projeto?
Langlois – Nossa unidade fabril tem 13 mil metros de área e atuamos com 280 colaboradores diretos. Por enquanto, nossa distribuição permanece como está: em cidades da região Sul do País e com uma parcela pequena exportada para o Uruguai e o Paraguai. Mas, com o lançamento desses dois novos produtos e aumento da capacidade de produção, a meta é aumentar o faturamento, sim, para mais de 10% do atual. O investimento em uma linha de produção mais moderna e com maior capacidade será em torno de R$ 10 milhões, e deverá ocorrer até 2019.
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