Expectativa de venda estável acirra disputa entre cervejarias

Segundo fontes do setor, a principal chance de expansão em 2017 continuará a ser ‘roubar’o cliente das rivais

Fernando Scheller, O Estado de S. Paulo

26 Junho 2017 | 05h00

Embora a Ambev tenha conseguido voltar a ampliar suas vendas em 2017, isso não quer dizer que o mercado de bebidas como um todo esteja em um caminho de recuperação, depois de dois anos de queda na produção, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil).

Diante de uma economia que ainda ensaia uma recuperação depois de forte recuo em 2015 e 2016, a expectativa de fontes do setor é que a disputa das cervejarias continue a se dar no fator preço, sem expansão do volume. Segundo uma fonte do setor, o ano de 2017 será marcado pelas cervejarias tentando, mais do que nunca, “roubar” o mercado das rivais.

Uma empresa que pode enfrentar desafios para proteger sua participação de mercado é a Heineken, que terá de “digerir” a aquisição da Kirin. Apesar de a empresa ter pago só um terço do que os japoneses desembolsaram seis anos atrás por ativos que incluem 12 fábricas e várias marcas – entre elas Schin, Glacial, Devassa, BadenBaden e Eisenbahn –, o negócio vem recheado de problemas a serem resolvidos, segundo analistas ouvidos pelo Estado.

Um dos principais desafios da Heineken, segundo Gabriel Vaz de Lima, analista do Bradesco BBI, é a distribuição. Depois de atuar com uma parceria de distribuição com a Coca-Cola, a Heineken anunciou que deve passar a usar a estrutura terceirizada que herdou da Kirin. Essa questão, explica Vaz, dá vantagem para a Ambev e a Petrópolis (dona da Itaipava), que têm distribuição própria. “O Brasil tem uma logística complexa. Por isso, a distribuição própria é um dos principais diferenciais competitivos que uma companhia de bens de consumo do Brasil pode ter”, afirma. “Isso não é verdade só no setor de bebidas. É uma vantagem que também beneficia companhias como BRF, M. Dias Branco e Souza Cruz.”

Marcas. Para se “segurar” no período de crise, o presidente da Ambev, Bernardo Paiva, diz que a companhia continuou a investir nas marcas de maior volume, mesmo em um cenário de crise, como o de 2016.

A Ambev deu um “banho de loja” nos rótulos e nas embalagens da Skol e da Brahma. “A gente podia deixar isso para depois, mas certos investimentos não podem esperar”, explica o executivo. “Na crise, é preciso colocar a nossa melhor roupa. É esse tipo de mentalidade que reflete a cultura da Ambev de pensar o longo prazo.”

Do lado do marketing, a Ambev também tenta ampliar as ocasiões de consumo do produto, agregando novas marcas ao portfólio. Além de trabalhar seus rótulos de massa em grandes eventos, a companhia abriu quatro bares em São Paulo voltados a marcas artesanais.

Outra preocupação é a gestão do principal ingrediente da cerveja: a água. A companhia vem definindo metas de economia. Para 2017, o objetivo era que a produção de 1 litro de bebida utilizasse, no máximo, 3,2 litros de água. Ao fim de 2016, o consumo já estava em 3,04 litros.

“O Brasil tem uma logística complexa. A distribuição própria é um dos principais diferenciais competitivos de uma companhia de bens de consumo.”

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