Unicamp prova que droga chinesa é fraca
Publicado 12/07/2017 – 20h15 – Atualizado 12/07/2017 – 20h50
Por Rafaela Ferreira
A equipe de pesquisadores do Centro Infantil Boldrini, acaba de concluir um novo teste com o medicamento chinês LeugiNase, que tem sido distribuído pelo Ministério da Saúde para hospitais brasileiros que tratam a leucemia linfoide aguda (LLA). As análises foram realizadas em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e apontaram que o produto chinês tem três vezes menor biodisponibilidade quando comparado à Aginasa, medicamento fabricado pela empresa japonesa Kyowa Hakko Kirin Co. Ltda, em parceria com o laboratório Medac, estabelecido na Alemanha, que já estava sendo utilizada no tratamento do câncer no Brasil há pelo menos quatro anos com taxas de sobrevida livre da doença em cinco anos, em patamares ao redor de 80%.
“No tubo de ensaio, a Leuginase e Aginasa apresentavam atividade semelhante, mas quando testado in vivo, a Leuginase mostrou-se no mínimo três vezes inferior. Primeiro comprovou-se grande quantidade de impurezas, depois que as impurezas interferiam com a ação dos antibióticos, desta vez que a LeugiNase tem menor atividade e, portanto, certamente menor eficácia. São três defeitos que depõe veementemente contra a segurança e a eficácia do medicamento”, afirma Andres Yunes, pesquisador do Centro Infantil Boldrini.
O médico explicou ainda que os testes in vivo foram realizados em camundongos, análise que mais se aproxima da realizada em seres humanos, já que é feita de forma injetável na corrente sanguínea. “Esse é um procedimento simples e que pode ser replicado para comprovação”, disse o pesquisador.
No início deste ano o Ministério da Saúde passou a importar e distribuir para os hospitais brasileiros que tratam a leucemia linfoide aguda o medicamento LeugiNase, produzido pelo laboratório Beijing SL Pharmaceutical, representado pela empresa Xetley S.A.
A importação do despertou preocupação entre especialistas, uma vez que o medicamento não tem eficácia comprovada por estudos clínicos publicados em revistas técnico-científicas indexadas e não teve seus estudos sobre toxicidades devidamente apresentados.
A LeugiNase é registrada na China em estudos pré-clínicos realizados somente em animais, mas não é comercializada no próprio país. O Centro Infantil Boldrini se posicionou contra esta importação desde começo das discussões. “Já tínhamos pedido em março que o Ministério Público fizesse os testes in vivo e sugerimos inclusive quatro laboratórios autorizados pela Anvisa. Não temos essa responsabilidade, mas precisávamos confirmar, mais uma vez, que a medicação chinesa é ineficaz, já que eficácia é a destruição de células malígnas e não efeitos colaterais. Sugerimos mais uma vez a suspensão a compra da medicação”, afirmou a presidente do Boldrini, Sílvia Brandalise.
Ministério Público
O Centro Boldrini revelou preocupação após o anúncio do Ministério da Saúde, de que será feita uma nova concorrência para compra do medicamento usado no combate à doença, utilizando o critério do menor preço.
A nota publicada pelo Ministério da Saúde nesta segunda-feira esclarece que vai seguir a orientação do Ministério Público Federal (MPF) de abrir uma nova concorrência, mas afirma que, entre os produtos com as mesmas qualificações, será considerado o menor preço, assim como foi feito na oferta da Leuginase.
Sílvia afirmou que existe o risco de ser adquirido outro medicamento sem comprovação de eficácia. “Medicina não é balcão de negócio. Utilizar o critério do menor preço é muito delicado porque é a criança brasileira que será prejudicada. Esse é um erro crasso e ilógico. Eles falarem em mesmas qualificações já é um avanço, mas se eles usarem o mesmo processo da Leuginase, o medicamento comprado também pode não ter comprovação de eficácia”, disse. “Toxidade também vem antes da economia. Menor preço é a última variável e não a primeira. Fica claro assim, que não existe interesse na qualidade”, completou.
Em junho, o hospital de Campinas recebeu os 500 frascos da asparaginase alemã, que era usada anteriormente antes do Ministério da Saúde trocar a importação. O Boldrini decidiu importar os frascos por conta para garantir o tratamento das crianças. Os lotes devem durar até setembro. Depois disso, a presidente vai importar outras amostras do produto para garantir a manutenção do estoque.
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