Terreno fértil para alimentos orgânicos

Em Porto Alegre, 39% da população inclui produtos sem químicos. Índice é o maior entre as capitais

Em parques, praças, escolas e até nos shoppings. Pioneira no país nas discussões sobre meio ambiente, Porto Alegre vive uma expansão acelerada de feiras agroecológicas. Levantamento feito pela reportagem identificou pelo menos 14 espaços de comercialização de alimentos orgânicos na Capital, a maior parte surgida nos últimos dois anos. O fenômeno também vem sendo observado pelo interior do Estado, onde existem cerca de 90 feiras ecológicas, conforme pesquisa feita pela Comissão da Produção Orgânica do Estado do Rio Grande do Sul (CPOrg-RS).

Três décadas depois da primeira iniciativa do gênero, a Tupambaé – Feira Ecológica, precursora da Feira dos Agricultores Ecologistas (FAE), o terreno está mais fértil do que nunca. Como uma área de transição que fica em repouso para desintoxicação. Isso porque o Brasil tem registrado nos últimos anos uma das maiores taxas mundiais de crescimento de consumo de alimentos cultivados sem o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos.

De acordo com o diretor-executivo do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), Ming Liu, o mercado brasileiro deve continuar aquecido. Estimativas da entidade indicam crescimento entre 20% e 25% ao ano até 2020, impulsionado pela crescente preocupação com saúde e ambiente. Nos Estados Unidos, maior consumidor mundial, esse índice é de 11% ao ano, mesmo 15 anos após a regulamentação. Atualmente, oito em cada 10 famílias americanas consomem orgânicos.

Por aqui, ainda há vasta fatia de mercado a ser conquistada. A primeira pesquisa nacional de consumo, feita pela Organis e divulgada no mês passado, mostra que 15% da população urbana brasileira inclui alimentos orgânicos na sua dieta. A maior procura por este tipo de produto (34%) está na Região Sul, que ultrapassa o dobro do consumo nacional. Das nove capitais pesquisadas, Porto Alegre é que apresenta o maior percentual: 39%.

SUPER E FEIRA LIDERAM VENDAS

O levantamento também aponta que supermercados e feiras são os principais locais de compra desses produtos, mas formas alternativas, como grupos de compras coletivas, vêm conquistando espaço. Falta de preços acessíveis e de lugares próximos são apontados como os principais limitadores para aumentar as compras. O faturamento do setor no país é estimado em R$ 3 bilhões, um número, no entanto, tido como conservador.

– Esse consumo não é moda. É uma tendência que veio para ficar, de mudança de hábitos do consumidor, que busca produtos mais seguros e saudáveis – avalia Liu.

Na esteira da alta na demanda, a produção de alimentos orgânicos também vem crescendo. Dados do Ministério da Agricultura indicam aumento de 88,5% nos últimos cinco anos na área cultivada no país, que passou de 603,2 mil hectares em 2013 para 1,13 milhão de hectares neste ano (veja quadro na página 5). O número de produtores mais que dobrou no período, de 6,7 mil para 15 mil. Por enquanto, não há dados sobre a produção no Rio Grande do Sul – a Emater deve realizar levantamento neste mês e divulgá-lo em agosto.

Segundo Ari Uriartt, assistente técnico estadual da Emater na área de agroecologia e produção orgânica, a expectativa é de que a curva – tanto do consumo quanto da produção de orgânicos – continue em ascensão.

– Existe muita preocupação com a segurança dos alimentos e há um movimento de resgate da identidade alimentar e cultural. As pessoas estão redescobrindo o prazer de cozinhar, de experimentar receitas. Vão buscar alimentos na feira, mas encontram muito mais do que isso. É um processo de reeducação do ponto de vista alimentar.

cleidi.pereira@zerohora.com.br
CLEIDI PEREIRA

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