Mercado das cervejas artesanais triplicou em Santa Catarina 

14/07/2017- 19h32min  –  Atualizada em 14/07/2017- 19h33min

Por
Luan Martendal

O número de cervejarias catarinenses triplicou entre os anos de 2013 e 2016, conforme aponta um levantamento feito pela Associação das Microcervejarias Artesanais de Santa Catarina (Acasc). No período, foram abertos 28 novos negócios e os investimentos no segmento chegaram a R$ 22 milhões no ano passado.

Mercado de cervejas artesanais ganha espaço em Joinville

A pesquisa ouviu 42 marcas estaduais. Destas, 35 são fabricantes, seis terceirizam a produção e uma é brewpub, bar que fabrica os próprios rótulos. Juntas, elas são responsáveis por mais de 300 qualidades diferentes de cerveja e ajudaram a produzir, no ano passado, mais de um milhão de litros de cerveja artesanal ao mês.

O presidente da Acasc, Carlo Lapolli, estima que as companhias estaduais mantenham investimentos anuais no patamar de R$ 20 milhões, em 2017 e 2018. A expectativa é de que pelo menos outras dez microcervejarias sejam criadas em um curto espaço de tempo no Estado.

Esse fomento, segundo ele, torna ainda mais perceptível ao consumidor o crescimento das cervejas artesanais em supermercados, lojas e restaurantes.– A história da cerveja em Santa Catarina vem de uma herança cultural muito forte e passa por um renascimento.

O público está migrando da cerveja industrializada para a artesanal em busca novas experiências, sabores e qualidades. É um mercado que tem tido uma acessibilidade maior tanto na região, como em Joinville, onde há empresas que estão com preços menores, contribuindo para a popularização do setor – salienta.

A importância histórica da região Norte catarinense e a ampliação do mercado regional, segundo Lapolli, devem resultar no aumento da presença das cervejarias locais entre as associadas à Acasc. Atualmente, Joinville conta com apenas uma empresa entre as cerca de 40 associadas à Acasc: a Opa Bier. Outras duas microcervejarias, Königs Bier e Cervejaria Karsten, são de Jaraguá do Sul.No Brasil, a ampliação do segmento da bebida artesanal também rende resultados satisfatórios.

Dados da Escola Superior de Cerveja e Malte mostram que, em 2016, o número de cervejarias cresceu 39,6%, quando houve a criação de 148 novas empresas no País. No ano, foram produzidos 13,8 bilhões de litros de nove mil rótulos.

Incentivo tributário

Considerada distante por parte dos consumidores devido ao preço, mais alto que o dos rótulos populares, as cervejas artesanais ainda esbarram nos elevados custos dos impostos. O peso disso, segundo especialistas, recai sobre o valor final do produto.

Uma possibilidade de diminuir essa diferença e potencializar a produção das microcervejarias já existentes, além de ampliar a participação delas no mercado está na redução da carga tributária. Sancionado no ano passado, o projeto de lei complementar do Simples Nacional 25/2007, denominado Crescer sem Medo, deve permitir, a partir do ano que vem, que as micro e pequenas empresas cervejeiras, alambiques e vinícolas entrem no Simples.

Com a medida, os produtores cervejeiros esperam uma desburocratização e tratamento diferenciado na cobrança de impostos perante as grandes indústrias. Com a possibilidade, devem surgir também novos empreendedores e o fortalecimento das produções artesanais que já estão em operação.

Setor amplia participação comercial na região

O crescimento na produção própria de cerveja é observada pela venda dos insumos utilizados para a fabricação do produto. Um dos exemplos vem da Master Brau Soluções para Cervejas, de propriedade de Dorval.

Aberta em 2009, a loja é pioneira na venda de insumos cervejeiros em Joinville e no Estado. Até o mês de julho, o estabelecimento registrou aumento de 80% no volume de vendas em um ano.

– Quando nós abrimos há oito anos, viemos para fomentar o mercado caseiro, que já estava em crescimento, mas era desconhecido. Naquela época, nós vendíamos por mês, em média, por mês, de 20 a 30 kg de malte no Estado. Hoje, somos parceiros de 30 lojas em Santa Catarina e atingimos, em junho, a marca de 22 toneladas do produto – exemplifica Dorval Campos Neto.

A nova demanda também parte dos próprios bares, pubs e lojas especializadas que atendem consumidores cada vez mais exigentes e em busca de cervejas diferentes e com mais qualidade. A tendência de alta é sentida por Alexandre Setter, sócio da Zeit Cervejaria.

O empresário começou a produzir e comercializar cervejas artesanais em setembro de 2015 em meio à demanda cada vez maior de bares e restaurantes da cidade.

Em dois anos, a microcervejaria alcançou uma capacidade produtiva de 70 mil litros mensais ao investir em sete tanques de armazenamento e 12 estilos da bebida. No mesmo período, outras três mil garrafas foram vendidas direto para o consumidor final por meio de ¿torneiras de chope¿ disponíveis na sede da empresa, no Distrito Industrial.

Para Alexandre, o mercado deve continuar em expansão nos próximos anos ao demonstrar que ¿a demanda criada não foi afetada pela fase difícil da economia brasileira¿. Para manter a curva crescente, porém, é preciso cooperativismo entre os cervejeiros artesanais e a manutenção de um padrão de qualidade desses produtos frente às marcas populares.

– A gente quer fazer com que o cara que está comprando uma caixa de uma determinada cerveja popular possa conhecer e levar dois litros de uma garrafa de um chope muito bem-feito e puro, sem conservantes, por um preço que não é tão fora do que ele está imaginando. Nossa intenção é tirar esse consumidor da cultura de que beber é beber muito e beber barato. Nós [cervejeiros] seguimos a premissa americana do ¿beba menos, beba melhor¿, que é também um dos pilares da cultura cervejeira – aponta.

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