Farmácias nada cidadãs são teste de paciência para usuários no Estado
Usuários sofrem com a demora e com a falta de medicamentos
Conseguir remédios de alta complexidade é um desafio na vida de muitos capixabas. Principalmente os que dependem dos medicamentos distribuídos pelas Farmácias Cidadãs do Espírito Santo. Em algumas unidades, a espera por um medicamento – quando ele está disponível – chega perto de 4 horas de fila.
Aos 62 anos e com dificuldades de locomoção por conta de um problema no joelho esquerdo, Neuza Tesch Gomes enfrenta uma fila sem atendimento prioritário na unidade de Cariacica, que fica no Centro Regional de Especialidades (CRE) Metropolitano. Moradora do bairro São Francisco, no mesmo município, todo mês vai ao local para buscar os remédios para o marido, contra a asma, e para o filho, que realizou um transplante de rim.
“Todo mês é essa pendência. Mês passado voltei para casa às 14h sem almoço e sem nada. Há 12 anos venho buscar remédios aqui e é essa encrenca. Fico preocupada porque vai chegar um dia que não poderei voltar”, lamenta.
Os problemas relatados por Neuza são recorrentes. A GAZETA foi duas vezes à Farmácia Cidadã de Cariacica e a situação se repetia. A demanda é grande e o atendimento é demorado. A espera é, em média, de 3 horas e 30 minutos por usuário.
José Costa, 48 anos, acumula vários problemas de saúde por conta de anos de trabalho pesado. Os remédios de que precisa são caros e a família não tem condições de comprar. O eletricista aguardava com dores no corpo para ser atendido na unidade.
“Trabalhei por quatro anos à base de remédios, mas teve um dia que não consegui levantar da cama. A partir daí, descobri as doenças. É sofrido, porque não tenho dinheiro para comprar”, lamenta, recordando seu esforço para não passar por dificuldades financeiras.
Outros locais
As reclamações são as mesmas nas unidades de Vila Velha, Vitória e Serra. Em Vitória e Vila Velha, o espaço físico não comporta o público que recebe. Em horários de grande movimento, os usuários se espremem nos corredores e a espera também é grande.
O mecânico Gilson Luiz Cipriano, morador do bairro Nova Almeida, na Serra, trocou um dia de trabalho para poder ir à Farmácia Cidadã buscar seus remédios contra a depressão. Cipriano chegou às 8 horas da manhã na unidade da Serra e às 11h30 ainda não tinha sido atendido.
Em Vila Velha, um erro no laudo médico fez com que a professora Roseane Perim voltasse pela segunda vez para tentar dar entrada no processo dos medicamentos para a filha. “Reconheço que é um processo que deve ser feito para que os remédios sejam repassados para quem realmente precisa, mas esperei 10 dias para saber se o medicamento estava liberado e agora vou esperar mais”, critica.
Unidades vão mudar de local e ser expandidas
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) reconhece os problemas enfrentados pelos usuários das farmácias cidadãs. De acordo com a Gerente da Assistência Farmacêutica, Gabrieli Fernandes Freitas, foram realizados estudos em todas as unidades para melhorar o atendimento. Ela afirma que algumas medidas já estão sendo implementadas. Uma delas é a mudança de local das farmácias de Vitória e Vila Velha para espaços maiores.
“Sabemos que tem que haver uma melhora na estrutura. A Secretaria de Saúde já achou novos locais para as farmácias de Vitória e Vila Velha. Até o final do ano, pretendemos concretizar isso. Foi estudada também a possibilidade de contratação de novos funcionários”, anunciou Gabrieli.
Fila
Para dar fim às filas na triagem, momento em que é feita a primeira análise de documentos para a distribuição das senhas de atendimento, a gerente ressalta que a comunicação tem que ser ampla e por diversos meios. Isso porque alguns usuários podem tirar dúvidas sobre processos, saber se o medicamento está disponível e a data para retirada por telefone e pelo site.
“No momento temos telefonistas suficientes para atender as linhas o dia inteiro. Também disponibilizamos no site se o medicamento está disponível ou não. Essa lista é atualizada duas vezes por semana. O paciente vai à farmácia muitas vezes sem precisar”, afirma Gabrieli.
Outras propostas de melhorias já estão vigentes: o agendamento para a busca de remédios e a distribuição da quantidade necessária para três meses nos casos que não precisam de acompanhamento médico mensal. “De 300 itens, 40% é distribuído por três meses. Estamos presos aos protocolos do Ministério da Saúde. Tem pacientes que precisam de um acompanhamento mensal”, disse a gerente.
Esses serviços foram implementados há um mês. Gabrieli ressalta que os problemas são reflexo do aumento da demanda nos últimos anos, e que a equipe está em constante adequação para atender a população.
Saiba mais
Problemas recorrentes
Falta de medicamentos
Em maio, a TV Gazeta mostrou que alguns clientes voltavam para casa sem os remédios. Na época, a Sesa disse que eram problemas pontuais com os fornecedores do governo do Estado, responsáveis por 50% das entregas.
Longas filas
Em junho, a TV Gazeta voltou e mais uma vez encontrou filas nas farmácias da Grande Vitória. A Sesa disse que há projetos para melhorar o serviço e os espaços.
Espera
Sobre a dificuldade no atendimento, a Sesa informou que é devido ao aumento no número de pessoas que precisam dos medicamentos de alta complexidade.
Estrutura precária
Em horários de grande movimento, usuários ficam amontoados esperando atendimento pelos corredores das farmácias de Vila Velha e de Vitória.
Soluções prometidas
Novos espaços
A secretaria ressaltou que prepara novos espaços para as farmácias de Vila velha e Vitória. A expectativa é de que as duas funcionem em novos locais até o final do ano.
Agendamento
Para evitar filas, o atendimento está sendo feito através de agendamento em datas definidas.
Telefone
Foram disponibilizados dois telefones para atendimento que funcionam de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h: (27) 3636-8417 e 3636-8418. Outras informações, como os medicamentos disponíveis, podem ser conferidos no site: www.farmaciacidada.es.gov.br. A lista dos medicamentos em falta são atualizadas frequentemente.
Melhoria na distribuição
Pacientes que não necessitam de acompanhamento médico mensal recebem os remédios necessários para três meses, evitando idas constantes às farmácias.
Fornecedores
Com planejamento e diálogo com os fornecedores, a Sesa elevou o índice de medicamentos disponíveis para 98%.
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