Faltam medicamentos, leitos e aparelhos para tratar o AVC

Levantamento do Conselho Federal de Medicina mostra precariedade no atendimento do SUS

SÃO PAULO. Levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) com neurologistas do SUS de todo o país mostra que cerca de 57% dos médicos afirmam não contar, no serviço público, com mecanismos para triagem e identificação imediata de pacientes que sofreram acidente vascular cerebral (AVC).

Não há também, segundo 32%, acesso à tomografia em até 15 minutos. Hideraldo Cabeça, da câmara técnica de neurologia e neurocirurgia do CFM, diz que a tomografia e a triagem são importantes para diferenciação entre um AVC isquêmico – com interrupção do fluxo sanguíneo, quadro mais comum – e AVC hemorrágico – quando há rompimento dos vasos sanguíneos.

Sem essa identificação precisa, não há como aplicar o tratamento apropriado. “Dependemos do tempo para realizar o atendimento até 4h após o AVC. Quanto mais tempo se demora, menor a chance de o indivíduo se recuperar e mais pacientes ficam com sequelas”, diz.

Cerca de 53% dos médicos na pesquisa afirmam não contar com medicamentos trombolíticos, que promovem a desobstrução das artérias, para o tratamento imediato dos pacientes. Mais de 50% dessa população de médicos dizem que não era possível fazer o básico, diz Cabeça.

Para os neurologistas e neurocirurgiões consultados, em 87,9% dos hospitais públicos que acolhem pacientes em crise aguda de AVC faltam leitos de internação; e em 93% não há ressonância magnética disponível em até 15 minutos.

O grupo ainda relatou ausência de leitos de UTI/emergência para pacientes isquêmicos, que precisam usar trombolíticos em 63,6% dos serviços.

Os sinais de um AVC são falta de resposta e fraqueza repentina de um lado só do corpo, boca torta e dificuldades de fala. O CFM diz que o treinamento para clínicos gerais e emergencistas reconhecerem e saberem tratar um AVC é importante, tendo em visa que seria impossível haver neurologistas de plantão em todos os lugares.

Conhecido popularmente como derrame ou trombose, o AVC ocupa o segundo lugar no ranking de enfermidades que mais causam óbitos no Brasil, atrás apenas das doenças cardiovasculares.

Além de matar cerca de 100 mil brasileiros por ano, a condição também é uma das principais responsáveis por incapacitação de pessoas. O CFM entregará o levantamento ao governo federal. Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não se manifestou.

Minas
Protocolo é arma contra deficiências

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), Fábio Guerra, avalia que o maior problema dos hospitais públicos no atendimento às vítimas de AVC está na falta de equipamentos, de medicamentos e de preparo das equipes médicas.

O especialista explica o que é considerado um socorro adequado: “Assim que o paciente chega ao hospital, deve ser feito o exame de laboratório nos primeiros minutos, exame de imagem para detectar o tipo de AVC na primeira hora e o encaminhamento para o setor indicado até algumas horas depois”, diz o médico.

Guerra afirma que, embora a rede de atendimento em Minas Gerais tenha muito o que melhorar, ainda “corre na frente” em comparação ao restante do país. “Aqui, principalmente em Belo Horizonte, alguns hospitais já estão começando a se adequar ao protocolo definido pelo Ministério da Saúde para garantir um atendimento melhor às vítimas de AVC. Isso já está diminuindo o número de óbitos decorrentes da doença”, afirma o médico. (Thuany Motta)

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