Pacientes com HIV denunciam falta de medicamento na rede pública do DF
Lamivudina é combinada com outras duas drogas no coquetel contra o vírus. Ministério da Saúde nega desabastecimento; secretaria do DF admite falta, mas diz que 'situação já está normalizada'.
Por Marília Marques, G1 DF
01/08/2017 18h05
Pacientes que vivem com o vírus HIV no Distrito Federal denunciam a falta, há quase dois meses, do antirretroviral lamivudina, um dos medicamentos do coquetel para o tratamento da Aids. Ao G1, nesta terça-feira (1º), o Ministério da Saúde, responsável pelo fornecimento do remédio, negou o desabastecimento, mas pontuou que cabe aos estados “estabelecer um fluxo de distribuição”.
A Secretaria de Saúde do DF, reconhece que houve a falta do medicamento, mas afirma que “a situação já está normalizada”. Em nota, a pasta informou que a data prevista para entrega do antirretroviral era até 16 de junho, mas não deixou claro por quanto tempo esteve em falta.
Em contraponto ao que dizem a secretaria e o ministério, em entrevista ao G1, o presidente da ONG Amigos da Vida, Christiano Ramos – que atua no atendimento a pessoas com HIV – afirma que a lamivudina está em falta “há pelo menos dois meses” nos principais centros de referência da capital federal. "Dizem que é problema de logística", afirmou Ramos.
“É a primeira vez que vejo faltar coquetel no DF, isso é grave. É um remédio que não pode faltar, senão volta a ter a carga viral reativada e compromete a situação de saúde das pessoas.”
Um paciente de 35 anos, que prefere não se identificar, também diz que na última semana esteve no centro de referência ao tratamento de aids do Hospital Dia, em Brasília, para buscar o medicamento, mas voltou para casa sem uma previsão concreta de quando receberia.
“Eles não deram explicação e pediram para tentar na próxima semana”.
O assistente administrativo, que faz tratamento há dois anos, diz que sempre recebeu o remédio gratuitamente e, em caso de falta, não tem “a menor condição de pagar pela medicação."
Atualmente no DF, 8,4 mil pessoas fazem tratamento de combate à Aids na rede pública de saúde. A lamivudina faz parte da chamada “terapia antirretroviral de alta potência”, combinada com outros dois medicamentos.
O médico infectologista, José Davi Urdaez, explica que a droga é uma das substâncias mais utilizadas no tratamento por ser “menos tóxica ao organismo” e, que na falta dela, tem como ser substituída por outra, “mas não é o ideal”.
Urdaez alerta, no entanto, que não é recomendável reduzir o coquetel a apenas dois medicamentos, pois na falta de um dos compostos, “o vírus se torna mais resistente”.
HIV no DF
Mais de 12 mil pessoas são portadoras do vírus HIV no Distrito Federal, segundo dados da Secretaria de Saúde. Desse total, 70% recebe tratamento antirretroviral na rede pública de saúde. Ainda segundo os dados da pasta, o levantamento também demonstrou que, entre os anos de 2014 e 2015, os óbitos por AIDS reduziram em 11%. Nos últimos anos foram registrados, em média, 900 novos casos de HIV/Aids.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV, AIDS e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), em 2015, a maior quantidade de casos de HIV estava concentrada na população masculina, em especial, entre homens que fazem sexo com outros homens, inclusive os bissexuais.
No mesmo período, a média de notificação foi de sete ocorrências masculinas para uma feminina. As faixas etárias que mais apresentaram infecção por HIV foram de 20 a 34 anos e de 35 a 49 anos. Entre as regiões da capital que mais registraram novos casos, destacam-se Asa Norte, Águas Claras, Lago Norte, Taguatinga e Varjão.
Tratamento
Após o diagnóstico positivo de presença do vírus HIV, ao paciente é ofertado o tratamento com a ingestão de medicamentos antirretrovirais, fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Distrito Federal, sete unidades de saúde atendem pacientes que convivem com a doença:
Hospital Dia (Asa Sul)Farmácia Escola Hospital Universitário de Brasília (Asa Norte)Ambulatório de Ceilândia (Ceilândia)Unidade Básica de Saúde nº 5 (Gama)Unidade Básica de Saúde nº 1 (Planaltina)Unidade Básica de Saúde nº 1 (Sobradinho)Policlínica (Taguatinga)
Deixe uma resposta
Quer participar da discussão?Fique a vontade para contribuir!