Conceito de cerveja artesanal ainda divide opiniões no Brasil; entenda
Não há legislação para definir ou regulamentar produção no País; mestres cervejeiros alegam que critérios como matéria-prima, área de distribuição e tempo de preparo devem ser levados em conta.
Por Paula Ribeiro, G1 Campinas e região
01/08/2017 10h30
Segundo o dicionário, artesanal é aquilo que é feito à mão; sem recursos ou técnicas elaboradas ou industriais. Quando se fala de cerveja, uma definição aceita por boa parte dos produtores artesanais é aquela dada pelo sommelier de Campinas (SP) Maurício Beltramelli em seu site: “aquela cerveja bem cuidada, com produção restrita (não necessariamente pequena), que leva a produtos com resultados finais muito interessantes e diversificados."
O que define cerveja artesanal no Brasil, no entanto, ainda é um conceito muito primário. Por aqui, ainda não há legislação para definir ou regulamentar a produção da bebida.
No documento da Associação Brasileira das Microcervejarias (Abracerva), microcervejaria brasileira é a empresa com sede no Brasil, de capital predominantemente nacional (mais que 50%), detentora de registro de estabelecimento produtor junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, que produza as próprias marcas, ou marcas de terceiros sob encomenda, podendo ou não comercializar no próprio local e que produz até 100.000 (cem mil) hectolitros de cerveja anuais (um milhão de litros), ou seja, só é levado em conta o volume e a participação societária.
Para alguns mestres cervejeiros, esse conceito deixa muito a desejar. Em outros países, a matéria-prima, os ingredientes, a área de distribuição e o tempo de maturação são alguns dos critérios levados em conta, além de outros mais subjetivos.
Para Alfeu Júlio, mestre cervejeiro e engenheiro de alimentos, outros fatores deveriam ser levados em consideração como, por exemplo, o tempo de maturação, já que muitos produtores utilizam um acelerador do processo. Ele também é contra a filtragem e a pasteurização da cerveja dita artesanal.
“Acho que a cerveja deixa de ser artesanal se é filtrada, pasteurizada ou se aditivos são utilizados em sua fórmula. Alguns produtores utilizam estabilizador de espuma, acelerador de fermentação, etc., o que para mim sai do conceito de artesanal. Mas isso ainda é bem utópico”, lamenta.
Em países conhecidos pela tradição da cultura cervejeira como Alemanha e Bélgica, muda-se de cidade e se muda também a marca da cerveja porque os produtores prezam por atender a demanda local.
“Acho que a cerveja artesanal deveria ser vendida no máximo a 100 km de sua produção. Também acredito que o que deveria contar é se os produtores estão levando em conta o que cada estilo de cerveja exige para ser preparado. Por exemplo, não deveria existir uma cerveja lager preparada em menos de 40 dias, que é o tempo que ela demora para ficar pronta. Mas tem gente que faz em 25…”, compara Júlio.
Para Ladir Almada Neto, sócio-proprietário de uma microcervejaria de Campinas, o conceito de volume também não é o correto porque uma cervejaria pode crescer e manter seu conceito de produto artesanal, como muitas americanas, que não deixaram de priorizar a matéria-prima e a receita original. “O que não pode acontecer é mudar o conceito de cerveja para reduzir o custo”, define. “O conceito de cerveja artesanal é muito subjetivo”.
Deixe uma resposta
Quer participar da discussão?Fique a vontade para contribuir!