Farmacêuticas caçam pacientes em lugares remotos da Índia

03/08/2017 11h29

Ari Altstedter

(Bloomberg) — Primeiro as marcas de alimentos estrangeiras inundaram a Índia de salgadinhos, bolachas e refrigerantes que mudaram fundamentalmente os hábitos alimentares do país. Agora, as grandes empresas farmacêuticas querem lucrar com o aumento dos casos de diabetes e doenças cardíacas nos lugares mais afastados do país.

Empresas farmacêuticas internacionais como a Eli Lilly, que tem sede em Indianápolis, EUA, e a suíça Novartis estão chegando a cidades menores e às áreas rurais da Índia para aprender sobre as necessidades de saúde de cerca de 70 por cento da população. Essas regiões remotas do mundo em desenvolvimento são a nova fronteira da indústria internacional de medicamentos.

Na pequena cidade agrícola de Thana Kalan, nos arredores de Nova Délhi — onde os búfalos vagam por ruas estreitas e se sente levemente no ar o cheiro do esterco usado como combustível –, Ajit Singh nunca havia ouvido falar no diabetes. Até os trabalhadores de saúde comunitários aparecerem à sua porta e o alertarem que ele e sua esposa estavam sob alto risco.

Os Singh faziam parte de um programa gratuito de seleção porta a porta financiado pela Eli Lilly, uma das maiores fabricantes de medicamentos para o diabetes do mundo. Mesmo que eles comecem a usar apenas medicamentos genéricos baratos, a esperança é que eles se tornem mais propensos a optar por marcas mais caras à medida que suas rendas aumentarem. E se as grandes farmacêuticas conseguirem descobrir uma forma de atender esses pacientes e ao mesmo tempo conseguir um pequeno lucro, os números absolutos podem significar um enorme retorno no futuro.

"As empresas estão interessadas em assumir uma postura de longo prazo, em entender as características desses mercados e em se posicionar de uma forma que possa ajudá-las a capturar participação de mercado mais adiante", disse Sebastien Mazzuri, diretor da consultoria FSG, especializada em mercados farmacêuticos em desenvolvimento.

Os chineses gastaram US$ 116,7 bilhões em medicamentos em 2016, número que pode chegar a US$ 170 bilhões em 2021. A projeção é que o gasto na Índia crescerá a um ritmo ainda mais rápido — de US$ 17,4 bilhões para US$ 30 bilhões no mesmo período.

O programa piloto que analisou Singh é financiado pela Lilly e administrado pela Fundação de Saúde Pública da Índia (PHFI, na sigla em inglês), uma instituição sem fins lucrativos. O programa envia trabalhadores comunitários de saúde casa por casa para duas cidades indianas de médio porte e zonas rurais dos arredores com tablets programados para realizar testes de diabetes e hipertensão nas pessoas. Além disso, o programa amplia a conscientização sobre as doenças e está capacitando profissionais de saúde locais para diagnosticá-las e tratá-las melhor.

David Ricks, CEO da Lilly, afirma que esses programas representam uma oportunidade de negócio de longo prazo e permitem que a empresa tenha uma compreensão melhor dos desafios da medicina no mundo em desenvolvimento, como a refrigeração e a configuração da cadeia de abastecimento. "Executando esses pilotos podemos aprender e experimentar", afirma. "Nossos projetos estão trabalhando em todos esses ângulos para testar e manter, em ambientes difíceis, formas melhores de tratar o diabetes."
Estilo de vida

Ao mesmo tempo, a Merck & Co., a Índia Sun Pharmaceutical Industries e a GlaxoSmithKline estão financiando programas, também administrados pela PHFI, que treinam clínicos gerais para o tratamento de doenças similares, causadas por determinado estilo de vida, em pequenos centros urbanos indianos, onde é improvável que haja um especialista.
Desde 2007, a gigante suíça do setor de saúde Novartis implementa uma "iniciativa social com fins lucrativos" destinada a oferecer cuidados de saúde à zona rural da Índia, enviando médicos para pequenas cidades e distribuindo medicamentos acessíveis por meio das farmácias locais. A empresa afirma que o programa deixou de ser deficitário 30 meses após o lançamento e desde então foi expandido para o Quênia, a Indonésia e o Vietnã.

Esta é uma forma de "construir ecossistemas de saúde" que futuramente ajudarão a Novartis a crescer em segmentos de mercado inexplorados, disse Jawed Zia, presidente da Novartis Índia, em declaração enviada por e-mail. "Isso é, simplesmente, bom senso comercial."

(Atualizações com detalhes adicionais.)

–Com a colaboração de Jared S. Hopkins

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