Clopidogrel, um dos medicamentos mais prescritos para tratar doenças coronarianas, não funciona em 39% dos pacientes, revela pesquisa da USP
25 de agosto de 2017 Ray Santos
Tratamento é realizado por quase 1 milhão de pacientes no país, mas para saber se funciona realmente é preciso fazer um teste farmacogenético, obrigatório para a população submetida ao tratamento nos EUA. No Brasil, não há cobertura pública ou de planos de saúde e primeiro teste a preço acessível está sendo nacionalizado pela Life Diagnósticos
Estudo realizado para testar a eficácia de Clopidogrel, um dos genéricos mais utilizados para tratar doenças coronarianas, mostra que em 39% dos pacientes o medicamento não funciona como deveria. A pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto de Fisiologia da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Instituto de Ciência e Saúde do Estado de São Paulo e apoio da Life Diagnósticos, com 900 pacientes, a maioria havia se submetido à angioplastia com colocação de stent – dispositivo utilizado para desobstruir artérias e melhorar a circulação sanguínea.
Conforme Elia Ascer, professor de cardiofisiologia da USP e responsável pelo estudo, as instituições decidiram realizar a pesquisa diante da resposta negativa de muitos pacientes ao tratamento com Clopidogrel, incluindo complicações graves, como o desenvolvimento de tromboses. Nos pacientes submetidos ao estudo, foram realizados testes farmacogenéticos que avaliam a metabolização do medicamento pelo organismo.
O resultado surpreendeu a equipe de pesquisadores, segundo Ascer, ao apontar que 39 dos pacientes%, bem acima da média de estudos internacionais, metabolizavam muito lentamente ou tinham uma metabolização intermediária da substância. A fim de que os tratamentos fossem realmente eficazes nessa população, foi preciso alterar a dose de Clopidogrel ou mudar o medicamento, explica o professor da USP.
Testes farmacogenéticos
O teste farmacogenético analisa a resposta das pessoas aos tratamentos medicamentosos, ao detectar a existência ou não de variações no sistema enzimático responsável pela metabolização dos medicamentos, neste caso a enzima CYP2C9. Como Clopidogrel faz parte da classe de pró-drogas, o perfeito funcionamento dessa enzima é ainda mais fundamental porque os pró-fármacos, como também são denominados, precisam ser ativados por ela para que realmente se transformem em medicamentos.
Quando não há variações na enzima, o medicamento é absorvido de acordo com o que está prescrito na bula. Se existirem variações, elas podem deixar o metabolismo mais lento para a absorção da substância ou mais rápido, além de existir ainda uma alteração intermediária entre essas possibilidades. Quando a metabolização ocorre de forma lenta, pode acumular a substância no organismo, causando reações adversas medicamentosa, muitas delas graves, além de trombose nas artérias coronarianas, derrames e até a morte do paciente. Se a metabolização é muita rápida, o risco é de sangramentos.
Pesquisas mundiais apontam que cerca de 30% dos pacientes correm sérios riscos por conta de variações na atividade dessa enzima. As primeiras informações que deram conta deste desvio de padrão no funcionamento do produto saíram de um estudo de metanálise publicado pelo jornal da Associação Médica Americana (JAMA) em 2010, contabilizando nove pesquisas independentes com 10 mil pacientes analisados.
Obrigatório nos EUA
“Desde então, o FDA, órgão responsável pela vigilância sanitária nos Estados Unidos, determina que a bula desse tipo de medicamento deve orientar os médicos a recomendarem testes cardiogenéticos aos pacientes”, diz o médico Mario Grieco, presidente da Life Diagnósticos, que nacionalizou esse teste farmacogenético, antes realizado apenas em laboratórios fora do país e a um preço inacessível para a maioria dos brasileiros.
No caso dos pacientes com metabolização lenta, os estudos comprovaram que há absorção em média 32,4% menor do Clopidogrel apresentando risco aumentado de 53% de morte por eventos cardiovasculares e aumento de 3 vezes no risco de trombose para pacientes com stent, explica Grieco. Pacientes com metabolização ultrarrápida correm sérios riscos de sangramento após 30 dias de utilização do produto, complementa o médico.
Outro estudo, o Triton Timi 38, de 2009, randomizou 13.608 pacientes divididos entre os que receberam o Clopidogrel e o Prasugrel, constatando que o segundo medicamento reduz significativamente o número de eventos isquêmicos cardiovasculares. Dado o alto custo de Prasugrel em relação ao Clopidogrel, a realização do teste cardiogenético é recomendada nos Estados Unidos para triagem dos pacientes que utilizam o produto.
Case de sucesso
O Clopidogrel é um dos principais casos de sucesso do mercado de medicamentos genéricos. Desde que o produto referência, o Plavix (Sanofi), perdeu a patente, em 2006, o consumo da substância em volume cresceu 565% em 10 anos, de acordo com os dados IMS Health, que audita as vendas do setor farmacêutico. Indicado para prevenir a formação de coágulos em pacientes que tiveram Infarto do Miocárdio ou Acidente Vascular Cerebral recente, é um dos principais produtos em vendas de sua classe terapêutica.
No ano passado, foram comercializadas 4.901.504 milhões de unidades de Clopidogrel (caixinhas). Por ser tomado em uma dose diária, é possível aferir que 408.458 mil pacientes fizeram uso do produto em 2016 no país, segundo os dados do IMS Health, mas estima-se que essa população possa ser o dobro, uma vez que a empresa só computa as vendas em farmácias e não contabiliza, por exemplo, a distribuição pública da substância.
Questão de saúde pública
Enquanto quase 100% dos médicos norte-americanos recomendam o teste como forma de se precaver contra eventuais ações de indenização em caso de problemas futuros, no Brasil o teste ainda é pouco indicado. “Pelo fato de até então serem importados, eram pouco acessíveis para a maioria absoluta dos pacientes”, explica Grieco.
Com longa trajetória na indústria farmacêutica, tendo sido presidente da Bristol-Myers Squibb, entre outras multinacionais, Grieco estima que menos de 5% dos pacientes que usam Clopidogrel tenham realizado o procedimento no Brasil. Nos EUA, o teste faz parte faz parte do protocolo de atendimento de clínicas e hospitais.
“Apesar de conseguirmos realizar o teste no Brasil por um preço bem mais acessível do que o oferecido pelas importadoras, boa parte da população ainda sofre com o fato de que não é coberto pelo SUS e não está no Rol de Procedimentos da ANS, ou seja, também não é coberto pela maioria dos planos de saúde. Trata-se de uma pauta relevante do ponto de vista de saúde pública, considerando o número de pessoas que utilizam esse medicamento”, analisa Grieco.
O Cardio Gene, teste da Life Diagnósticos que analisa essa variação genética, custa aproximadamente R$ 500 e podem ser sugeridos pelos próprios médicos aos seus pacientes. Com objetivo de informar aos profissionais da saúde sobre a oferta dos testes “nacionalizados”, a empresa está realizando forte campanha voltada para cardiologistas. “O valor do teste, considerando que é feito uma vez apenas, é bastante razoável. Porém, o mais importante é que ele salva vidas”, argumenta Grieco. A expectativa da Life é fechar o ano com 10 mil testes realizados. Para 2018, a meta é de 50 mil testes e 100 mil em 2020.
Sobre a Life Grupo
Fundado em 2013 por Mario Grieco, o Grupo tem um modelo de negócio inovador ao atuar em diversos segmentos oferecendo um portfólio extenso de produtos e serviços voltados para a área da saúde. Esse modelo é fruto do espírito empreendedor e da experiência de seu fundador, que atuou por mais de 30 anos na indústria farmacêutica, liderando equipes e empresas de grande porte. A Life Grupo já recebeu mais de R$ 30 milhões em investimentos desde a sua fundação, alcançou o break-even-point e tem mostrado expressivos índices de crescimento nas receitas, que devem subir em torno de 30% este ano. Em 2016, cresceram 20%.
O Grupo é formado por unidades de negócios e duas empresas. São unidades a Life Diagnósticos, divisão especializada em Medicina Personalizada que abriga um laboratório de testes genéticos e farmacogenéticos, além de fornecer produtos e serviços de alta tecnologia para prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças; a Life Farmacêutica, especializada em desenvolvimento, lançamento e promoção de medicamentos; a Life Publicidade, especializada no desenvolvimento de campanhas publicitárias para o setor de saúde; a Life Distribuidora, especializada na promoção e vendas de produtos farmacêuticos; e a clínica de reprodução humana Chedid Grieco, que possui um avançado laboratório genético.
As empresas que completam o Grupo são a Vida, especializada na importação e distribuição de cosméticos, e a Saúde, especializada na importação e distribuição de máquinas e equipamentos médico-hospitalares. O Life Grupo também mantém uma filial em Miami (EUA) para apoiar as atividades da empresa no Brasil.
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Vital Agência
Fábio Pimentel – fabio.pimentel@vitalagencia.com – 11 9 3806 0617
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