Lucro de drogarias no RN é alto

Publicação: 2017-08-270:00:00 0

Marcelo Filho
Repórter

Com faturamento na casa dos R$ 25,1 bilhões em 2016, as três maiores redes de farmácias do país cruzaram o ano da mais severa crise financeira do país na última década, sem grandes percalços. Duas delas – Drogasil e Pague Menos -, com atuação no Rio Grande do Norte, inauguraram mais de uma dezena de lojas nos endereços comerciais mais caros de Natal e região metropolitana, investiram em reformas e modernização dos empreendimentos e deverão lucrar, até o final deste ano, aproximadamente R$ 1,5 bilhão.

Rede Raia Drogasil é a maior do país em número de lojas e faturamento; em menos de dois anos, instalou 12 lojas no estado

O aumento constante na taxa de envelhecimento da população brasileira é apontado, por especialistas, como o principal amortecedor dos impactos da recessão econômica sobre o segmento de varejo farmacêutico, que continua a gerar faturamentos bilionários. “A crise atinge menos as farmácias porque é uma área de saúde. Na medida em que a população envelhece, surgem as doenças crônicas. A demanda por medicamentos não tem associação direta com a crise. È um setor menos sensível à crise pela própria natureza da atividade”, analisa o economista Aldemir Freire.

O processo de expansão de grandes redes de farmácias em Natal não é recente. Outras marcas já experimentaram fase de crescimento e consolidação dos negócios na capital potiguar. Não há, porém, um atrativo na economia local que fundamente os investimentos das gigantes do setor farmacêutico na cidade. A política de expansão das grandes redes nas maiores cidades do Brasil e a crescente demanda baseada no envelhecimento populacional são peças-chave para tal fenômeno. Somente a Drogasil instalou, em menos de dois anos e meio, 11 lojas em Natal e Parnamirim, além de uma em Mossoró.

“Entendemos que o Rio Grande do Norte e o Nordeste como um todo, são importantes para os negócios da Drogasil. O motivo da nossa expansão na região é porque acreditamos em seu potencial", afirma Eugênio De Zagottis, vice-presidente de Planejamento e Relações Insitucionais da Raia Drogasil. Projeções do Instituto Brasileiro de Geogradia e Estatística (IBGE) apontam que os idosos devem representar 29,3% da população brasileira até 2050. No Rio Grande do Norte, esse grupo responde por 7,96% da população – cerca de 280 mil pessoas. O envelhecimento da população também é indicada pelo executivo da Drogasil como potencializador de demanda aos produtos e serviços oferecidos pela rede, que tem como perfil de clientes os públicos de classes A e B.

“A população idosa brasileira vai dobrar ao longo dos próximos quinze anos. Aquele que consegue entregar o melhor nível de serviço aos clientes está se destacando. Outro ponto importante no avanço do varejo farmacêutico é que hoje, o consumidor vê a farmácia não somente como um local para comprar medicamentos, ele vê a farmácia como um estabelecimento que vende saúde e bem-estar”, destaca Eugênio De Zagottis. A expansão das redes de farmácias em Natal, porém, não significa que o mercado local esteja em fase de crescimento, alerta Aldemir Freire.

Ele pontua que a chegada das grandes redes de farmácias pode, em um primeiro momento, contribuir para o aumento e manutenção de postos de trabalho na área, visto que os efeitos da recessão econômica sobre o setor são pequenos. Ao mesmo tempo, porém, estabelecimentos de menor porte estão sujeitos ao encerramento de suas atividades devido à forte concorrência. "O mercado não tem registrado um crescimento tão acentuado que comporte toda essa quantidade de farmácias instaladas nos últimos dois anos em Natal", diz o economista.

Sindicato defende valorização das lojas locais

Em todo o Rio Grande do Norte, existem cerca de 1.750 drogarias e farmácias. Destas, aproximadamente 1.200 estão no interior, e 550 em Natal. Para o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do RN (Sincofarma-RN), a presença maciça das maiores redes de farmácias no estado, aliada à recessão, impactou, sim, nas pequenas e médias drogarias.

Sem mensurar a força desse impacto, a presidente do Sincofarma-RN, Diva Dutra, acredita que o mercado deve se ajustar, a exemplo de anos anteriores. "Há uma tendência das farmácias independentes buscarem associações. Tudo é uma questão de acomodação. As empresas fazem suas modificações e alterações para continuarem suas atividades", disse.

Diva Dutra sugere remodelagem fiscal para farmácias menores

A diferença na concorrência é perceptível. Dentre elas, está o poder de barganha das maiores redes de drogarias em relação às independentes. Além da facilidade de negociação com os laboratórios, os principais grupos do varejo farmacêutico oferecem vantagens e benefícios a médicos, que recomendam os estabelecimentos parceiros para a compra de medicamentos aos pacientes. "Muitas vezes, a farmácia independente tem o mesmo produto, e isso interrompe as vendas delas", explica a presidente do Sincofarma-RN.

Diva Dutra acredita que a chegada das maiores drogarias ao Estado é positiva para a economia local, mas com ressalvas. “Acho que o governo deveria olhar para as empresas da terra de forma diferenciada. Incentivos fiscais seriam um caminho para melhorar as condições de competição com as grandes farmácias. Porque o que está ao alcance do empresário, em termos de administração, ele busca. Mas o governo não incentiva, sentimos essa falta", comenta.

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