Soja baiana impulsiona indústria de alimentos; safra tem alta de 62%

A alta na safra de 2017 em relação a 2016 foi de 5,2 milhões de toneladas de grãos

A soja plantada em mais de 1,5 milhão de hectares no Oeste da Bahia volta a se destacar, após cinco anos com desempenho errático por conta da seca. E o impacto das boas notícias no campo não se restringiu ao mercado agrícola. Como aproximadamente 40% da produção é para o esmagamento e fabricação de óleo de soja por multinacionais que atuam na região, o impacto na área industrial de produção de alimentos já foi sentido, com aumento de 5,7% nesse segmento.

A alta na safra de 2017 em relação a 2016 foi de 62,8%, com produção de 5,2 milhões de toneladas de grãos – a melhor desde os anos 90, início do plantio da cultura na região, onde a saca de 60 quilos custa, em média, R$ 56,60.

O setor de produção de alimentos teve o melhor desempenho industrial do mês de junho na Bahia, o que foi divulgado mais recentemente. No geral, contudo, a produção baiana caiu 10% no mesmo mês, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Regional, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e analisados pela Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI).

No Oeste, onde a cadeia da soja gera mais de 117 mil empregos diretos e indiretos, as principais empresas que fazem o processamento do óleo da leguminosa são a Bünge e a Cargill. As empresas mantêm segredo sobre a quantidade produzida. Mas a última atualização disponível sobre o assunto, de 2011, apontava uma produção de 653 mil toneladas de óleo de soja, de acordo com dados da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). Naquela safra foram colhidas 3,6 milhões de toneladas da leguminosa.

Balança comercial
A soja baiana corresponde a 4,8% da produção nacional e a 58% da produção do Nordeste. O maior comprador é a China, responsável por adquirir 60% do produto. No mês de julho, segundo levantamento da SEI, impulsionadas pelo volume embarcado de soja e derivados (439,8 mil toneladas, o maior desde 2015), as exportações baianas fecharam em US$ 684,7 milhões, com incremento de 26% em relação a julho de 2016 e de 8,7% em relação a junho último.

Até julho, as vendas externas do complexo soja (grão + farelo + óleo) somaram 2,18 milhões de toneladas, o que já se configura volume recorde para o período. “O setor da soja está se recuperando agora, depois de cinco anos de produção abaixo do esperado, devido à seca. É um momento para se comemorar e fazer investimentos”, disse o coordenador de Comércio Exterior da SEI, Artur Souza Cruz.

Outros produtos
Outros setores que influenciaram ainda o bom desempenho industrial da produção de alimentos da Bahia foram a farinha de trigo, manteiga de cacau e chocolate em pó.

O mercado de cacau na Bahia, no entanto, passa por problemas. A safra 2016/2017 deve ficar em 104.820 toneladas de cacau, ante as 145.630 toneladas da safra de 2015/2016, segundo a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).

Já o setor de produção de farinha de trigo tem apresentado melhoras, mesmo que a Bahia ainda tenha poucas áreas plantadas com a cultura: está com apenas cerca de 5 mil hectares plantados no Oeste, com produção de 4 a 6 toneladas por hectare. Com unidade fabril no estado, a empresa J.Macêdo lidera o setor de produção de farinha de trigo no Nordeste, com a marca Dona Benta, que detém 22,7% de participação do mercado.

Todo o trigo para as operações da empresa chegam pelo terminal de grãos operado pela empresa no Porto de Salvador, que está, inclusive, sendo modernizado com investimentos de R$ 27,5 milhões.

As novas instalações vão dobrar a capacidade atual de retirada de grãos dos navios, passando de 150 toneladas/hora para 300 toneladas/hora. As obras começaram em março e ficam prontas em outubro.

O volume de trigo recebido no terminal de Salvador em 2016 foi de 228 mil toneladas; em 2017, já são 160 mil toneladas até julho. O trigo, depois de processado, abastece o complexo fabril em Simões Filho e Salvador (massas).

A Bahia é o segundo mercado da J.Macêdo, depois de São Paulo, e 85% de tudo que as unidades locais produzem são para o próprio estado, principal foco do atual ciclo de investimento da empresa, recebendo cerca de R$ 350 milhões. “Eles [os investimentos] estão acontecendo, apesar da crise recente vivida pelo país, e isso é importante para sinalizar a disposição do poder público de criar um ambiente de negócio melhor”, declarou o CEO da J.Macêdo Luiz Henrique Lissoni.

Também apresentaram resultados positivos no balanço da indústria baiana em junho os setores da indústria extrativa (2,2%) e de produtos de minerais não-metálicos (5,1%). “A alta na indústria extrativa se dá por conta da produção de petróleo por parte da Petrobras e outras empresas menores do polo petroquímico de Salvador”, comentou a analista e coordenadora de acompanhamento conjuntural da SEI Carla Janira do Nascimento.

Estradas estão entre os grandes problemas

Para o conselheiro de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Marcus Galindo, a expansão da infraestrutura é muito importante neste momento para se melhorar a capacidade de produção e, consequentemente, de competitividade na região Oeste. Os produtores da região se queixam das más condições das estradas, necessárias para o escoamento da produção. “O que temos visto, com relação a isso, são investimentos pontuais, feitos mais por necessidade do que como estratégia de melhoria para se destacar dos concorrentes”, afirmou Galindo.

Representantes da Associação Baiana de Agricultores e Irrigantes (AIBA) discutiram a situação das rodovias com o governo do estado no último mês. Para que os serviços de recuperação das BA's 225, 459 e 460 tenham durabilidade, a Aiba solicitou a manutenção dessas rodovias através de uma camada de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), o mais nobre dos pavimentos. “É imprescindível que essas estradas recebam o CBUQ o quanto antes. Só assim teremos uma maior vida útil do asfalto e garantimos o bom escoamento da próxima safra”, defendeu o vice-presidente da Aiba, Luiz Antônio Pradella. No encontro, ele também citou a necessidade de uma reforma para a BA-463, de São Desidério.

Ao avaliar o quadro atual do desenvolvimento da indústria baiana, o superintendente de Promoção de Investimentos da Secretaria de Desenvolvimento da Bahia (SDE), Paulo Guimarães, disse que o governo da Bahia tem buscado investir em infraestrutura para melhorar o escoamento da produção.

“O governo tem buscado melhorar as estradas e acessos portuários, por meio das parcerias público-privadas. Sabemos que é um interesse comum, do governo e das empresas, em melhorar a logística, então estamos fortalecendo este elo”, afirmou.

Ao avaliar o desempenho da indústria baiana, o professor aposentado da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia, Oswaldo Guerra, disse que ela passa por um processo de desindustrialização. “A exemplo de outros estados, a indústria da Bahia está perdendo o poder de influência no Produto Interno Bruto, ao passo que o setor de serviços vem aumentando a participação”.

Megainvestimento chinês está parado
Um dos grandes investimentos previstos para a região, anunciado pelo governo da Bahia ainda não foi concretizado. Trata-se da maior esmagadora de soja do Brasil, anunciado por uma empresa chinesa. O investimento estimado é de R$ 4 bilhões. Atualmente, as negociações estão paradas por indefinição de local para instalação da unidade, que inicialmente ficaria localizada em Barreiras.

Enquanto isso não ocorre, diz o coordenador de Projetos Agrícolas da Secretaria de Agricultura da Bahia (Seagri), Marcelo Libório, “o governo tem procurado ajudar o setor por meio de ações fitossanitárias e profiláticas, combatendo pragas na lavoura e fazendo com que a qualidade da soja do oeste seja mantida”. “Sabemos que temos ainda um gargalo enorme com estradas mal conservadas, devido também às carretas que trafegam por lá, que são muito pesadas”, diz.

“Mas temos buscado fortalecer toda a cadeia da soja, sobretudo da produção de farelo de soja, que serve para fazer ração animal. Temos incentivado a ida para a região de várias empresas que produzem ração”, destacou.

O assessor de agronegócios da Associação Baiana de Agricultores e Irrigantes (Aiba), Luiz Stahlke, observou que é preciso aproveitar o momento para fazer novos investimentos. “A Cargill, por exemplo, já procurou a Prefeitura para comprar um terreno e construir uma nova unidade em local próprio, pois onde eles estão atualmente é arrendado. Querem expandir produção, só não sei em quanto”, contou Stahlke.

Em Luis Eduardo Magalhães, uma das principais cidade do Oeste, a boa safra de soja já era esperada, disse o secretário de Agricultura Franco André Bosa. Segundo ele, os números positivos no campo estimulam o desenvolvimento de outros negócios. “Nas conversas com produtores já se esperava uma boa safra, até pelas condições climáticas. E isso favorece a expansão das empresas”, disse.

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