Mercado de bebidas alcoólicas deve voltar a crescer no Brasil em 2018

Após dois anos de retração, a indústria brasileira projeta retomada da demanda interna diante das perspectivas de melhora da renda das famílias e da elevação das temperaturas médias no País

São Paulo – A queda da inflação, em meio à elevação das temperaturas médias no País, já estimula um aumento da demanda por bebidas alcoólicas. Com a expectativa de manutenção deste quadro, a indústria deverá retomar seu crescimento a partir de 2018.

"O mercado de cerveja depende basicamente do clima e da renda. E tudo indica que esses dois fatores estão contribuindo positivamente para o setor nesse segundo semestre", afirma o consultor de varejo e bebidas da Concept, Adalberto Viviani.

Segundo ele, a percepção entre os consumidores é de que o pior da crise já passou, contribuindo para a perspectiva, mesmo que não seja de volta do crescimento, mas ao menos de redução das perdas de volumes vendidos.

A Euromonitor projeta que o brasileiro consuma 13,891 bilhões de litros de bebidas alcóolicas neste ano que, além de cerveja, inclui vinho, sidra e outros destilados, representando uma queda de 0,36% ante 2016 – quando a retração no consumo ante 2015 foi de 3,18%.

Para o ano que vem, o consumo deverá voltar a crescer, avançando 1,07% em comparação a 2017, para 14,04 bilhões de litros, segundo estimativa da Euromonitor.

O vice-presidente financeiro da Ambev, Ricardo Rittes, ressaltou que a companhia continua "cautelosamente otimista" em relação ao mercado de bebidas. No entanto, ele destacou que o setor começa a apresentar uma "linha de tendência positiva" de recuperação. "Temos cautela porque o mercado ainda está caindo, mas estamos otimistas porque está na direção correta", diz.

Segundo ele, um dos fatores que contribuem para as melhores perspectivas refere-se à queda da inflação. Mesmo sem dar projeções, ele destacou seu efeito positivo: "Como somos focados no consumo, isso acaba sendo muito bom para a companhia, já que a inflação [em alta] compromete o poder de compra dos consumidores".

Rittes comentou ainda que a companhia já aplicou um novo aumento nos preços dos produtos desta categoria, conforme anunciado durante a divulgação dos resultados da empresa no último mês de julho, mas não acrescentou detalhes sobre o reajuste.

Refrigerantes

O executivo da Ambev reforçou que o quadro está um pouco mais distinto quando se avalia o mercado de bebidas não alcoólicas, em que há "uma maior volatilidade" no volume comercializado, diante das oscilações da atividade econômica. "O refrigerante acaba sendo até um luxo para uma parte da população. Sendo assim, se substitui por água da torneira, suco em pó ou outras bebida", explica Rittes.

Viviani, da Concept, acrescenta que o refrigerante foi o símbolo da ascensão ao consumo da classe média no início desta década, porém acabou tornando-se o primeiro item a ser retirado da cesta de compras durante a crise econômica e política. "A migração do refrigerante para outras bebidas foi muito grande, seja pela substituição por refresco em pó, suco pronto, chá ou água mineral", complementa.

Investimento

Na sexta-feira (15), a Ambev informou que nos últimos três anos investiu mais de R$ 45 milhões em seu programa de consumo inteligente de bebidas. O foco foi alertar os profissionais dos pontos de venda sobre os riscos do consumo indevido de bebidas por menores de 18 anos e do uso do carro após o consumo de álcool. Além disso, a empresa destacou que pretende ampliar para 20% a fatia de produtos não alcoólicos ou com baixo teor sobre as vendas até 2025.

Rodrigo Petry

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