Encontros FAPERJ discutem a inovação em Fármacos
…a burocracia ainda é um dos principais gargalos para uma efetiva aproximação entre a inovação produzida na universidade e a indústria
A rica biodiversidade brasileira pode ser considerada uma vantagem competitiva para o desenvolvimento da indústria farmacêutica nacional, que possui um verdadeiro patrimônio genético para produzir novos medicamentos. Estima-se que o País tenha cerca de 20% das espécies conhecidas no planeta, segundo o Ministério do Meio Ambiente. No entanto, a aplicação dessa matéria-prima para o desenvolvimento de fármacos depende de políticas públicas bem delineadas na área de inovação científica e tecnológica. Para discutir essa e outras questões relacionadas ao tema “Inovação em Fármacos”, como a necessidade de promover a aproximação do conhecimento produzido nas universidades com a indústria, a Fundação realizou a 20ª edição do seminário Encontros FAPERJ, na tarde da última sexta-feira, 15 de setembro.
Dessa vez, a palestrante foi Gabriela Barreiro, que é gerente de Desenvolvimento Pré-Clínico da Eurofarma. Graduada em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – quando foi bolsista de Iniciação Científica da FAPERJ, em 1996 e 1997 –, ela traz no currículo títulos de mestrado e doutorado em Química pela mesma instituição, além de pós-doutorados na Universidade de Wesleyan, de Yale e na Universidade da Califórnia, em São Francisco.
Ela contou que a empresa, considerada uma das maiores farmacêuticas do País e detentora de um capital 100% nacional, está em busca de laços mais estreitos com a pesquisa acadêmica. Gabriela é responsável pela área de “inovação radical” – que busca novos fármacos, especialmente na área de anti-infecciosos. “A Eurofarma é uma empresa voltada para a produção de genéricos e similares, que também está sofrendo com a crise que afeta a indústria nacional. Por isso, investir na inovação em fármacos, com o desenvolvimento de moléculas próprias, é fundamental. Ou a indústria farmacêutica de genéricos investe em inovação, ou corre o risco de desaparecer”, disse.
Nesse contexto, ela destacou a necessidade de criar uma cultura de atração de mão de obra qualificada, de jovens com nível de pós-doutorado, para trabalhar na indústria farmacêutica, e não apenas nas tradicionais carreiras acadêmicas. “A ciência não é feita dentro da indústria brasileira. No Brasil, 70% dos pesquisadores estão dentro da academia. Em países como Estados Unidos e Japão, mais da metade trabalha na indústria. É preciso criar parcerias entre a indústria e a universidade, incorporando na indústria pós-doutorandos para o desenvolvimento de fármacos, e mudar a cultura dos investimentos em inovação, que nem sempre geram retorno no curto prazo, mas devem ser sólidos e constantes”, ponderou.
Gabriela destacou que a burocracia ainda é um dos principais gargalos para uma efetiva aproximação entre a inovação produzida na universidade e a indústria. “Na minha experiência, a maior dificuldade são os entraves burocráticos que ainda devem ser simplificados nas agências de inovação das universidades. A formalização dessas colaborações tem que ser mais rápida. A indústria não pode esperar um ano para assinar um termo de colaboração científica com a universidade para testar uma molécula, por exemplo”, apontou. Outros entraves citados pela gestora são os longos processos burocráticos da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Nacional de Marcas e Patentes (INPI).
O pesquisador Eliezer Barreiro, coordenador científico do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Fármacos e Medicamentos (INCT-Inofar) e professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, foi o mediador do encontro. Ele ressaltou que é importante identificar parcerias, para que o estado do Rio de Janeiro possa atrair o apoio das empresas que fazem inovação. “Uma das coisas que fazem com que a indústria se torne competitiva no mercado farmacêutico é a inovação e, para que a indústria do estado do Rio de Janeiro possa inovar, é necessário que tenha muito rapidamente acesso aos resultados das pesquisas nas universidades. Precisamos superar esse obstáculo para beneficiar não só a indústria, mas também para valorizar a pesquisa na academia e criar novos conhecimentos para a sociedade.”
Por sua vez, a diretora de Tecnologia da FAPERJ, Eliete Bouskela, que também é médica e professora titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), destacou a importância da realização periódica do Encontros FAPERJ, no atual cenário econômico fluminense. “Existem produções nevrálgicas, muito importantes, na pesquisa estadual, mas precisamos realmente fazer uma aproximação entre as universidades e as empresas. No exterior, as agências de fomento, além de investir recursos financeiros, costumam prover um ambiente de networking entre os diversos agentes da inovação. Vamos trabalhar para que essa aproximação ocorra”, disse.
Estiveram presentes diversos representantes de universidades, centros de pesquisa e dos setores acadêmico e empresarial – como o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich; a coordenadora do Núcleo de Inovação Tecnológica de Farmanguinhos, Wanise Barroso e a pesquisadora da área de Síntese de Drogas, também de Farmanguinhos, Nubia Boechat; o gerente do departamento de Saúde e Química da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Rodrigo Secioso de Sá; a diretora da Agência de Inovação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Shirley Coutinho; o vice-presidente da Abifina, Reinaldo Guimarães; o pesquisador de Desenvolvimento de Fármacos do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, Roberto Takashi Sudo; o diretor da agência de inovação Agir, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ricardo Leal; e o diretor da Microbiológica, Jaime Rabi, entre outros participantes.
A iniciativa de promover o Encontros FAPERJ passou a ser coordenada, a partir dessa 20ª edição, pela Diretoria de Tecnologia da Fundação e a curadoria do evento continua sob a responsabilidade do professor José Manoel Carvalho de Mello, assessor da Diretoria de Tecnologia da FAPERJ.
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