Déficit de profissionais e falta de salário fixo são principais problemas enfrentados em RR
Demanda de farmacêuticos é o dobro da oferta existente em Roraima. Salário médio de um farmacêutico, segundo sindicato, é quase mil reais abaixo da média nacional
Por Folha Web Em 25/09/2017 às 01:10
Em Roraima, mais de 1.200 estabelecimentos (entre farmácias, drogarias, clínicas, hospitais etc.), que mantém atividades que devem ser executadas por farmacêuticos, são fiscalizados atualmente pelo CRF (Conselho Regional de Farmácia) ao longo do ano. No entanto, conforme dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), apenas 575 farmacêuticos estão registrados como ativos no estado.
E esse déficit no mercado já foi noticiado no mês de julho pela Folha, ao se referir apenas à situação de farmácias e drogarias, informando que mais de 60 pontos comerciais, somente em Boa Vista, foram autuados pela falta de um profissional habilitado atuando no local. Na época, o número representava quase um terço do total de estabelecimentos do tipo no estado, ao todo 192 farmácias e drogarias, sendo que a maior parte, 136, se concentra apenas em Boa Vista.
Mas, apesar do déficit de profissionais atuando no mercado, os salários oferecidos aos poucos habilitados são apontados como uma das barreiras enfrentadas pela categoria em Roraima. Segundo o presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de Roraima, Carlos Gomes, em razão dos baixos salários, muitos são obrigados a trabalhar em mais de um estabelecimento por dia.
“Não existe salário fixo em Roraima para que esses profissionais possam trabalhar de forma que faça jus aos cinco anos de faculdade e especializações que foram necessários para obter a devida formação. Há muitos casos de farmácias que oferecem um ou dois salários mínimos por este trabalho, que por ser tão delicado, vale muito mais.”, explicou, exemplificando que em outros estados, como Bahia, Goiás e Rio de Janeiro, o ganho mínimo de farmacêuticos ultrapassa dos R$ 4.000,00.
Para Gomes, a necessidade do emprego de farmacêuticos nos estabelecimentos como drogarias e farmácias, sobretudo de pequeno porte, é subestimada em Roraima, onde muitos proprietários tratam a situação levando muito mais em conta o lado comercial, que o profissional.
“Antigamente, farmácia era vista como um comércio apenas, ou seja, um local de somente vendas. Hoje em dia, com leis que obrigam a presença de um profissional da área, já sabemos que quando se trata de manipulação de produtos que afetam diretamente a saúde, é necessário um farmacêutico que possa dar esse auxílio e garantir a funcionalidade do tratamento. Infelizmente, ainda existem pessoas que insistem em ver a farmácia essencialmente como uma forma de lucro e não de cuidado. Talvez isso seja o que faça diversas drogarias de menor porte oferecer baixos salários ou sequer contratar farmacêuticos”, lamentou.
Para tentar mudar o atual cenário, tramita na Câmara de Vereadores de Boa Vista um projeto para estabelecer como remuneração mínima de R$ 3.334,00 para o farmacêutico, com jornada de 40 horas semanais.
Único curso do estado formou quase 600 farmacêuticos em 13 anos funcionando
O coordenador do único curso de Farmácia existente em Roraima, o professor Paulo Tamashiro, também aponta à falta de profissionais que possam ocupar todos os 1.200 pontos de trabalho para farmacêuticos existentes no estado. Por isso, segundo ele, o curso oferecido pelas Faculdades Cathedral vem com a proposta de preparar o graduado para todas as 74 atividades regulamentadas pelo CFF (Conselho Federal de Farmácia), sejam elas em farmácias e drogarias, análises clínicas, área hospitalar, setor público ou área de indústria e distribuição.
“Realizamos estágios supervisionados com cargas horárias de 1000 horas, em que desde o segundo ano, o acadêmico já parte para a prática em locais como o Exército, HGR (Hospital Geral de Roraima), Aeronáutica e até mesmo em perícia criminal. Muitas entidades e empresas já ficam de olho em estudantes nesses estágios para contratar, em meio a uma demanda tão grande. Eu costumo falar para os alunos, como uma brincadeira, que eles não possuem concorrência alguma no estado, apenas as deles mesmos”, afirmou.
Para o presidente das Faculdades Cathedral, Haroldo Campos, essas faltas e outras necessidades vindas da demanda de profissionais compõem a razão principal para a criação do, até então, único curso de graduação no estado voltado especificamente para Farmácia.
“O estado de Roraima se encontrava como bastante afastado de grandes centros comerciais, e, por isso, havia uma necessidade muito grande de profissionais atuantes por aqui. O mais próximo que existia de formação na área da Saúde aqui era o curso de medicina da Universidade Federal de Roraima. Daí veio a nossa necessidade de criar cursos voltados para essa área logo quando começamos a nos instalar, em 1999”, afirmou.
O curso superior de Farmácia da Cathedral foi oficializado em 2003, com a primeira turma em 2004. Desde 2008, segundo Tamashiro, cerca de 580 pessoas se formaram na área farmacêutica pela faculdade.
Para as estudantes do curso, Letycia Spies e Grayce Maia, é importante as pessoas reconhecerem que trabalhar na área é algo que vai muito além do que trabalhar numa farmácia ou drogaria.
“Comecei fazendo farmácia meio que sem interesse, mas depois que eu percebi o número de possibilidades da profissão, incluindo até trabalhar com perícia, fiquei encantada com o curso e posso dizer que o amo”, afirmou Grayce.
O amplo campo de atuação é o que empolga a colega também. “Quando eu digo para as pessoas que quero trabalhar com estética, elas me perguntam: ‘então por que você faz Farmácia?’. Daí preciso explicar que procedimentos desse tipo botox, podem ser feitos por nós farmacêuticos. E que somos capazes de muito mais coisas também!”, destacou Letycia.
O DIA – Dia 25 de Setembro é o dia em que se celebra a atividade do profissional desta área. O FIF (Conselho da Federação Internacional Farmacêutica) considera que o dia é para lembrar não só a importância, mas também a acessibilidade e aproximação que esta profissão propõe. Tudo para contribuir não só para a saúde, mas também para o bem-estar de pacientes. (P.B)
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