Os remédios para dormir provocam dependência e devem ser prescritos com bastante cautela

Pedro Marques 24 de novembro de 2017

Sedativos, hipnóticos, antidepressivos, relaxantes. A lista de medicamentos para dormir é imensa e a de efeitos colaterais também. Onze milhões de brasileiros tomam remédios para dormir.

A melatonina é um hormônio e, entre outras funções, regula o sono. À noite, quando começa a ser produzida, ela sinaliza para o sistema nervoso central que é hora de acabar com o período de atividade e começar o período de repouso. Para isso, alguns mecanismos fisiológicos são acionados e o principal é o sono. Enquanto a melatonina é produzida normalmente, ela garante um sono saudável.

Alguns fatores podem interferir e até bloquear a produção da melatonina: a luz (principalmente a azul, proveniente dos celulares, tablets e televisão), remédios e a idade, pois a produção de melatonina cai com o passar dos anos. Aos 70/80 anos, a gente produz 20% menos melatonina que quando jovem.

No Brasil, a melatonina é vendida em farmácias de manipulação e a sua ingestão deve ser orientada por um médico. É preciso saber a dose correta, formulação adequada e o horário certo para tomar. Se tomado de maneira errada, o hormônio desregula todo o organismo: metabolismo, sono e vigília, sistema cardiovascular e imunológico.

Relógio biológico

O endocrinologista José Cipolla Neto explica que é a partir da informação do tempo, se é dia ou noite, que o nosso relógio biológico prepara o corpo para um dos períodos. “De dia: a gente acorda, ficamos ativos, nos alimentamos, interagimos, o metabolismo está ativo e aproveita o que comemos, a pressão e a temperatura do corpo estão mais altas. À noite: dormimos, estamos em repouso, o metabolismo garante o jejum, o sistema nervoso se recupera, os músculos se recuperam, a pressão e a temperatura do corpo permanecem mais baixas.”

De acordo com o pneumologista do sono Geraldo Lorenzi, cada um tem um relógio biológico diferente, são os cronotipos. Algumas pessoas são vespertinas, outras matutinas e outras noturnas. Por conta disso, há muita confusão entre privação de sono e insônia. Por exemplo: uma pessoa que é vespertina, tem problemas para conseguir dormir cedo e acorda com muito sono. Essa pessoa vai ao médico e diz que tem insônia, mas na verdade, ela só não está respeitando o relógio biológico interno e tem privação de sono. Com o tempo, é possível flexibilizar esse relógio biológico, mas algumas pessoas têm mais dificuldade.

Remédios

Existem dois tipos de insônia: a inicial e a dificuldade de manutenção de sono. Os remédios agem dependendo da insônia de cada um, mas todos eles agem no sistema nervoso central com diferentes mecanismos.

Segundo Cipolla, nenhum dos medicamentos consegue reproduzir perfeitamente o sono fisiológico, os médicos chamam esse sono de farmacológico. Apenas a melatonina é capaz de induzir ao sono naturalmente. Lorenzi alerta que os medicamentos para dormir causam dependência, perdem o efeito com o tempo e precisam ser prescritos com bastante cautela.

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