Setor de sorvetes tenta recuperar mercado

Após atravessar a pior recessão do país, o setor de sorvetes retrocedeu ao patamar de oito anos atrás. Em 2014, a indústria tinha atingido seu melhor desempenho histórico, com a venda de mais de 1,3 bilhão de litros e um faturamento superior a R$ 23 bilhões. Mas em 2015 e 2016, houve acentuado decréscimo, as vendas somaram somente R$ 12 bilhões ao ano.

No ano passado, o consumo foi de cerca de 1 bilhão de litros. "Nesse período, faltou dinheiro para consumo, as pessoas acabaram cortando muita coisa, não apenas os sorvetes", afirma Eduardo Weisberg, presidente da Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (Abis). Segundo ele, outros problemas que impactaram a cadeia produtiva foram os aumentos dos preços dos insumos e da energia elétrica.

A Abis ainda não finalizou o balanço referente a 2017, porém, as projeções da entidade indicam um resultado de vendas estável. "Deveremos fechar o ano empatando com 2016 ou com leve aumento no faturamento", comenta Weisberg. Para 2018, a Abis avalia que em um cenário de inflação sob controle, juros menores e com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo perto de 3%, o setor de sorvetes tende a entrar em uma trajetória de retomada, ainda que tímida em um primeiro momento.

A principal reivindicação do setor é a revisão de sua matriz de impostos. Atualmente, a tributação média do sorvete é de 43,3%, o que deixa o produto no topo entre os alimentos. "Sobre o sorvete incidem todos os tipos de impostos, inclusive o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o grande vilão, que é aplicado nos mesmos moldes dos produtos não essenciais", afirma Achiles Augustus Cavallo, consultor jurídico da Abis.

Em 2016, em meio à turbulência econômica, o governo publicou o decreto 8.656, que aumentou o IPI do sorvete junto com cigarros e fumo picado, resultando em uma alíquota de 5% sobre os preços finais. Além disso, conforme o especialista, o setor é obrigado a antecipar o ICMS das operações futuras, considerando uma elevada margem hipotética de lucro de 70%. Essa regra dificulta a possibilidade de investimentos e limita o capital de giro. "Esse modelo tributário tem efeito devastador", diz Cavallo.

De acordo com ele, os sorvetes deveriam ter a mesma tributação do leite, de 27,6%. Para isso, a Abis defende a redução a zero do PIS, Cofins e IPI, o que contribuiria para fortalecimento do setor e barateamento dos produtos nos pontos de vendas. "O sorvete é um alimento que traz enormes benefícios por conter leite e frutas na sua formulação", ressalta. O consultor Achiles Cavallo destaca ainda que o setor é de alto potencial para empreendedorismo, e é composto por 90% de micro e pequenas empresas e 10% de médias e grandes.

Nos últimos anos, foram grandes as dificuldades enfrentadas. Embora não tenha ainda um levantamento, o presidente da Abis reconhece que diversas marcas desapareceram, empresas encerraram atividades e franquias fecharam. As companhias que resistiram adotaram uma série de iniciativas como melhoria nos processos, redução de custos, novos canais de vendas e, principalmente, apostaram em inovações. As linhas de sorvetes premium, com maior valor agregado, também se mostraram mais resilientes.

Com sede em São Paulo e em operação desde a década de 90, a rede Freddissimo Gelateria, especializada em sorvete artesanal italiano, investiu no desenvolvimento de novos produtos para superar a recessão, entre eles, o gelato no palito. "Apostamos em um produto sofisticado com preço justo", diz Jose Diniz, diretor comercial. O picolé custa, em média, R$ 7. Em relação ao gelato tradicional, o preço ficou estabilizado nos últimos anos no patamar médio de R$ 11 por 100 gramas. "A situação do mercado ainda não é boa, mas sentimos que a queda foi estancada. A fase mais difícil já passou", comenta Diniz.

De 2014 até março deste ano, dez franquias da rede fecharam as portas. Permaneceram abertas 18 unidades espalhadas por São Paulo, Mato Grosso, Bahia e Brasília. No ano passado, o faturamento caiu 32%. Este ano, a expectativa é de queda de 20%. Contudo, recentemente, os shoppings renegociaram aluguéis, o que beneficiou a rentabilidade de diversas lojas. Para 2018, a marca pretende atuar no segmento de refeições coletivas (catering) e distribuir produtos em outros pontos.

Criada em 2012, a marca Cuordicrema, que também atua no nicho de gelato italiano, manteve os preços fixos para o consumidor entre 2015 e 2017. "Passamos a oferecer uma experiência de consumo mais completa para os nossos clientes. Além do gelato, que é o carro-chefe, as lojas contam com milk-shakes, bolos, tortas e até café", afirma Lorenzo Barbati, diretor e sócio da Cuordicrema. A expansão que estava em marcha lenta, foi retomada este ano, com a abertura de dez unidades. Hoje, a rede conta com 20 lojas no Estado de São Paulo. Considerando a base de lojas já existentes em 2016, o faturamento deverá avançar 12% este ano. "Em 2017, conseguimos aumentar um pouco os preços e os volumes", explica Barbati.

Mais recente no mercado, aberta em 2014, a Cookie'n ice, empresa que vende sanduíche de sorvete, uma receita típica da Califórnia (EUA), teve que alterar sua estratégia de expansão. "Decidimos oferecer modelos enxutos de negócios, ou seja, quiosques, trailers e bicicletas, que exigem menores investimentos", explica Giovani Georgetti, um dos sócios.

A marca conta com 5 unidades, na capital e interior de São Paulo. A Cookie'n ice deverá chegar ao final deste ano com um faturamento de R$ 1,5 milhão, acima dos R$ 850 mil de 2016. "Conseguimos avançar com a nossa diferenciação de produto", conclui Georgetti.

As informações são do jornal Valor Econômico.

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