A inteligência artificial e a nova era do varejo
O varejo evoluiu e com ele, as formas de se observar a concorrência e os consumidores também
Mateus Azevedo, Administradores.com, 23 de dezembro de 2017, às 14h02
Primeiro, o homem vivia da caça e da pesca. A natureza lhe provia o básico para seu sustento. Depois, começou a desenvolver artefatos que lhe permitiam caçar e pescar melhor. Novos produtos foram surgindo. Desenvolveu-se a agricultura, o artesanato, a manufatura. O excedente passou a ser trocado por novos itens. Não demoraram a surgir as moedas, os bancos, e o abastecimento das comunidades por meio de uma "loja geral". Era o início da atividade comercial, a primeira linha da história do varejo como conhecemos hoje.
O varejo evoluiu e com ele, as formas de se observar a concorrência e os consumidores também. Se antes o lojista caminhava até a loja do concorrente para tirar fotos e ouvir a opinião de clientes ou ver o que compravam para pensar na sua próxima estratégia de vendas, hoje a tecnologia já permite métodos bem mais refinados e assertivos, mas com o mesmo propósito: entregar a melhor experiência de compra e, com isso, evidentemente, vender mais.
O "olhômetro" cedeu lugar à Inteligência Artificial. É ela que cada vez mais regulará os passos dos varejistas. Aqueles programas de fidelidade que todos conhecemos, que nos levaram a carregar cartões a mais na carteira ou falar o CPF no ato do pagamento, agora ganham novas e importantes funções: eles mapearam o comportamento dos usuários e contribuem significativamente para a estratégia dos varejistas.
Um exemplo interessante é o do Grupo Pão de Açúcar. Seu programa de fidelidade, o Pão de Açúcar Mais, conseguiu reunir informações de 13 milhões de clientes ao longo de 17 anos, como traz a reportagem da Época Negócios "Inteligência Artificial: varejo usa dados para direcionar ofertas e vender mais". As transações são convertidas em perfis de comportamento com a ajuda de ferramentas de IA, baseadas em algoritmos complexos. Imagine o poder de tantos dados? É possível conhecer em profundidade quem são os consumidores, seus desejos, seu estilo de vida e criar campanhas segmentadas e, com isso extremamente mais assertivas, gerando uma conversão de vendas infinitamente maior.
Saber quem é o cliente e seus hábitos de compra também pode contribuir para elevar o ticket médio ao se oferecer itens correlatos aos que o consumidor costuma comprar. Por exemplo, uma mãe que compra regularmente fraldas pode ser impactada com uma oferta de xampu de bebê.
Outro exemplo da contribuição da IA para o varejo é de uma assistente virtual criada pela Totvs para atender a pequenas e médias empresas. A Carol, como é chamada a robô, está integrada ao sistema de frente de caixa da Bematech e analisa de forma coletiva e anônima os dados das 15 mil empresas que o utilizam. O resultado desta análise é uma lista dos produtos de maior saída e o preço médio de cada um por bairro onde esses caixas estão instalados, além de sugerir produtos complementares que o lojista poderia oferecer à clientela. A Carol monitora ainda dados de redes sociais e previsão do tempo.
A inteligência artificial também vem atender a um novo perfil de consumidor que somos nós. Quem nunca começou uma pesquisa de produto na internet, deu uma passadinha na loja e concretizou a compra? Ou fez o contrário, viu algo na loja, ficou de pensar, fechou no e-commerce? Cada vez mais somos omnichannels, multicanais, nossa mente já não separa mais o físico do online e queremos que o varejo nos acompanhe nisso, o que só é viável, mais uma vez, com a IA. Quando você faz um desses movimentos, é preciso que um sistema tenha, minimamente, as informações integradas do estoque da loja virtual e da física para garantir o abastecimento correto e atender a logística de entregas.
Imagine ainda que você entre em uma loja com etiquetas de preços inteligentes. Você dá sorte e lá vai: aquela peça que você tanto queria entrou em promoção. Na verdade, o preço pode ter sido reduzido em virtude da IA que detectou que o movimento estava fraco e que valeria a pena fazer uma promoção relâmpago.
Pode até parecer muito futurista, mas a loja do futuro já está sendo testada em um shopping em São Paulo. Tudo dentro da loja é monitorado e um sistema de reconhecimento facial identifica se o cliente que entrou é homem ou mulher e qual a sua faixa etária. Vitrines inteligentes exibem ofertas de produtos que interessam especificamente para aquele consumidor. Com o monitoramento e um mapa de calor é possível saber quanto tempo o cliente ficou na loja, o que comprou, e qual a área que mais circulou. Na hora de pagar, o cliente pode pagar via celular, sem se dirigir a um caixa e ainda escolher receber o produto em casa. Mais detalhes nesta reportagem do O Globo: "Com ponto de venda físico e inteligência artificial, 'loja do futuro' chega ao Brasil". O nome da loja? Omnistore.
Estamos, sem dúvida alguma, vivendo uma nova era do varejo, impulsionada pela Inteligência Artificial. O relacionamento com os clientes, a estocagem, regulação de preços, criação de campanhas, logística de entregas, tudo está sendo modificado pela tecnologia de forma positiva e sem volta, visando atender as demandas desse consumidor omnichannel que está mais do que preparado para essa "loja do futuro". Varejistas, acelerem o passo, porque já estamos no futuro.
Mateus Azevedo — Sócio da BlueLab e responsável pela Diretoria de MKT e Vendas
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