Alimentícias investem em novos nichos e em fusões e aquisições

Perspectiva. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), o setor voltará a crescer em 2017 após dois anos em queda, com expansão de até 1% no faturamento

São Paulo – A retomada do crescimento do setor de alimentos vai ser acompanhada por um intenso movimento de fusões e aquisições. O processo deverá ser capitaneado por players que, apesar da crise, estão altamente capitalizados e buscam novas áreas de atuação.

"O setor está agitado e deve seguir assim", avalia o analista da Elevan Financial, Raul Grego. Segundo ele, as empresas que estão com dinheiro em caixa e com baixo endividamento têm oportunidade de fazer "bons negócios", que possam melhorar suas margens ou complementar operações.

Entre as empresas que estão em posição favorável neste momento estão M. Dias Branco e a Camil. Cada uma, à sua maneira, poderá ser protagonista no processo de aquisições. "A M. Dias tem um excelente histórico de compras e conta com um caixa líquido", comenta Grego. Ao final de junho, a companhia, que atua no segmento de massas e biscoitos, tinha um caixa de R$ 905 milhões, mas uma dívida inferior, de R$ 504 milhões, resultando em um caixa líquido de R$ 413 milhões.

O vice-presidente de investimentos e controladoria da M. Dias Branco, Geraldo Mattos Júnior, afirmou recentemente em teleconferência que, dentro do processo de expansão da fabricante, está a possibilidade de aquisição. "Os maiores saltos sempre se dão por meio de compras", disse, acrescentando que isso pode incluir também o ingresso em novos ramos. A empresa entrou, há pouco tempo, em bolos e cereais integrais.

Outra companhia de alimentos que deverá ser protagonista é a Camil. A empresa ingressou com um pedido de abertura de capital na bolsa e poderá captar, em outubro, até R$ 2 bilhões, segundo fontes do mercado. O processo é uma retomada da tentativa frustrada, seis anos atrás, de captar recursos no mercado de ações.

Segundo informações da Camil, os mercados de arroz e feijão são altamente pulverizados, entre pequenos, médios e grandes players. As cinco maiores empresas de arroz representavam 40,5% do mercado, enquanto os cinco principais de players de feijão, 29,2%. Dados da Euromonitor apontam que a Camil é a lider no Brasil no segmento de feijão, seguido da Kraft Heinz, enquanto em arroz lidera à frente da Josapar-Joaquim Oliveira.

Entre as finalidades da oferta, está a ampliação do portfólio de marcas e produtos em novas categorias, por meio de aquisições "seletivas e estratégicas". Segundo a empresa, os mercados de produtos não-perecíveis com potencial de crescimento e sinergias com os atuais ramos de atuação são negócios como farináceos, enlatados, cafés, biscoitos e massas.

Retomada

Em meio ao fortalecimento dos principais players está a volta do crescimento do setor, após um biênio de retração. Em 2015, a produção recuou 2,9% e o faturamento caiu 2,7%. No ano seguinte, a área teve nova retração: 1% na produção e 0,6% na receita. Para a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), o setor deverá retomar a expansão, em termos de produção, com uma alta entre 0,5% e 0,7%. Já as vendas reais – considerando o IPCA como deflator – vão avançar entre 0,7% e 1%, projeta o economista da Abia, Denis Ribeiro. "Nossa indústria está reagindo, com uma tendência de recuperação até o final do ano. Sair do negativo já é algo muito bom", reforça. Nos últimos doze meses encerrados em junho, o faturamento real acumula alta de 1,45%, mas a produção ainda recua 0,4%.

J&F

Algumas das principais oportunidades de aquisições estão sendo geradas pela J&F, holding de investimentos da família Batista. Com seus controladores envolvidos numa série de escândalos, alguns de seus principais negócios foram colocados à venda. Em junho, a empresa vendeu por cerca de R$ 1 bilhão as operações da JBS, localizadas na Argentina, Paraguai e Uruguai, para o frigorífico Minerva. Outra controlada da holding da família Batista de proteína animal posta à venda é a Moy Park, com atuação no ramo de frangos e alimentos processados na Europa, que havia sido comprada da Marfrig, em 2015, por US$ 1,5 bilhão. Em julho, foi a vez da J&F vender sua empresa da área de lácteos Vigor, que também é sócia da Itambé, para o grupo mexicano Lala, por R$ 5,7 bilhões.

Na BRF, uma das principais estratégias é avançar no exterior. No início do ano, se associou a um fundo soberano do Catar e adquiriu a turca Banvit, por meio da OneFoods, sua subsidiária responsável por concentrar os ativos relacionados à produção e distribuição de produtos ao mercado mulçumano.

Já no âmbito interno, o foco da BRF está na criação de uma terceira marca, focada no consumidor de baixa renda, e que não concorra com seus demais produtos. "Agora Sadia será posicionada na alta, Perdigão na média e a nova marca na baixa renda", destaca Grego. A nova operação deverá começar no início de 2018, mas os executivos evitaram dar maiores detalhes. Este novo segmento representa um consumo de cerca de 30% do mercado de alimentos processados, estima a BRF.

Segundo a ABIA, os derivados de carnes puxam a receita da indústria de forma consolidada, com R$ 133,1 bilhões, de um total de R$ 497,3 bilhões.

Rodrigo Petry

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