Alimentos orgânicos: mercado cresce e pesquisa responde desafios de produção
O mercado de alimentos orgânicos tem crescido em nível mundial e, no Brasil, a realidade não é diferente
O mercado de alimentos orgânicos tem crescido em nível mundial e, no Brasil, a realidade não é diferente. A expansão ocorre na faixa de 20% ao ano no País. A produção também tem aumentado: 200% no período de 2001 a 2016. Mas a oferta não acompanha o ritmo do crescimento da demanda, que foi de 330% no mesmo período.
Os dados são apresentados pelo produtor de sementes Carlos Thomaz Lopes, da empresa Grãos Orgânicos Ltda., que produz e comercializa a variedade de milho BRS Caimbé, desenvolvida pela Embrapa. Carlos Thomaz explica que as cadeias produtivas de aves, ovos, leite e carne apresentam aumento crescente de demanda por grãos orgânicos para ração animal. "Essa é uma importante razão para o aquecimento do mercado de milho e soja orgânicos", ressalta.
"Além da maior procura pelos orgânicos no Brasil, o desequilíbrio entre oferta e demanda por esses produtos na Europa e nos Estados Unidos indica que o mercado externo também será importante por muito tempo", analisa o produtor.
Com todo o contexto favorável, Carlos Thomaz acredita que a adesão de agricultores à produção orgânica ainda é lenta por causa de algumas dificuldades. "A legislação exige um período de transição, que no caso do milho é de um ano. É preciso tempo e disciplina para adaptação ao sistema de produção, que não utiliza químicos", afirma. Existem os desafios para fazer o controle de plantas espontâneas e o manejo ecológico de pragas e doenças.
O coordenador técnico regional da Emater-MG Walfrido Albernaz concorda que a transição dos modelos convencionais para a agricultura orgânica tem sido o grande desafio entre os produtores. "Essa mudança requer novos conhecimentos, novas formas de manejo, investimentos e uma atuação coletiva para organização da produção e da comercialização. No sistema convencional, já existe toda uma logística, que envolve a disponibilidade de insumos, serviços, financiamentos e estrutura comercial. Já na agricultura orgânica, essa logística geralmente ainda precisa ser construída".
Uma saída que tem se mostrado interessante para agricultores familiares é a venda de seus produtos para o mercado institucional. O PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) remuneram melhor os produtos orgânicos e estimulam o associativismo. "Esses programas institucionais têm possibilitado a implantação de novas cooperativas, onde a discussão da agricultura de base agroecológica conquista espaço cada vez maior. E os agricultores recebem o preço de varejo pelos produtos", comenta Walfrido.
O técnico da Emater-MG acredita que a agricultura orgânica é uma alternativa de inovação na gestão das propriedades rurais e nas áreas de produção urbanas e periurbanas. "As hortas comunitárias em Sete Lagoas são referência importante na adoção de práticas agroecológicas e há 25 anos constroem sua história de ação coletiva. A orientação técnica da Emater tem se pautado nas práticas de manejo sustentável dos recursos naturais e na comercialização de produtos livres de agrotóxico".
Pesquisas têm indicado cada vez mais respostas para os desafios dos sistemas de produção orgânica. Durante encontro técnico realizado na Fazenda da Mata, em Fortuna de Minas-MG, foram apresentadas alternativas de adubação orgânica, manejo ecológico de plantas espontâneas e controle biológico de insetos-praga.
O engenheiro agrônomo Virgínio Augusto Diniz Goncalves apresentou o sistema de produção adotado na fazenda, que é de propriedade da empresa Grãos Orgânicos Ltda., e produz as sementes de milho BRS Caimbé. Leguminosas, como o feijão-de-porco e a crotalária, são usadas como adubo verde e promovem a fixação biológica de nitrogênio no solo. Há plantio solteiro de milho e também em consórcio, fileiras com leguminosas e com braquiária.
Virgínio relata que as áreas nativas preservadas no entorno das lavouras têm papel importante ao garantir a biodiversidade e a presença de inimigos naturais das pragas. "Recentemente, uma lagarta começou a atacar as áreas cultivadas com feijão-de-porco, e depois foi possível perceber que um inseto predador da praga passou fazer o controle dela", conta o engenheiro agrônomo.
O coordenador técnico estadual de culturas da Emater-MG Sergio Brás Regina falou sobre a importância da análise de solo e de sua interpretação com bases agroecológicas para a produção orgânica.
Sérgio apresentou diversas fontes de adubação, como fertilizantes orgânicos e biocaldas para sistemas agroecológicos. Já o professor Antônio Wilson de Oliveira Malta, da Universidade Federal de Viçosa, Campus Florestal, apresentou resultados de experimentos que demonstram o uso da homeopatia no manejo de plantas espontâneas. O pesquisador Walter Matrangolo, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), apresentou técnicas de controle biológico de insetos-praga.
O Encontro Técnico sobre Produção de Sementes Orgânicas foi realizado no último dia 26 de abril e reuniu mais de 60 pessoas, entre agricultores, estudantes, extensionistas e pesquisadores.
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