Após corte de custos, M. Dias Branco se descola de queda do setor de alimentos
Dono de 30% do mercado nacional de bolachas, grupo cearense cresceu 6% em ano em que setor andou para trás, amparado por portfólio de preço baix
Luciana Dyniewicz, Impresso
16 Junho 2017 | 05h00
Após enfrentar problemas durante a crise – sofrendo com a desvalorização do real e a retração do consumo no Nordeste, seu maior mercado –, a maior fabricante de bolachas e massas do País, a cearense M. Dias Branco, tem sido destaque positivo nos relatórios de investimentos dos bancos. Em tempos de resultados magros, ela tornou-se a favorita dos analistas no setor de alimentos e bebidas.
Com sede em Fortaleza e dona de marcas como Adria e Isabela, a M. Dias conseguiu se descolar do desempenho do setor. No ano passado, o segmento de biscoitos e massas registrou queda de 2,8% no volume de vendas – no mesmo período, a M. Dias Branco avançou 6,1%.
Com um portfólio de massas e bolachas mais simples e sem recheio – justamente as que mais avançaram em tempos de pouco dinheiro disponível no bolso do consumidor –, a companhia acabou levando vantagem sobre as rivais.
Dona de 30% do mercado nacional de bolachas, a M. Dias Branco chega a ter 65% de participação no Nordeste. Para continuar avançando, a empresa tem focado no Sudeste, onde investirá em uma nova fábrica em Minas Gerais.
Entre as medidas adotadas no último ano, o analista do Bradesco BBI, Gabriel Vaz de Lima, destaca as alterações nos preços dos produtos. Em um primeiro momento, a companhia elevou valores para manter suas margens, mas, assim que o preço do trigo caiu, ofereceu descontos. “Ela respondeu rápido às variações (de demanda).”
O setor como um todo teve de recorrer às promoções, diz o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), Claudio Zanão. Após as perdas de 2,8% do ano passado, Zanão projeta que as fabricantes de alimentos encerrarão 2017 com incremento no volume de vendas de até 2%.
Cortes de custos. Apesar de estar em uma situação melhor do que a da concorrência, isso não quer dizer que a M. Dias Branco não tenha sentido o impacto da crise. O grupo cearense havia penado em 2015 – com alta de 0,77% no lucro em um ano em que a inflação foi de 10,67%.
Diante desse cenário, a ordem foi elaborar um orçamento enxuto para 2016. “Percebemos que teríamos de fazer um grande trabalho de redução de custos”, destaca o vice-presidente de investimentos da companhia, Geraldo Luciano Mattos Júnior. A empresa renegociou contratos e demitiu 1 mil funcionários – hoje, são 16 mil.
O resultado desse trabalho apareceu mais claramente no início de 2017. O lucro líquido da companhia atingiu R$ 189,4 milhões de janeiro a março, o dobro do resultado dos três primeiros meses de 2016.
“Eles se prepararam para um cenário muito difícil, e as coisas melhoraram”, destaca o analista do Bradesco BBI, referindo-se principalmente à taxa de câmbio. A desvalorização do real obrigou a companhia a se organizar para um câmbio desfavorável, pois 40% de seus custos são em dólar. O câmbio, após ultrapassar os R$ 4, acabou voltando para a casa dos R$ 3,20, dando fôlego à M. Dias Branco.
Apesar de a maioria dos bancos ver a M. Dias de forma otimista, um analista diz acreditar que os papéis da empresa estão em um patamar muito alto – na quarta-feira, a ação ficou em R$ 49,45 – e que o ano poderá ser desafiador por causa do ambiente macroeconômico.
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