As autoridades de saúde dos Estados Unidos querem retirar do mercado os produtos de homeopatia vendidos como remédios para doenças graves

Marcello Campos 19 de dezembro de 2017

Os Estados Unidos vão barrar alguns produtos homeopáticos que são vendidos como medicamentos. Serão retirados do mercado os produtos indicados para condições graves. Também aqueles que contêm ingredientes potencialmente nocivos serão barrados.
O país, no entanto, ainda estuda quais produtos exatamente serão retirados de circulação.

De acordo com o FDA (Food And Drug Administration, órgão que regula medicamentos no mercado norte-americano), alguns desses compostos são comercializados para uma série de condições (do resfriado ao câncer) sem testes que comprovem sua eficácia.

“Em muitos casos, as pessoas estão depositando sua confiança e dinheiro em terapias que podem trazer pouco ou nenhum benefício na luta contra doenças graves”, descreve a nota do FDA. “Nós respeitamos as pessoas que desejam utilizar tratamentos alternativos, mas temos a responsabilidade de proteger o público.”

Produtos com indicação pediátrica também estarão na mira do FDA, como os derivados da planta “belladona”, que contém elementos tóxicos para o organismo. Itens produzidos com a planta são indicados para doenças reumáticas. Ela também é usada no Parkinson, na asma e como calmante.

Segundo o FDA, os compostos homeopáticos são preparados a partir de uma variedade de fontes, incluindo plantas, minerais, produtos químicos e excreções e secreções humanas e de animais. Esses produtos são normalmente vendidos em farmácias, lojas de varejo e on-line. O mercado desses medicamentos rendeu US$ 3 bilhões na última década, conforme estatísticas oficiais.

Na esteira do crescimento desse mercado, foi nos últimos anos também que o órgão passou a detectar um número crescente de produtos que podem trazer riscos à saúde — e, por isso, uma regulamentação mais forte se faz necessária, diz a agência.

Pseudociência

Considerada por muitos como uma pseudomedicina sem base científica, a homeopatia recebeu já havia sido alvo de uma ofensiva das autoridades de Estados Unidos e Espanha no final do mês passado. A Comissão Federal de Comércio norte-americana denunciou que “a grande maioria” das indicações que vendem os produtos homeopáticos “não estão baseadas em métodos científicos modernos e não são aceitas por especialistas médicos atuais”.

Desde então, esses preparados homeopáticos sem provas de sua eficácia foram obrigados que informar aos consumidores de que “não há evidência científica de que o produto funciona e que as alegadas indicações baseiam-se apenas em teorias da homeopatia do século 18 que não são aceitas pela maioria dos especialistas médicos atuais”.

A Comissão Federal de Comércio é a agência nacional de proteção do consumidor nos Estados Unidos. A sua função é a “prevenção das práticas comerciais fraudulentas, enganosas e desleais no mercado”. Ao redor da homeopatia, inventada pelo médico alemão Samuel Hahnemann em 1796, foi construída uma indústria que atinge vendas de 1,2 bilhão de dólares (4 bilhões de reais) só no mercado norte-americano.

A agência lembrou, ainda, que a homeopatia baseia-se em doses ínfimas, por vezes não detectáveis em água diluída, de substâncias que geram sintomas semelhantes aos da doença que se pretende curar. Em mais de dois séculos, esse método não provou ser mais eficaz do que tomar um gole de água com açúcar.

Já na Espanha, onde a multinacional homeopática francesa Boiron faturou 60 milhões de euros em 2011 (215 milhões de reais), três das principais sociedades farmacêuticas do país responderam a um pedido do grupo FarmaCiencia, composto por farmacêuticos a favor da evidência científica, para se posicionarem contra a homeopatia.

A Sociedade Espanhola de Farmácia Familiar e Comunitária, composta por 3,7 mil associados, sublinhou que “hoje não existem evidências científicas suficientes para provar a suposta eficácia da medicina homeopática”. A entidade lembra que na Espanha, desde 1995, uma disposição transitória permite comercializar milhares de produtos homeopáticos “sem uma análise prévia da sua qualidade, segurança e eficácia por parte da Administração”.

Em um comunicado de 22 de novembro, o órgão frisou que “não concorda que seja autorizado como remédio nenhum produto sem indicações terapêuticas aprovadas, como permite a legislação vigente”. Em outubro, a Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar havia afirmou que “os princípios que sustentam a homeopatia não são científicos”.

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