Azeitonas de Minas, uai!

Menos de uma década depois da primeira experiência de produção de azeite em Minas Gerais, pode-se dizer que o estado entrou definitivamente na rota de cultura e processamento do óleo. Quem decidiu investir nesse no mercado só tem a comemorar

Menos de uma década depois da primeira experiência de produção de azeite em Minas Gerais, pode-se dizer que o estado entrou definitivamente na rota de cultura e processamento do óleo. Quem decidiu investir nesse no mercado só tem a comemorar. Até o mês passado, foram contabilizadas 365 toneladas de azeitonas colhidas e 42 mil litros de azeite extraídos na região Sudeste – volume que já superou o esperado para todo este ano. São cerca de 180 olivicultores, 700 mil oliveiras e um terreno plantado de 2 mil hectares, em cerca de 50 municípios abrangidos pela Serra da Mantiqueira (40 em Minas e 10 em São Paulo), principal polo produtor no país.

Os números podem até ser modestos diante de um consumo de 50 milhões de litros de azeite em todo o país, mas indicam o começo de uma promissora trajetória. “Importamos muito azeite de fora, especialmente de Portugal, e durante muito tempo se disse que não tínhamos condições climáticas para produzi-lo. Agora estamos mostrando que o Brasil pode sim ser produtor do azeite”, diz Luiz Fernando de Oliveira, coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais).

O cultivo comercial de olivas (azeitonas) no país é recente, datado de 2008, mas, nesse pouco tempo, o setor já registra safras recordes a cada ano. Neste ano, a extração de azeite superou em 420% o volume registrado no ano passado e dobrou em relação a 2015, quando foram comercializados 25 mil litros do óleo. Em 2017, um fator fundamental tem sido as condições climáticas favoráveis para a cultura das oliveiras. O plantio na Região Sudeste inclui ainda algumas regiões serranas de São Paulo e Rio de Janeiro.

A Serra da Mantiqueira, que fica a 1,3 mil metros de altitude, é o ambiente ideal para o desenvolvimento das árvores, que precisam do frio para se desenvolver. Por isso, também é grande o cultivo em municípios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Somadas as duas regiões, a produção anual está em torno de 100 mil litros. Como a cultura é nova no país, de uma árvore madura são extraídos 10 quilos de azeitonas, enquanto em países como a Espanha, maior produtor de azeite do mundo, são 35 quilos. Cada litro de azeite produzido demanda cinco quilos do fruto.

A produção nacional é hoje comercializada apenas em casas especializadas, como mercados ou empórios, e nas propriedades onde o azeite é extraído. Para chegar a uma produção em larga escala ainda são necessárias pesquisas e o desenvolvimento de técnicas capazes de baratear a produção. “Como a oliveira demora quatro anos para começar a produzir, você investe sem ter retorno algum durante quatro anos. O retorno financeiro vem a longo prazo”, comenta Luiz Fernando, da Epamig.

Esse aliás é um dos motivos que fazem o azeite brasileiro ter um preço bem superior ao produto importado. Mas não é só isso. Luiz Fernando ressalta que a qualidade nacional é superior, pois o azeite é bem mais jovem que aquele comprado fora do país. Produtores locais têm condições de comercializá-los até 20 dias depois da extração das azeitonas, o que dá mais sabor ao azeite. Os produtos importados ofertados nas gôndolas dos supermercados costumam chegar por aqui depois de um ano da produção. Para 2018, há planos de lançamento de um selo de origem para atestar a qualidade do azeite, em parceira com a Epamig.

TRADIÇÃO

A história das oliveiras no Brasil é antiga. As primeiras mudas foram trazidas ao país pelos padres jesuítas no século 16, e plantadas ao lado das igrejas. No período colonial, alguns fazendeiros cultivaram a planta, mas foram impedidos pela Coroa portuguesa, que agiu em interesse próprio – o país é o principal exportador do azeite para o Brasil. Desde então, segundo Luiz Fernando de Oliveira, foi disseminada a ideia de que o país não tinha solo próprio para o cultivo das árvores.

Na década de 1950, surgiram as primeiras tentativas de produção em São Paulo e no Rio Grande do Sul, que também não vingaram. A Epamig iniciou, então, um trabalho de pesquisas de campo e identificou a Serra da Mantiqueira como um território fértil para as oliveiras. Foram anos de pesquisas até que, em 2008, surgiu o primeiro azeite extravirgem brasileiro, divulgado durante um evento em Maria da Fé, município localizado no Sul de Minas.

O processamento foi feito em uma máquina artesanal. No ano seguinte, o Núcleo Tecnológico Epamig Azeitona e Azeite adquiriu um extrator de azeite, importado da Itália, e passou a processar o óleo em parceira com a Associação de Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive). “Fizemos um evento que foi muito noticiado pela imprensa, despertando o interesse para o assunto. Esse foi o pontapé para os plantios no Sudeste e no Sul do país”, recorda o técnico da Epamig.

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