BRF defende padrões mais rígidos de inspeção de alimentos
Mercado Financeiro / 30 Agosto 2017
A BRF, maior exportadora global de carne de frango, entende que padrões rigorosos de inspeção ajudam a abrir novos mercados para a carne brasileira, disse um executivo da companhia nesta quarta-feira, após muitos países terem se fechado temporariamente para a proteína nacional em meio a uma investigação neste ano sobre propina nas fiscalizações.
A investigação Carne Fraca revelou que inspetores recebiam propina para ignorar falhas na observação dos padrões de qualidade. A polícia acusou mais de 100 pessoas de aceitar propinas para permitir a venda de produtos danificados, falsificar documentos de exportação ou falhar em inspecionar as plantas de processamento.
“Temos que trabalhar junto ao governo porque outros países podem se aproveitar de eventuais falhas no posicionamento do Brasil”, disse o vice-presidente da BRF no Brasil, Alexandre Almeida, durante conferência da indústria.
“Quanto mais rigorosos melhor,” disse ele em relação às inspeções.
Ele disse que a empresa está investindo fortemente para a redução da presença de salmonela nas fábricas, o que ajudaria a melhorar o acesso a mercados externos, disse Almeida.
O ministro da Agricultura Blairo Maggi disse na mesma conferência que o governo está reestruturando os sistemas de controle de qualidade e de fiscalização do país, prometendo que mais detalhes sobre as mudanças serão anunciados em breve.
Ainda segundo Almeida, a BRF avalia que a internacionalização é o melhor caminho para a expansão dos negócios, ao mesmo tempo em que acredita que a elevada carga tributária do Brasil dificulta a competitividade global da empresa.
Demanda
Os frigoríficos BRF e JBS esperam uma melhora da demanda por proteína animal no segundo semestre e nos próximos anos, embora ainda vejam uma recuperação lenta do mercado interno, afirmaram executivos das empresas durante o Salão Internacional da Avicultura e Suinocultura.
“Mantivemos o volume de exportação mesmo com o declínio de condições econômicas e redução de preços. Acreditamos que haverá melhora e estamos preparados para aumentar a produção, o fundamental para a retomada é o fortalecimento do mercado interno que vai vir com melhoria de renda e do emprego”, disse Almeida.
Para Gilberto Tomazoni, presidente global de operações da JBS, esse ano e os próximos também devem ser positivos para o setor. O executivo, no entanto, mostrou alguma preocupação em relação à adequação da produção do Brasil e à demanda mundial.
Tomazoni viu com bons olhos a expectativa da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) de que a produção de aves e suínos deve bater o recorde do ano em agosto, superando 400 mil e 70 mil toneladas respectivamente. No entanto, alertou sobre a possibilidade de colocar uma produção excessiva no mercado.
“O Brasil precisa ter disciplina em relação aos mercados exportadores. Precisamos ter cuidado para não inundar mercados, o que pode gerar barreiras”, disse Tomazoni.
Consumidor
Gilberto Tomazoni, disse existir uma lacuna entre a percepção do consumidor sobre a indústria e a realidade no que se refere a questões de sustentabilidade e bem-estar animal. Em discurso no Siavs, o executivo comparou a percepção de consumidores e de ativistas sobre a indústria de alimentos e o que, segundo ele, é a indústria de fato.
“A percepção do consumidor é a de que a agricultura é feita por grandes produtores, mas quando olhamos a cadeia vemos mais de 130 mil pequenos produtores”, disse o executivo.
De acordo com ele, a JBS está investindo em comunicação e transparência para mostrar seus processos de produção. Além disso, está assumindo compromissos públicos como o anunciado na semana passada, de só comprar ovos, utilizados como ingredientes em seus produtos, provenientes de galinhas criadas livres de gaiolas.
Até 2020, os produtos fabricados pela JBS não farão mais uso de ovos provenientes de animais confinados. “Queremos subir a barra e ser referência em sanidade; queremos trazer o que há de melhor nesse setor”, disse sobre a contratação de Alfred Almanza pela JBS.
O executivo passou quase 40 anos no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) e assumiu agora a posição de diretor global de segurança dos alimentos e garantia da qualidade, da empresa. “O grande desafio é fechar essa lacuna e temos plena consciência de que estamos só começando”, disse Tomazoni.
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