Carrefour segue GPA e novo formato de negociação com a indústria avança
Modelo pautado no uso de dados sobre o perfil do cliente para direcionar oferta do fabricante, na condição de que a marca 'banque' o desconto ao consumidor, deve mudar as relações comerciais
São Paulo – Depois do Grupo Pão de Açúcar lançar o Meu Desconto, aplicativo que oferece ofertas direcionadas ao cliente e que gerou mudanças na relação comercial com os fornecedores, é a vez do Carrefour dar um primeiro passo em direção a nova modalidade de negociação com os fabricantes.
O varejista francês anunciou ontem o lançamento do app Meu Carrefour, que, assim como o concorrente, disponibiliza descontos personalizados aos consumidores cadastrados – de acordo com o histórico de compras. O programa de benefícios também oferece ofertas massivas, para todos os clientes das lojas. "Em um primeiro momento vamos ter um mix de ofertas massivas e direcionadas. Mas a tendência é que as ofertas direcionadas ganhem gradativamente mais espaço", explica a diretora de marketing do Grupo Carrefour no Brasil, Silvana Balbo.
Segundo ela, as ofertas direcionadas podem "ampliar o cardápio de negociação com os fabricantes". Em outras palavras, deve surgir uma nova modalidade de negociação, onde o fornecedor arcaria com os custos integrais dos descontos. Em contrapartida, ele pode realizar oferta mais assertiva e direcionada, focando em um público ou região específica. Além disso, não haveria a necessidade do gasto com verbas publicitárias, já que os produtos seriam divulgados dentro do próprio aplicativo.
O modelo comercial, que já está em funcionamento no GPA, não deve ser implementado de imediato no Carrefour, mas a empresa sinalizou que deve adotar o modelo no futuro. O head de e-commerce do grupo, Luiz Henrique Escobar, contou que a empresa já começou a conversar com algumas indústrias sobre o assunto, e que todas demonstraram interesse, mas que para a modalidade evoluir é preciso ter mais volume. "Para eles [indústria] é muito vantajoso, porque gastariam dinheiro com uma oferta mais assertiva. Para evoluir, no entanto, é preciso ter mais volume", afirma.
O sócio-fundador da consultoria b.Retail, Sandro Benelli, afirma que o novo modelo de negociação com a indústria deve ganhar cada vez mais força no varejo. "É uma modalidade de negociação que aos poucos vai ganhando corpo", diz. O consultor é membro do conselho administrativo da Bombril e do Lopes Supermercados, e já trabalhou tanto no Grupo Pão de Açúcar quanto no Carrefour. De acordo com ele, a modalidade é vantajosa para a indústria e varejo. Para os fabricantes, ele diz que o esquema é benéfico porque permite ofertar o desconto de forma segmentada. "Ele pode oferecer para quem já é seu cliente ou para quem é cliente do seu concorrente, com o intuito de ganhar aquele consumidor. O modelo é melhor também para a indústria aferir o resultado do investimento."
Já para o varejo, além do benefício de não ter que arcar com o custo das promoções – que seria 'bancado' pela indústria – há uma vantagem na medida em que a imagem que fica para o cliente é a que o varejista que concedeu o desconto.
Com o lançamento do programa de benefícios, o objetivo inicial do Carrefour é gerar maior recorrência e fidelização através das ofertas personalizadas. A empresa passará a ter acesso a dados mais detalhados da jornada de compra e do perfil do consumidor, podendo usar as informações para segmentar as ofertas de produtos.
E-commerce alimentar
Na ocasião, o Grupo Carrefour anunciou também o início da venda de alimentos na internet. O anúncio veio meses depois que a empresa voltou a operar no comércio eletrônico, com a venda de bens duráveis e semi-duráveis pelo site oficial, no final do ano passado.
Em um primeiro momento, a venda de produtos alimentares estará disponível apenas através do app. A ideia, segundo o gerente de e-commerce alimentar do Carrefour, Daniel Viana, é que nos próximos meses a venda se estenda também para o site da companhia.
A entrega dos itens partirá de um centro de distribuição exclusivo para o e-commerce alimentar, localizado no bairro de Campo Belo, em São Paulo. O CD, chamado de dark store pela empresa, abastecerá um raio de 10 km da localização, abrangendo 200 bairros da cidade de São Paulo, nas regiões da Zona Oeste, Sul e Centro. Dependendo da evolução deste primeiro dark store, o Carrefour investirá em novos centros. "A evolução do primeiro será determinante para traçarmos o plano de expansão para os dark stores", afirma Silvana.
De acordo com o head de e-commerce do grupo, Escobar, a expectativa é que demore em torno de um ano para que o primeiro CD atinja a maturidade, demandando um novo centro para abastecer a região.
Questionado sobre a possibilidade de oferecer a modalidade 'click & collect', onde o consumidor compra no comércio eletrônico e retira na loja física, o executivo afirmou que está no radar da empresa, mas que no primeiro estágio a funcionalidade ainda não será disponibilizada. O e-commerce alimentar do Carrefour, que começou a operar ontem, já conta com um sortimento de seis mil produtos, que deve ser ampliado. A entrega é feita no dia seguinte da compra e conta com seis opções de períodos, entre às 7h e as 21h.
Pedro Arbex
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