Centro Boldrini recebe 500 frascos de remédio alemão importado por conta própria para tratar leucemia
Amostras vão garantir o tratamento de crianças até setembro, segundo a unidade. Governo federal passou a importar produto chinês no começo do ano; especialistas criticam.
Por G1 Campinas e região
02/06/2017 15h19
O Centro Boldrini, referência na América Latina no combate ao câncer infantil, recebeu, na manhã desta sexta-feira (2), 500 frascos da asparaginase alemã, que era usada no tratamento da Leucemia Linfóide Aguda (LLA) antes do Ministério da Saúde trocar o medicamento para um produto chinês. As amostras foram importadas por conta própria pelo hospital de Campinas (SP), já que a unidade se recusa a usar o novo remédio comprado pelo governo federal por não haver comprovação de eficácia, segundo especialistas e testes realizados.
De acordo com a unidade, os frascos foram importados em nome do Boldrini e devem garantir o tratamento das crianças até setembro. No dia 19 de maio, o hospital já havia recebido um lote emergencial com 18 frascos, para o acompanhamento de novos pacientes. O centro chegou a espalhar outdoors pela cidade para alertar sobre o uso de remédio sem comprovação de eficiência.
De acordo com especialistas, cerca de quatro mil crianças precisam de um componente chamado asparagina, que tira o alimento das células malignas da LLA. Até o início deste ano, o Ministério da Saúde importava a Asparaginase de laboratórios alemães e americanos, cuja eficiência é de 90% e possui apenas três impurezas, segundo testes. No entanto, o impasse começou quando, no início deste ano, a pasta decidiu comprar o remédio do fabricante chinês (Leuginase).
Disputa judicial
A importação do Leuginase foi questionada na Justiça pelo Centro Boldrini. No pedido, o hospital solicitava que a União fosse obrigada a comprar 150 frascos do medicamento usado anteriormente.
No dia 12 de maio, a Justiça Federal determinou que o Ministério da Saúde fizesse a importação da asparaginase alemã para qualquer hospital do Brasil que realize o tratamento da doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pedisse o produto por via judicial. A decisão foi em primeira instância e a União recorreu, alegando que o Boldrini já recebe recursos do "governo federal para quisição da asparaginase de sua conveniência".
O G1 consultou um especialista para entender as principais diferenças entre os dois medicamentos. Entenda os problemas apontados.
Testes
De acordo com a oncologista e presidente do Boldrini, Sílvia Brandalise, a quantidade de proteína (impureza) no remédio europeu é de 0,5%. O teste encomendado pelo Boldrini e executado por um laboratório americano mostrou que a Leuginase tem índice de contaminação de 40%.
O primeiro teste encomendado pelo centro, feito pelo Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), já havia apontado que o produto apresenta 398 impurezas.
Versões
Ainda no dia 19 de maio, o Ministério da Saúde enviou uma nota técnica a hospitais, associações e entidades do setor para informar que testes oficiais teriam comprovado a qualidade do medicamento Leuginase.
No documento, a pasta apontava que dois lotes distintos do Leuginase – que tem como princípio ativo a L-asparaginase – foram testados pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde. A unidade é ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pré-qualificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
No entanto, o Centro Boldrini afirmou ao G1 que enviou um ofício ao diretor do Ministério da Saúde pedindo esclarecimentos sobre a nota técnica divulgada pela instituição, que descartava risco no uso do medicamento chinês Leuginase contra leucemia.
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