CEO da Merck, que é negro, deixa conselho de Trump em protesto à reação sobre violência em Charlottesville

Em reação, o presidente criticou preços da farmacêutica no Twitter.

Por G1

14/08/2017 13h44

O presidente-executivo da Merck & Co., Kenneth Frazier, decidiu sair do Conselho Americano de Manufatura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta segunda-feira (14), dizendo estar assumindo uma posição contra a intolerância e o extremismo, informa a agência Reuters.

Frazier, que é afro-americano, é o único CEO até agora a deixar um dos conselhos consultivos de Trump devido à reação do presidente em relação à violência no estado da Virgínia, onde houve uma marcha da extrema-direita, que é contra negros, imigrantes, gays e judeus.

A manifestação de centenas de nacionalistas brancos em Charlottesville tomou um rumo violento, quando um homem lançou seu carro sobre um grupo de manifestantes contrários aos supremacistas e matou ao menos uma pessoa. O atropelador, de 20 anos, teve a liberdade por pagamento de fiança negada nesta segunda em uma audiência na qual participou por videoconferência.

Moradores tentam entender violência em Charlottesville, nos EUA

Trump se manifestou no sábado pelo Twitter, dizendo: "Todos devemos estar unidos e condenar tudo o que representa o ódio. Não há lugar para esse tipo de violência na América. Vamos continuar unidos". O presidente foi muito criticado por sua resposta tanto por democratas como republicanos.

Na avaliação dos críticos, a mensagem divulgada no sábado deixou implícita uma condenação tanto dos manifestantes de extrema direita quanto dos anti-extremistas, já que não nomeou os grupos extremistas explicitamente em sua declaração. O episódio em Charlottesville é a primeira grande crise interna de Trump como líder do país.

"Os líderes da América devem honrar nossas visões fundamentais rejeitando claramente expressões de ódio, intolerância e supremacia grupal, que vão de encontro ao ideal americano de que todas as pessoas são criadas iguais", disse Frazier, em comunicado anunciando a renúncia.

"Como CEO da Merck e por uma questão de consciência pessoal, sinto a responsabilidade de assumir uma posição contra a intolerância e o extremismo", disse.

Horas após a renúncia de Frazier, Trump voltou a falar sobre a violência na Virgínia e chamou de "repugnantes" os grupos neonazistas e as entidades que pregam a supremacia branca, e disse que o racismo é "perverso". Trump disse que "muitos lados" se envolveram, atraindo críticas de todo o espectro político por não denunciar especificamente a extrema-direita.

No Twitter, Trump respondeu sobre a saída do CEO que, agora que "Ken Frazier, da Merck Pharma, renunciou ao Conselho de Manufatura do Presidente, ele terá mais tempo para ABAIXAR OS PREÇOS EXTORSIVOS DOS REMÉDIOS!".

Now that Ken Frazier of Merck Pharma has resigned from President's Manufacturing Council,he will have more time to LOWER RIPOFF DRUG PRICES!
— August 14, 2017

Protestos anteriores contra Trump

Vários executivos de grandes empresas dos EUA abandonaram conselhos presidenciais consultivos em protesto contra políticas de Trump.

Elon Musk, CEO da Tesla, e Robert Iger, CEO da Walt Disney, deixaram o Fórum de Estratégias e Políticas do presidente, um grupo empresarial de aconselhamento, em junho depois que Trump disse que iria retirar seu país do acordo climático de Paris. Musk também deixou o Conselho de Manufatura.

Travis Kalanick, ex-diretor-executivo do Uber, abandonou o conselho empresarial consultivo em fevereiro em meio à pressão de ativistas e empregados que se opunham às políticas imigratórias do governo.

Charlottesville e retirada de estátua

A cidade de Charlottesville, que tem pouco mais de 50 mil habitantes, foi escolhida como palco dos protestos da extrema-direita após anunciar que pretende retirar uma estátua do general confederado Robert E. Lee de um parque municipal.

O general Lee comandou as forças da Virgínia na Guerra Civil Americana (1861-1865), e chegou a general-em-chefe confederado. A Virgínia integrava os Estados Confederados — a união de seis estados separatistas do Sul dos Estados Unidos, durante esse conflito.

Esses estados buscaram a independência para impedir a abolição da escravidão. Mesmo após a derrota definitiva no conflito, Lee se tornou um símbolo dos movimentos de extrema-direita norte-americanos, que ainda hoje o lembram como um herói.

A remoção da estátua de Lee foi considerada como uma afronta pelos grupos de extrema-direita, que decidiram protestar. Atualmente, várias cidades americanas vêm retirando homenagens a militares confederados – o que tem gerado alívio, de um lado, e fúria, de outro.

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