Citada em delação por compra de MPs, Hypermarcas volta a buscar sócio

Dona da 2ª maior fabricante de genéricos do País, companhia, segundo fontes, manteve conversas com rivais como Eurofarma, Biolab e EMS, mas acordo esbarra em preço alto e em questões jurídicas

Mônica Scaramuzzo e Fernando Scheller, O Estado de S.Paulo

25 Setembro 2017 | 05h00

Citada na recente delação do doleiro Lúcio Funaro por suposto pagamento de propina de R$ 5 milhões ao ex-deputado Eduardo Cunha para compra de medidas provisórias, a Hypermarcas voltou a procurar um sócio nas últimas semanas, segundo apurou o Estado. Assessores financeiros da companhia, que pertence ao empresário João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, tiveram conversas reservadas nas últimas semanas com as principais farmacêuticas brasileiras, incluindo Biolab, Eurofarma e EMS, de acordo com fontes próximas às empresas. A Hypermarcas chegou perto de um acordo com a americana Pfizer.

As negociações, no entanto, têm enfrentado entraves. No caminho da busca de um sócio, está a situação legal da empresa, considerada delicada por eventuais compradores. Além da recente citação de Funaro, Nelson Mello, ex-executivo de relações institucionais da Hypermarcas, havia dito em 2016 que propinas pagas pela empresa a políticos do PMDB somariam cerca de R$ 30 milhões.

Há receio de que as investigações cheguem ao controlador do negócio, embora, à época, a empresa tenha afirmado em nota que Júnior não teve participação ou anuência nos atos praticados por Mello. Segundo fontes próximas às negociações, esse aspecto legal teria posto fim às conversas com a Pfizer, que não sentiu segurança para seguir com a compra.

Pesa ainda o porte da companhia, que exigiria um alto desembolso. O valor de mercado da Hypermarcas na B3 (nova denominação da Bolsa paulista) é de cerca de R$ 21 bilhões. Hoje, a NeoQuímica, principal negócio da empresa, é o segundo maior laboratório de medicamentos genéricos do País. Segundo uma fonte, o comprador natural para a Hypermarcas seria a EMS, do empresário Carlos Sanchez, que já é líder do segmento e poderia, com a NeoQuímica, ampliar essa dianteira.

Outro problema levantado pelos compradores, segundo apurou o Estado, seria o fato de que Júnior teria a intenção de continuar sócio do negócio.

Uma fonte do setor diz que, do ponto de vista jurídico, com a saída do fundador, um contrato poderia proteger um possível comprador. E cita o caso do grupo J&F, dono da JBS, que conseguiu vender participações em negócios relevantes – como Alpargatas (dona da Havaianas), Eldorado (de papel e celulose) e Vigor (laticínios) – em meio ao processo de delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Mesmo com os empresários presos, o grupo já anunciou a conclusão da venda da Alpargatas, e a expectativa é que os outros dois negócios sejam finalizados ainda nesta semana.

Ações. Apesar de a delação de Funaro, revelada no último dia 13, citar a Hypermarcas, o desempenho dos papéis na B3 tem sido positivo. A empresa atingiu na última semana sua máxima histórica – na sexta-feira, a ação fechou acima de R$ 33.

No segundo trimestre, o lucro líquido foi de R$ 194,9 milhões, alta de 10,5% em relação ao mesmo período do ano passado. A receita líquida, na mesma comparação, teve crescimento de 5,6% e ficou em R$ 852,3 milhões entre abril e junho deste ano.

O humor do mercado com a companhia melhorou desde que a empresa desistiu de ser uma “Unilever brasileira” – com marcas de higiene, beleza e limpeza – para focar na NeoQuímica, seu negócio mais rentável. Só em 2015 e 2016, a empresa arrecadou mais de R$ 5 bilhões com venda de ativos, reduzindo seu endividamento (ler mais ao lado).

Em relatório relativo aos resultados do segundo trimestre, o analista Guilherme Assis, do banco Brasil Plural, reafirmou a recomendação de compra da ação da Hypermarcas, embora tenha ressalvado que a empresa tem pela frente o desafio de criar novas marcas e produtos para continuar a apresentar ganhos de fatia de mercado. Assis disse ainda que, apesar de alguns dados do balanço terem vindo abaixo do esperado pelo banco, a empresa conseguiu compensar esse efeito com controle de custos. Outro ponto positivo da Hypermarcas para 2017 é a expectativa de pagamento de dividendos aos acionistas.

Outro lado. Em comunicado enviado ao Estado, a Hypermarcas nega veementemente quaisquer negociações em andamento sobre a venda da companhia ou de partes de seu portfólio.

Procuradas, as empresas Biolab, Eurofarma, EMS e Pfizer não quiseram comentar o tema. Mas, em nota, a Pfizer disse que tem como meta “a expansão do alcance de seu portfólio e está sempre avaliando oportunidades para expansão do acesso da população a medicamentos de qualidade”.

0 respostas

Deixe uma resposta

Quer participar da discussão?
Fique a vontade para contribuir!

Deixe uma resposta