Coca, Pepsi e outros gigantes apostam em adoçante paraguaio
Produtos com stevia foram impulsionados em 2011, quando a União Europeia aprovou seu uso em alimentos. Planta registrada pela primeira vez no Paraguai, em 1899, avança contra rivais sintéticos e o açúcar
Adrian Scottow
Mais de 10 mil produtos com stevia foram levados ao mercado nos últimos seis anos.
15/08/2017 | 15h27 | The Washington Post
Na última década, uma erva pouco conhecida e 200 vezes mais doce que o açúcar se tornou uma indústria global de US$ 4 bilhões. Ela começou a aparecer em tudo, dos refrigerantes da Coca-Cola ao ketchup da Heinz. Nada mal para um produto que muitas pessoas ainda consideram levemente amargo.
A planta da stevia, processada em um adoçante de caloria zero, decolou como alternativa ao açúcar. Seu consumo triplicou de 2011 a 2016, segundo pesquisa da agência de inteligência de mercado Euromonitor International. Mesmo que ela ainda represente uma pequena parte das vendas de adoçantes, companhias como a gigante de alimentos Cargill estão investindo em produtos com stevia – o que inclui investimentos para melhorar o gosto.
“Este é um mercado com um grande potencial de crescimento”, afirma Jonathan Hugh, chefe da divisão agroindustrial da EF&F Man, companhia de comércio de commodities com participação na empresa de adoçantes Unavoo Sweetner. “Observamos várias oportunidades de investimentos”.
Encontrar um substituto de baixa caloria ao açúcar que não altere o sabor de marcas consolidadas é um desafio de longa data, especialmente devido à epidemia global de obesidade e taxas crescentes de diabetes. Ao longo dos anos, isso levou à criação de adoçantes artificiais como o aspartame, a sucralose e o xylitol. O problema é que muitos consumidores dizem sofrer efeitos colaterais pelo uso desses adoçantes, ou ficam preocupados com a ingestão de aditivos químicos.
Já a é frequentemente apresentada como uma opção natural porque deriva do extrato de plantas, praticamente não tem calorias e possui uma taxa de glicemia próxima a zero, o que significa que pode ser consumida por diabéticos.
Produtos com : aposta de gigantes
Batizada pelo botânico espanhol Moises Santiago de Bertoni, no Paraguai, em 1899, a stevia faz parte de uma família de plantas de flor de girassol que cresce na América do Sul há centenas de anos, principalmente em solo paraguaio, país em que a planta foi declarada Patrimônio Genético em 2012. Ela não recebeu muita atenção até 2008, quando uma das maiores companhias agrícolas do mundo, a Cargill, introduziu um adoçante baseado em stevia nos Estados Unidos.
A demanda só cresceu desde então e foi impulsionada em 2011, quando a União Europeia aprovou o uso da stevia em alimentos. A substância agora é encontrada em saladas, gomas de mascar e até mesmo em lenços umedecidos para bebês. As plantas de stevia, que prosperam em regiões quentes, agora são cultivadas em mais lugares, o que inclui Paraguai, Kenya, China, Estados Unidos, Vietnam, Índia, Argentina e Colômbia.
Mais de 10 mil alimentos e bebidas com stevia foram levados ao mercado nos últimos cinco anos, sendo que mais de 70% nos últimos três anos, segundo a companhia PuerCircle, uma marca da Malásia comandada pelas exportadoras de commodities Olam e Wilmar.
Apenas no Reino Unido, os novos produtos com stevia triplicaram nos últimos quatro anos, segundo a consultoria de produtos para o varejo Mintel. A substância é usada principalmente em refrigerantes, mas vem ganhando terreno em molhos, ketchups, barras de cereais, pipoca e pastas de dente, afirma David Jago, diretor de inovações e ideias da Mintel.
Já a Vevey, uma companhia suíça pertencente à Nestlé, maior companhia de alimentos do mundo, está utilizando stevia em sucos de frutas no Brasil, em cafés na Coreia do Sul e em uma nova linha de chás gelados da Nestea. A empresa de chocolate premium Lindit também vai anunciar um chocolate com stevia em breve, nos Estados Unidos. As maiores empresas de refrigerantes do mundo, a Coca Cola e a Pepsi também estão adicionando a substância às bebidas dietéticas.
Corrigindo o sabor da stevia
Apesar de tudo isso, o açúcar ainda é o rei dos adoçantes, com participação de 83% do mercado, segundo a consultoria agrícola LMC Internacional. A stevia ainda encontra dificuldades entre os consumidores, em parte por ter um gosto residual amargo em suas várias formas. A demanda segue crescendo, mas a produção de stevia caminha a passos lentos desde 2012, com crescimento de apenas 2,1% em 2016, chegando a 1,038 milhão de toneladas, segundo dados da Euromonitor.
“O gosto da stevia vem sendo um desafio, o que significa que muitas indústrias têm de combinar stevia com açúcar para mascarar um pouco”, afirma John George, especialista em análise de ingredientes da Eruomonitor Internacional. “A esperada revolução não aconteceu”.
A correção do sabor da stevia pode ajudar o crescimento a taxas mais altas e os produtores estão testando novas fórmulas, segundo George.
Em 2018, a Cargill pretende introduzir a próxima geração do adoçante, batizada de EverSweet, que a companhia afirma ser mais fácil de produzir em altas quantidades e sem gosto de alcaçuz (planta da qual se extrai um xarope para confeitaria e medicamentos). A ED&F Man também planeja lançar, ainda neste ano, um produto quase indistinguível do açúcar. Já a Archer-Daniels-Midland, uma das maiores produtoras de xarope de frutose, está fazendo testes para melhorar sua marca Sweetright.
A stevia pode ser a melhor chance de a indústria cortar o açúcar, produto do qual os consumidores vêm lentamente se afastando. “Há uma guerra contra o açúcar, e a stevia está em uma boa posição”, afirma Sara Girardello, diretora da LMC Internacional. “Todo mundo aposta nela agora”.
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