Decisão difícil para oncologistas: a quem receitar novo remédio

07/07/201716h53

Michelle Fay Cortez e Caroline Chen

(Bloomberg) — Essa é uma escolha que nenhum médico quer fazer: qual paciente receberá uma chance de viver, qual não receberá.

Trata-se de uma decisão que os oncologistas poderão enfrentar em breve quando os dois primeiros produtos de uma nova forma revolucionária de tratamento contra o câncer chegarem ao mercado dos EUA neste ano.

Ao contrário dos comprimidos e da quimioterapia, o tratamento conhecido como CAR-T não pode ser armazenado. Como o tratamento é personalizado e envolve a reengenharia das células de um paciente em um laboratório especializado, a logística para levar o CAR-T aos milhares de americanos que poderão ser aptos para receber o tratamento ainda neste ano é excepcionalmente desanimadora. Alguns pacientes com câncer no sangue que enfrentam iminência de morte não o receberão a tempo, pelo menos inicialmente, o que força os médicos a tomarem decisões difíceis.

"Deus, é terrível", disse um dos pais fundadores do tratamento CAR-T, Carl June, da Universidade da Pensilvânia, inconsolável ao lembrar das crianças que não conseguiu salvar. "Não consigo expressar como isso é horrível."

O tratamento CAR-T tem o potencial de se tornar um grande sucesso para as fabricantes dos primeiros medicamentos, a gigante suíça Novartis e a Kite Pharma, da Califórnia, com vendas anuais que atingirão US$ 1 bilhão em cinco anos, segundo estimativas de analistas. A curto prazo, as empresas farmacêuticas enfrentam três grandes desafios para levar seus tratamentos aos pacientes uma vez que estejam aprovados pela FDA: um complexo processo de fabricação que dura uma semana; efeitos colaterais possivelmente letais; e o número limitado de centros médicos que estarão prontos para o CAR-T no momento do lançamento — menos de 50.

A Novartis informou aos investidores, no mês passado, que seu tratamento será voltado a cerca de 49.000 pacientes com câncer de sangue em todo o mundo com a forma mais comum de linfoma não-Hodgkin. A primeira indicação a receber aprovação, em outubro, será uma forma ultrarrara de leucemia recidivada que se desenvolve em cerca de 2.200 crianças e jovens adultos a cada ano.

A Novartis afirmou que já produziu mais de 250 coquetéis de CAR-T em diversos estudos clínicos. Embora o número ainda represente uma pequena fração da população elegível, a farmacêutica informou que está tomando as medidas necessárias para ampliar o total.

"Estamos confiantes de que poderemos atender às necessidades dos pacientes", afirmou a Novartis, por e-mail.

A Kite informou que adotará uma abordagem deliberadamente prudente, com uma introdução "segura e estável" de seu produto. Cerca de 7.400 pacientes americanos serão elegíveis para sua aprovação inicial, para linfoma não-Hodgkin agressivo, esperada para novembro.

O tempo não é o único obstáculo. Outra barreira é a falta de centros de infusão qualificados. As equipes médicas precisam aprender a identificar efeitos colaterais potencialmente mortais, incluindo síndrome de liberação de citocinas, uma resposta inflamatória ao tratamento que matou vários pacientes, inchaço no cérebro e infecções. Até mesmo hospitais experientes, como o Fox Chase Cancer Center, na região nordeste da Filadélfia, levaram meses para se preparar.

A Novartis começará com 30 a 35 locais credenciados, enquanto a Kite, que tem sede em Santa Monica, planeja contar com 10 locais a princípio.

Versão em português: Taís Fuoco em São Paulo, tfuoco1@bloomberg.net.

Repórteres da matéria original: Michelle Fay Cortez em Mineápolis, mcortez@bloomberg.net, Caroline Chen em São Francisco, cchen509@bloomberg.net.

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