Diferenças entre cobaias e humanos explicam fracassos de novos medicamentos
Redação do Diário da Saúde
Os camundongos são usados há quase um século nas pesquisas científicas – mas o que funciona para eles não funciona para nós.
Células beta
Pesquisadores do King's College (Reino Unido) e da Universidade de Lund (Suécia) afirmam que agora podem explicar detalhadamente por que os medicamentos para diabetes que funcionaram em experimentos com animais não são igualmente bem-sucedidos em seres humanos.
Eles descobriram diferenças – mas também semelhanças até agora desconhecidas – na função das células beta, responsáveis pela produção de insulina, entre os animais de laboratório e os seres humanos.
A equipe mapeou uma categoria de receptores, conhecidos como receptores acoplados à proteína G (GLP), que controlam a função das células beta. Em seguida, eles compararam a presença desses receptores em células humanas com sua presença nos dois tipos de camundongos de laboratório que vêm sendo utilizados há mais de 100 anos para estudar doenças humanas.
Você é um homem ou um camundongo?
Uma das diferenças é que os humanos não possuem uma grande parte dos receptores acoplados à proteína G nas células beta produtoras de insulina presentes nos camundongos. Por sua presença nos animais de laboratório, inúmeros medicamentos foram ou estão em desenvolvimento focando esses receptores, que simplesmente não existem no homem, virtualmente condenando muitos desses fármacos ao fracasso – os pesquisadores salientam que alguns dos receptores existem apenas nos camundongos, enquanto outros estão presentes apenas nos seres humanos.
"Isto significa que um fármaco desenvolvido para estimular ou inibir um receptor específico que, nos camundongos, pode levar ao aumento da produção de insulina, [esse fármaco] poderá não ter efeito nos seres humanos, nem mesmo causar sintomas não-benéficos ou semelhantes ao diabetes.
"Nossos resultados mostram que há uma grande diferença entre camundongos e humanos, e também que há diferenças entre os dois tipos de camundongos," disse o Dr. Stefan Amisten, coordenador da equipe.
Outro estudo já havia demonstrado que o que funciona no coração do camundongo não funciona no coração humano.
Estudos em animais produzem excesso de falsos positivos
Mais diferenças
Outra descoberta é que o receptor GLP-1 é produzido em proporção muito maior nos camundongos do que nas células beta humanas. O receptor GLP-1 é ativado por um hormônio liberado pelas células intestinais quando comemos, potenciando a secreção de insulina e também retardando significativamente o esvaziamento gástrico.
"Então a questão é se o que estamos vendo é meramente um efeito das células beta, ou também um efeito estomacal que, por sua vez, resulta em menor consumo de alimentos e consequentemente menor nível de açúcar no sangue," detalhou o professor Albert Salehi, membro da equipe.
Por que continuar com os camundongos?
Como o suprimento de células beta produtoras de insulina humanas é limitado a células de doadores de órgãos, as células de camundongos vêm sendo usadas extensivamente no desenvolvimento de novos medicamentos. O problema é que mesmo os melhores resultados obtidos com as cobaias raramente são alcançados quando se testa o novo fármaco em células humanas.
"Todos sabem disso e é uma fonte de grande frustração para os pesquisadores e a indústria farmacêutica. É então correto continuar a desenvolver fármacos com base em pesquisas realizadas em camundongos, quando esses fármacos não poderão ser usados em humanos?" questiona Salehi.
O estudo foi publicado na revista Nature Scientific Reports.
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