Doçuras à beira-mar

A produção do cacau destaca a cidade de Ilhéus como referência nacional na produção de chocolate. Visitantes podem fazer tours por fazendas que trabalham com o fruto e conhecer o processo

» Álef Calado*

Publicação: 02/08/2017 04:00

Quando você pensa na fabricação de chocolate, qual a primeira cidade brasileira que vem à sua cabeça? Muitos devem pensar, quase que instantaneamente, na charmosa, pacata e extremamente fria Gramado, na serra gaúcha, Rio Grande do Sul. O que pouca gente sabe é que vem de um estado bem mais quente, há quase 3 mil km da terra do chimarrão, mais de 70% da principal matéria prima para a fabricação do doce.

O clima agradável e o solo fértil foram essenciais para que o cultivo do cacau se estabelecesse extremamente bem no litoral sul da Bahia. Segundo dados da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), no ano passado, das 146,9 mil toneladas do fruto produzidas no Brasil, 101,3 mil cresceram em lavouras na região baiana. Um dos pontos cacaueiros mais importantes do estado é a cidade turística de Ilhéus, onde o fruto desembarcou em meados dos anos 40 e faz parte da história do município.

Quase tão bom quanto degustar os chocolates ilheenses é conhecer, de pertinho, a fabricação da guloseima. Para isso, grande parte das fazendas responsáveis pela colheita do cacau montam programações especiais para visitantes. Mas antes, um aviso: ainda no hotel, certifique-se de estar com tênis confortáveis, preparado para pisar na lama, e de levar repelente, protetor solar e um boné; itens quase obrigatórios para sobreviver nas plantações.

Um dos destinos mais procurados é a Fazenda Yrerê, na Rodovia Jorge Amado. Quem recepciona os turistas é a Amora, uma Fox Paulistinha extremamente dócil que faz questão de um cafuné. Com mais de 200 anos de história — 140, só de plantio de cacau — o rancho é uma antiga sesmaria doada aos primeiros donos pela coroa portuguesa. Antes do fruto, a principal atividade comercial do local era a extração de madeira; então, o visitante encontra exemplares de praticamente todas as espécies de árvores.

O bolo de chocolate da dona Dadá, na fazenda Yrerê, é imperdível

Na hora de conhecer a plantação, além da Amora, quem acompanha os visitantes é o fazendeiro Gérson Marques, proprietário do local. Explicações sobre o plantio e a extração do cacau, assim como histórias da fazenda e a prova in natura do fruto fazem parte do tour. Saindo do mato, conhecemos a barcaça, onde os grãos de cacau secam ao sol.

Subindo de volta para a sede, um local que encanta pelos detalhes e chama a atenção pela beleza, o melhor momento do passeio: a degustação. Não deixe de experimentar o incrível bolo de chocolate caseiro da dona Dadá. Para acompanhar, jarras do mais puro suco de cacau, uma iguaria deliciosa da região. Tanto a amêndoa quanto o nibs — pedaços tostados do grão — e até mesmo alguns chocolates fabricados com o fruto de Yrerê também estão disponíveis para degustação.

* Estagiário sob supervisão de Taís Braga

Cuidado com a Santa!
Quando Gerson e Dadá resolveram investir no potencial histórico do sítio, eles optaram por mudar o nome da fazenda, que se chamava Nossa Senhora de Fátima. Com medo de irritar a Santa, eles chamaram uma mãe de santo para fazer um trabalho diplomático e garantir que estava tudo bem.

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