Em workshop, Abia debate os caminhos da alimentação brasileira

Jornal do BrasilRebeca Letieri

"Liberdade de escolher os alimentos": esse foi o lema do workshop organizado pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) na manhã desta quarta-feira (18) em São Paulo. Como alcançar essa liberdade? Através da informação.

O jornalista Marcelo Tas, que mediou a mesa com especialistas da área de indústria alimentícia e nutricionistas, ressaltou a importância de haver mais debates aprofundados sobre temas tão importantes como saúde e alimentação, para fugir da polarização de discussões rasas que o mundo enfrenta hoje.

O esclarecimento da população e do consumidor foi a principal defesa de todos os participantes do evento, para que dessa forma seja possível alcançar um empoderamento e autonomia tão desejados.

O Brasil, que já não faz parte do mapa da fome, ainda lida com parcelas de sua população em sobrepeso e desnutrição. A obesidade, entretanto, não foi analisada como algo oposto à fome, e sim como "fome oculta", já que existe um excesso de comida, e uma falta de nutrientes essenciais.

O presidente da Abia, Edmundo Klotz, iniciou o debate afirmando que "todo alimento é bom. A dose é que é a diferença", defendendo hábitos alimentares equilibrados, que só podem ser proporcionados através de uma educação alimentar. E terminou o workshop dizendo que a recente polêmica gerada pela nova política da prefeitura de São Paulo, popularmente chamada de "ração para pobre", é antiquada, e precisa ser esclarecida.

Os representantes da indústria defenderam uma desmistificação dos alimentos industrializados, que vêm sendo demonizados pelas práticas cada vez mais fortes de incentivo ao consumo de alimentos orgânicos e frescos. Edmundo defendeu agriculturas familiares, e disse que elas são essenciais para a cultura brasileira.

"Nada é simples. Se você deixa de consumir um chocolate do mercado, e faz brigadeiro em casa, dá no mesmo", acrescentou Marcia Terra, da Sociedade Brasileira de Alimentação (SBAN). "A educação alimentar é a saída", completou.

Para isso, a Abia apresentou uma proposta de um novo modelo de rotulagem nutricional, evitando avaliar um alimento isoladamente sem inseri-lo no contexto da alimentação diária e hábitos de vida saudáveis. Evitando assim a simples inserção de advertências ou ilustrações, meramente interpretativas, ao invés de informar e educar, e fortalecendo o uso de evidências científicas que levem em conta recomendações nutricionais e o papel do alimento em uma dieta equilibrada, diversificada e inclusiva.

"Nós encomendamos uma pesquisa ao Ibope, qualitativa e quantitativa, para saber o que o consumidor quer de informação no rótulo dos alimentos", explicou Daniella Cunha, da Abia. "O resultado deve sair na segunda quinzena de novembro. Mas é importante frisar que a indústria de alimentação acredita que, por melhor que seja o modelo de rotulagem, ele nunca poderá oferecer a totalidade de informações existentes e não poderá substituir uma ação ampla de educação alimentar e nutricional, que oriente a população a entender as informações dos rótulos dos alimentos e saber como compor uma alimentação saudável e equilibrada".

Em um debate afinado, descontraído e com uma grande variedade de dados técnicos, os palestrantes reforçaram a necessidade de se trabalhar em conjunto em políticas públicas que beneficiem a população, principalmente no acesso daqueles que possuem baixa renda. De forma que se leve em conta todos os obstáculos da vida moderna, urbana, e uma mulher cada vez mais inserida no mercado de trabalho.

"Está acontecendo uma mudança de cultura alimentar. Hoje, o homem que cozinha é visto como gourmet, e para a mulher virou um demérito. Quando eu entrei na faculdade, o debate era sobre a desnutrição, e agora a gente fala em obesidade. Essa dualidade não acrescenta. A educação é a chave para mudar isso", finalizou Vanderli Marchiori, nutricionista da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva.

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