Faltam medicamentos para tratar crianças com câncer
De acordo com a Defensoria Pública, 11 substâncias utilizadas na quimioterapia estão com estoques zerados
A Defensoria Pública do Estado do Ceará denunciou, ontem (7), a falta de medicamentos para crianças em tratamento contra o câncer no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), em Fortaleza. Em inspeção realizada na última segunda-feira (5), o órgão constatou que 11 substâncias utilizadas na quimioterapia estão com estoques zerados. Segundo pais e familiares de pacientes, a carência já dura meses e tem prejudicado, pelo menos, 150 meninos e meninas em atendimento na unidade. Com a ausência dos remédios, crianças estariam voltando para casa sem terapia.
Na lista de fármacos em falta levantada pela Defensoria, estão substâncias cujas demandas médias mensais chegam a 3.000 cápsulas. É o caso do imunossupressor Mercaptopurina, usado no tratamento contra leucemia. Outro remédio, Ondansetrona, que controla as náuseas provocadas pela quimio e pela radioterapia, tem demanda de 2.000 ampolas por mês. Para os demais medicamentos, as médias de consumo mensal variam entre 30 e 1.000 unidades.
Essenciais
Durante a visita feita ao Hospital, conforme afirma o supervisor do Núcleo de Atendimento da Defensoria Pública na Infância e Juventude (Nadij), Adriano Leitinho, funcionários relataram que a situação afeta de 60% a 70% das crianças atendidas. "Conversando com uma médica, ela nos informou que, na segunda-feira passada, teve que mandar 12 pacientes para casa por falta de medicamentos", diz. "São remédios essenciais, sem os quais a quimioterapia não pode ser realizada", completa.
De acordo com as informações apuradas pelo órgão, a carência de fármacos começou em setembro do ano passado. Diante da apreensão de familiares dos pacientes, a Associação Peter Pan, que auxilia crianças com câncer, chegou a utilizar recursos próprios para a aquisição de um dos medicamentos indisponíveis à época.
Em nota pública divulgada no fim de fevereiro, a entidade, que trabalha em parceria com o Hias, afirmou esperar que "sejam o mais breve possível solucionados os óbices que têm entravado a disponibilização de medicações vitais".
Para os pais das crianças em tratamento, cada dia sem os medicamentos pode implicar na piora no quadro de saúde já preocupante dos filhos.
Abaixo-assinado
Na tentativa de pressionar a direção do Hospital e a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), a manicure Deisiane Henrique, cuja filha de três anos luta para tratar um tumor na glândula suprarrenal desde o ano passado, reuniu, em um abaixo-assinado, as assinaturas de cerca de 150 famílias em situação semelhante à sua.
"Quando elas não fazem o tratamento da forma adequada, piora a situação. Se a criança tem um tumor, ele cresce, e naquelas com leucemia, a medula fica comprometida mais gravemente, causando um risco muito grande. Sem falar que a nossa situação já é dolorosa por si só", desabafa a mãe.
No caso de Deisiane, o último ciclo de quimioterapia pelo qual a filha passou foi feito sem a administração de um medicamento necessário para evitar a queda de imunidade. "Acaba sendo um risco. Ela pode ficar sem defesa, mais suscetível a pegar uma doença. E se pegar, atrasa todo o tratamento", conta.
Segundo Deisiane, a última previsão dada pela direção do Hospital às famílias é de que os medicamentos serão reabastecidos até sexta-feira (9). "Se até sexta-feira não for feito nada, vamos chamar os diretores de novo e entrar com ação no Ministério Público, porque não tem mais como", afirma.
Procurada pelo Diário do Nordeste, a assessoria do Hias informou em nota que os medicamentos para tratamento oncológico estão em fase final de aquisição. De acordo com a assessoria, a expectativa é que os fármacos cheguem no dia 9.
Sobre um dos 11 remédios em falta citados pela Defensoria, o L-asparaginase, a unidade afirmou que o processo de aquisição da substância foi alterado sem aviso prévio pelo Ministério da Saúde em fevereiro deste ano e que a Sesa tenta agilizar a compra do remédio, "que voltará em breve a ser fornecido aos pacientes", comunicou na nota. "A Sesa ressalta que o prazo para aquisição envolve disponibilidade de medicamento por parte dos fornecedores", completou. O Ministério da Saúde também foi procurado pela reportagem, mas não emitiu posicionamento até o fechamento desta edição.
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