Fiocruz discute estratégias contra a influenza no Brasil
Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)
A Fiocruz promoveu nesta quinta-feira (26/4) o evento Influenza: uma epidemia de todos os anos. O objetivo foi apresentar e discutir o panorama da enfermidade no Brasil, os vírus circulantes, os grupos com maior risco de contraírem as formas graves e as medidas de prevenção. O debate teve a participação de representantes do Ministério da Saúde (MS), da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Rio de Janeiro e de pesquisadores da Fiocruz e contou com a presença de profissionais de saúde, em sua maioria do campo da vigilância. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2017, foram confirmados 2.691 casos da doença no Estado. Em 2018, até 7 de abril, foram registrados 286 casos em todo o país, com 48 óbitos.
O coordenador de Vigilância e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, abriu o evento discorrendo sobre a atuação conjunta das instituições de saúde dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal). Ele afirmou que, em pesem as diferenças que possam existir entre essas instâncias governamentais, há uma unidade de pensamento entre os profissionais de saúde, focados em assegurar que o Sistema Único de Saúde, enquanto avanço institucional e civilizatório, seja fortalecido. “Assim poderemos rechaçar às ameaças ao SUS, que representam um retrocesso para toda a população”, disse Venâncio. De acordo com o coordenador, “não existe no Brasil uma cepa H2N3 do vírus da influenza. Circulam, atualmente, influenza A/H1N1pmd 09, A H3N2 e influenza B. A vacina contra a gripe protege contra esses três tipos de vírus. Por isso, a vacinação é fundamental”.
A coordenadora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, Gabrielle Damasceno, disse que até a 16ª semana de 2018 houve 331 casos de influenza no estado. Ela apresentou as estratégias de prevenção e o trabalho que a Secretaria vem desenvolvendo, que incluem a detecção precoce e o monitoramento de eventos incomuns, das infecções respiratórias agudas, dos vírus circulantes e das coberturas vacinais; a atualização frequente dos fluxos de distribuição de medicamentos e dos sistemas de informação; a indicação e o uso do Oseltamivir de forma adequada e o mais precoce possível, em conformidade com os protocolos do MS; a atenção às mudanças do padrão antigênico e genético dos vírus circulantes; e o estímulo às boas práticas de etiqueta respiratória. “Como disse Rivaldo Venâncio, tudo isso, para ser exemplarmente seguido e renda frutos, precisa estar articulado entre todas as instituições”, disse Gabrielle. A coordenadora lamentou que só existam sistemas de sentinela para a influenza em municípios com mais 300 mil habitantes, o que faz com que a Região Serrana do Rio, por exemplo, que tem temperaturas mais baixas, não conte com uma unidade dessas. Representando a Coordenação-Geral de Laboratórios (CGLAB) da Secretaria de Vigilância em Saúde, Miriam Teresinha Livorati apresentou o Boletim Epidemiológico de Influenza do MS.
A pesquisadora Paola Resende, do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), abordou as características e a vigilância laboratorial do vírus influenza. Segundo ela, existem quatro gêneros do vírus (A, B, C e D), sendo que os três primeiros causam infecções em seres humanos. Destes, os mais letais são A e B. O vírus da influenza A tem 16 subtipos. Os mais comuns em humanos são H1, H2 e H3. “Os principais desafios são conhecer a melhor cepa para a composição da vacina, saber se as cepas circulantes são sensíveis aos antivirais disponíveis e entender como melhorar a vigilância e ficar preparado para a emergência de novas variantes. É um trabalho minucioso e que requer muita atenção da rede de vigilância”, disse Paola.
O Brasil tem um centro de referência nacional para o Ministério da Saúde (o laboratório do IOC/Fiocruz) e dois que são referências regionais (Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e Instituto Evandro Chagas, no Pará). Os três são centros de referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS). “A rede de vigilância mundial existe há 65 anos e está em 113 países. Essa troca de informações e dados é crucial para nos prepararmos para os desafios que virão. No momento, uma das preocupações da rede é saber qual será a cepa da próxima pandemia. Por meio de uma ferramenta, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) de Atlanta, nos Estados Unidos, calcula que será a H7N9”, anunciou Paola. Essa cepa da gripe aviária foi identificada em 2013, na China, e surgiu entre patos selvagens, que a transmitiram para aves domésticas. Cerca de 40% das pessoas confirmadas com a infecção do vírus H7N9 da Ásia morreram. Caso haja transmissão entre pessoas, de maneira sustentada, é possível que a H7N9 inicie uma nova pandemia. “Precisamos nos preparar para esses desafios. Faz um século da primeira pandemia de H1N1, em Londres. Ainda tempos muito o que descobrir e aprender”, observou a pesquisadora.
A chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo, Marilda Siqueira, afirmou que é urgente desenvolver novos antivirais. “São eles que ‘seguram’ uma pandemia num primeiro momento, já que para se obter uma nova vacina são necessários pelo menos cinco meses. Os antivirais reduzem o risco de casos graves e óbitos por influenza. A administração desses medicamentos nas primeiras 48 horas após os primeiros sintomas é fundamental para o tratamento”.
Na AFN
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