Funcionários de farmácias denunciam mercado clandestino de receitas falsas
Psiquiatra que atende em Novo Hamburgo é a mais recente vítima Silvio Milani 06/08/2017 20:00 06/08/2017 21:18
O psiquiatra José Tadeu de Toledo, que tem consultório em Novo Hamburgo, levou um susto ao ver, há duas semanas, receita médica prescrita com o registro profissional e nome dele. O carimbo, a assinatura e até o nome do medicamento têm erros grosseiros. Mesmo assim, o remédio de uso controlado foi vendido em uma farmácia no bairro Canudos. A fraude só foi descoberta durante conferência da farmacêutica. “Sabemos que há mais dessas circulando”, alerta ela, que pediu para não ser identificada.
Foi a farmacêutica quem avisou o médico. “Logo desconfiei pela forma como estava preenchida e fui comparar com outras receitas do doutor.” Ela enviou cópia para o psiquiatra, que confirmou a falsificação. Era para o Divalproato – escrito “Divaproato” na requisição -, um antiepilético indicado também para transtorno bipolar. “Eu não estava na loja na hora da venda, mas sei que é uma cliente na faixa dos 60 anos.
Mercado clandestino
Conforme funcionários de farmácias da região, há um mercado clandestino de receitas falsificadas. Na maioria dos casos, os médicos que tiveram os dados usados nem ficam sabendo. “Há poucos dias, tivemos uma cliente que tinha pago 10 reais pela receita. Era tarja preta. Mas ela não contou de quem comprou”, revela a farmacêutica que avisou o psiquiatra.
“Minha reação foi de indignação”
O médico foi à Polícia assim que soube da falsificação. “Minha reação foi de indignação, de estar sendo desrespeitado.” Toledo observa que o carimbo praticamente valida a receita. “Como existem impressos-padrão, torna-se fácil emitir receitas de remédios controlados, como antibióticos, antidepressivos, anticonvulsivantes, hipnóticos.”
O psiquiatra alerta para o perigo da automedicação. “Se existe controle, é porque há o risco no uso sem critério. No caso do Divalproato, pode causar malformações no feto, ovários policísticos, pancreatite, alterações no fígado, entre outras reações. Por isso requer a realização de exames periódicos.”
Polícia apura origem e vai ouvir mulher
A mulher que conseguiu comprar o Divalproato com receita falsa deve ser ouvida pela Polícia Civil na tentativa de se chegar a quem produz e vende os documentos. “Vamos intimar essa pessoa para ver se tem algo a nos informar quanto à origem do material”, declara o chefe de Investigação da 1ª DP, inspetor José Urbano Lourenço.
A ocorrência policial foi registrada como falsificação de documentos particulares, do artigo 298 do Código Penal, que prevê pena de um a cinco anos de reclusão. Porém, como a suspeita é de fraude em larga escala, o tempo de condenação deve ser maior.
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