Hospitais continuam desabastecidos

Publicação: 2017-09-22

Superlotação, falta de insumos, medicamentos, alimentação e fechamento de unidades de UTI são cenas que se repetem dia a dia na maior parte dos hospitais da rede Estadual do Rio Grande do Norte. Passados 90 dias da publicação do decretou calamidade pública no Estado pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN), o cenário permanece crítico – quase inalterado – nos maiores hospitais administrados pela pasta. No Hospital Dr. José Pedro Bezerra, também conhecido como Santa Catarina, na zona Norte de Natal, a situação não era diferente na manhã de ontem (21).

Hospital Santa Catarina atendeu, de 1º de janeiro até a manhã de ontem, 24.750 pessoas, dos quais 10.750 vieram do interior do RN

Nos corredores do hospital, que atende pacientes da zona Norte e do interior do RN, os corredores do setor de obstetrícia e clínica médica eram ocupados com macas de pacientes que deveriam estar internados em leitos. A unidade de saúde tem capacidade para abrigar 200 leitos, mas na manhã de ontem cerca de 250 pessoas estavam internadas. “Temos que acabar com a cultura de que corredor é lugar de internação”, reclamou o diretor administrativo e financeiro do hospital, Antônio Alves.

Segundo o gestor, os fatores que levam à falta de alimentos, insumos e medicamentos são a constante superlotação do hospital e trâmites burocráticos para licitações e compras. “O hospital está lotado e o paciente não espera. Não tem medicação, nem alimento que chegue. É uma luta diária para fazer mágica com o que temos”, frisou Antônio Alves.

Desde 1º de janeiro deste ano até a manhã de ontem, o hospital atendeu 24.750 pessoas, destes 14 mil eram de Natal, outros 10.750 restantes vieram do interior do RN, ou em ambulâncias municipais ou em veículos particulares. Os municípios que mais enviaram pacientes foram São Gonçalo do Amarante, com 2 mil pacientes, Ceará-Mirim, que levou 1.323 pessoas e Macaíba com 939. “A porta é regulada, para cá deveriam vir os pacientes mais graves. Mas as pessoas chegam, muitas vezes do interior, e temos que receber”, avaliou Alves.

Os problemas não se restringem à falta de estrutura física no Hospital Santa Catarina. A carência de medicamentos e insumos é um problema constante, sentido pelos pacientes mas também pelos profissionais que trabalham no local. O chefe da Clínica Médica, Reinaldo Carlos, disse que não é incomum ver pacientes comprando a própria medicação. “Eles sentem e a gente sente também. É uma luta diária fazer muito com o pouco que temos. A superlotação acaba afetando a saúde dos médicos, que ficam sobrecarregados”, lamentou o médico. Ele disse que medicações como “Monocordil”, usado para insuficiência cardíaca estava em falta ontem. “Já solicitamos, mas isso leva um tempo para sair”, disse.

Chefe da Clínica Médica do Hospital Santa Catarina, Reinaldo Carlos problemas causados pela falta de insumos

O coordenador geral do Sindicato dos Servidores da Saúde do RN (SindSaúde), Manoel Egídio, reclamou da demora para aplicação dos R$ 56 milhões recebidos pela Sesap, por parte do Ministério da Saúde, após o decreto de calamidade. “A nossa percepção é que esse dinheiro não trouxe nenhuma melhoria efetiva no serviço. Não estamos vendo na prática as melhorias que esse decreto deveria trazer”, refletiu Manoel Egídio”, disse ele.

Os problemas de superlotação e falta de medicamentos e alimentação para pacientes, funcionários e acompanhantes são vistos em todos os hospitais da rede estadual, de acordo com o coordenador do Sindsaúde. “As unidades ainda trabalham com déficit, não houve um efetivo abastecimento que trouxesse melhoria. As UTIs que estavam desativadas, continuam do mesmo jeito. O feijão está faltando há seis meses, e vão vemos reposição”, afirmou.

Calamidade
O decreto de calamidade publicado em 6 de junho pelo Governo do RN teve objetivo de recolocar a Saúde pública nos trilhos até o final do ano. O RN recebeu em julho o primeiro repasse do Ministério da Saúde, de R$ 56 milhões, para sanar os problemas prioritários da saúde pública. O valor total é de R$ 150 milhões, mas o Governo Federal dividiu o pagamento em três parcelas.

Cerca de 30% da dívida acumulada pela Sesap desde 2016, cerca de R$ 15 milhões, é referente a débitos com fornecedores de insumos e medicamentos – os R$ 35 milhões restantes irão quitar serviços terceirizados prestados nas unidades e gastos com manutenção de veículos. O Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, é uma das unidades que espera aporte de R$ 5 milhões.

A curto prazo, a Sesap elencou as seguintes prioridades: instalação imediata de 30 leitos de UTIs (20 em Natal e 10 em Mossoró); aquisição de insumos de uso hospitalar; abastecimento da Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat); troca de parte da frota de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e realização de mutirão para zerar a fila de espera por cirurgias eletivas.

Pedido de entrevista
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou, ontem, entrevistar o secretário estadual de Saúde, George Antunes, para que comentasse a situação de calamidade e o que já tinha sido feito com os R$ 56 milhões, mas foi informada através da assessoria de imprensa que “tinha muitos compromissos, e terá que levantar algumas informações para poder dar a entrevista. A reportagem também ofereceu a possibilidade da Sesap responder aos questionamentos através de coordenadores de hospitais, o que também não foi viabilizado pela Assessoria.

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