Itens da cesta básica puxam deflação nos supermercados da região

Alimentos como feijão, arroz e leite longa vida ajudaram
Rafaela Tavares 17.01.18 16h02 Atualizado em: 17.01.18 16h05

A redução no preço de alimentos que integram a dieta básica – feijão, arroz e leite longa vida – ajudou a deixar o valor das compras em supermercados da região mais leve em 2017. Impulsionada pela supersafra e pela cautela do consumidor com o que colocar no carrinho, a oferta dos produtos aumentou e contribuiu para que a inflação do setor terminasse o ano passado em queda.

O Índice de Preços dos Supermercados, calculado pela Apas/Fipe (Associação Paulista de Supermercados/ Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), registrou um recuo de 2,3% no acumulado de janeiro a dezembro de 2017. A retração nos preços é a maior desde o início da medição, em 1994. Conforme a Apas, a queda mais próxima à de 2017 foi registrada em 1998, quando o indicou apontou para redução de 2,26%.

De acordo com o economista da Apas, Thiago Berka, um dos fatores que impulsionaram a deflação nos supermercados em 2017 foi a safra recorde de grãos. "Este resultado fez também com que os rebanhos bovino, suíno e as aves fossem beneficiados com melhores preços para a ração, por exemplo, o que ajudou na redução no preço das carnes", ele esclareceu.

Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o Brasil colheu 238 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2016/2017, atingindo sua maior marca histórica.

Berka lembra que o feijão e o arroz tiveram deflação em 2017 também devido ao fato de que os preços dos dois produtos dispararam em 2016, com altas respectivas de 11,89 e 35,6%, depois de já terem aumentado 5,44% e 36,41%, em 2015, devido à quebra de safra. Já o leite ficou mais barato porque os rebanhos encontraram boas pastagens, produtores observaram preços estáveis e convidativos ao aumento de produção nos últimos três anos, além da demanda desaquecida. "Isso porque na crise, produtos lácteos em geral são reduzidos com mais intensidade pela população e os supermercados adequam seu mix de produtos supérfluos."

INSUMOS
O gerente comercial do grupo Muffato – que tem hipermercados em Araçatuba e Birigui – Adilson Corrêa, destaca o feijão como um produto que teve queda de 200% em 2017. Ele observa também uma redução de 25% nos valores de alguns cereais e recuos que variam entre 20% e 30% no custo de açúcar, farinha de trigo, arroz e óleo de soja. Corrêa também acredita que o aumento de produção no ano passado puxou a queda de preços. "Como muitos desses produtos são insumos para outros, automaticamente reduzem os preços de diversos itens que deles derivam."

Encarregado de um dos supermercados do grupo Rondon de Araçatuba, Marcelo Zenerato avalia que leite e feijão subiram muito anteriormente e, na comparação com 2016, ficaram em torno de 10% mais baratos no ano passado. "Com pouco giro do produto, começou a haver a queda de preços."

CONSUMIDOR
Berka lembra que a demanda em 2017 ainda foi impactada por dois anos de PIB negativos (2015 e 2016) e pelo desemprego que atingiu o pico no 1° trimestre (13,7% da população economicamente ativa) e só reduziu em novembro, o que levou à deflação dos supermercados."O consumidor chegou em 2017 extremamente cauteloso, sem confiança e renda suficiente para gastar de forma a absorver a maior oferta no mercado alimentício".
Preços devem voltar a subir ao longo do ano

A perspectiva é de um cenário diferente para os supermercados paulistas em 2018. A previsão da Apas é de que este ano o consumidor pague entre 3% a 4% a mais pelos produtos. "O nível de emprego no Brasil continuará aumentando e a melhora nos empregados com carteira assinada na iniciativa privada tornará a demanda mais robusta e sustentável", avalia o economista Thiago Berka.

Ele acredita que a safra brasileira de 2018 seja boa, porém não atinja o mesmo nível da colheita de grãos em 2017. A superprodução foi um dos fatores que tornaram alguns produtos mais baratos no ano passado. A Conab estima um recuo de 4,4% a 6,2% para a safra 2017/2018 ante as 238 milhões de toneladas de 2016/2017. A produção deve ficar entre 223,3 e 227,5 milhões de toneladas.

O gerente comercial do grupo Muffato Adilson Corrêa, acredita que a tendência é de que os preços da maioria dos produtos voltem a se normalizar, levando em consideração a meta de inflação do governo de 4% a 4,5%. "Contudo, alguns terão uma elevação de preços maior por conta de fatores externos." Ele cita derivados de soja como itens que devem ter elevação pela safra abaixo do esperado nos Estados Unidos. "Outro fato que deve contribuir para um aumento de preços nos supermercados é a alta dos combustíveis."

LINK CURTO: http://folha.fr/1.384495

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