Médicos usam teste genético para indicar a melhor medicação

Técnica ajuda a identificar as variantes que diferenciam os indivíduos

Litza Mattos

A condição que determina por que um mesmo medicamento funciona com uma pessoa, e não com outra, pode estar no DNA de cada uma delas. Por isso, testes farmacogenéticos já estão sendo usados para identificar as variantes genéticas que diferenciam os indivíduos na forma como metabolizam os medicamentos e ajudar os médicos a escolher a melhor estratégia terapêutica de maneira personalizada.

Recentemente, o jornalista Jorge Pontual revelou que sofre de depressão há quase 40 anos, mas só agora está tomando os remédios certos, graças ao novo exame. Em entrevista ao programa “Bem Estar”, da Rede Globo, Pontual contou sobre sua experiência.

“É um teste genético que dá ao psiquiatra um perfil detalhado de 18 genes ligados à saúde mental. O teste indica quais são os antidepressivos que funcionam no meu caso e quais os que não funcionam. Eu descobri que durante décadas eu tomei justamente aqueles que não funcionavam no meu caso. Agora, eu estou no caminho certo”, disse.

Já se acredita que fatores genéticos são responsáveis por 15% a 30% dessas diferenças individuais em relação às medicações, e, para determinados medicamentos, os fatores genéticos interferem até 95% em suas respostas.

De acordo com o professor de genética e evolução da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fabrício Santos, o exame avalia os genes que estão relacionados com a predisposição e a susceptibilidade das pessoas a alguns medicamentos. “No Brasil, já é feito para vários tipos de tratamento quimioterápico, pois algumas pessoas respondem bem a alguns tratamentos e outros, não, sendo que é possível saber antes por esses testes específicos”, diz.

Além da oncologia, outras especialidades médicas já beneficiadas pelo teste são: cardiologia, psiquiatria, neurologia, geriatria, endocrinologia e infectologia. No caso dos antidepressivos, os estudos que demonstraram essa predisposição são mais recentes, explica Santos. “A cada dia conhecemos um pouco mais o que os genes controlam. O problema é que nós não sabemos o que a maioria dos genes faz e qual sua relação com os medicamentos, por isso ainda é necessário (ter) muita pesquisa. No futuro, mais e mais testes estarão disponíveis”, projeta.

Segundo o médico psiquiatra Ramon Antônio Corrêa Oliveira, os testes farmacogenéticos ainda são muito pouco difundidos, inclusive na própria área médica. No entanto, ele ressalta que o simples fato de o paciente possuir algum tipo de carga genética não implica desenvolvimento de doença mental. “A aplicação prática desses testes é na escolha e na dosagem do tratamento. O diagnóstico na psiquiatria é feito pelos sintomas que o paciente apresenta. E, ainda hoje, jamais feito pela carga genética do indivíduo”, diz.

Transtornos

População. Os transtornos mentais acometem, em algum momento da vida, ao menos 20% da população mundial. Cerca de 350 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão, segundo a OMS.

Medicina fica cada vez mais individual

Estima-se que 30% dos pacientes com depressão não respondam às drogas usadas como primeira alternativa. Como resultado, muitas vezes os pacientes são tratados na base da tentativa e erro, aumentando o impacto da doença na vida do paciente e os custos do tratamento.

Dessa forma, os testes farmacogenéticos podem contribuir para amenizar esses riscos, segundo o psiquiatra Ramon Antônio Corrêa. “O teste genético é visto hoje como uma ferramenta que pode possibilitar uma melhora muito grande do tratamento psiquiátrico no futuro, principalmente por permitir a individualização do tratamento”, afirma.

No entanto, esse exame não deve ser visto como o único para definir todo o tratamento, porque as doenças mentais são biopsicossociais, ou seja, multifatoriais. “É uma técnica de grande potencial para individualizar melhor o tratamento”, explica Corrêa.

Flash

Detalhes. O teste pode ser feito por meio de material genético do paciente, por exemplo, amostra de sangue. Um exame que analisa 79 medicamentos e 25 genes individuais custa, em média, R$ 3.980, e o resultado sai em 45 dias. No país, alguns planos de saúde já tiveram que custear o exame após decisão judicial.

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