O CEO cosmopolita da Takeda
Depois de multiplicar por quatro os resultados da farmacêutica japonesa, em apenas cinco anos, Ricardo Marek recebe a missão de comandar os negócios em 35 países. Conheça a sua fórmula
Ricardo Marek, presidente da Takeda para mercados emergentes: “Os países em desenvolvimento têm um potencial de expansão tão grande quanto o tamanho de suas populações” (Crédito: Claudio Gatti)
Carlos Eduardo Valim
15.06.17 – 20h00 – Atualizado em 15.06.17 – 20h09
Desde janeiro, o executivo paulista Ricardo Marek, 46 anos, vem se organizando para a maior mudança de sua vida. Foi no começo deste ano quando ele soube que teria de se mudar para Cingapura, onde assumiria a posição de presidente para mercados emergentes da farmacêutica japonesa Takeda, uma das mais antigas – e maiores – empresas do mundo, com 235 anos de história e faturamento anual de US$ 15 bilhões. São números que a colocam entre as 15 maiores fabricantes de medicamentos do planeta. No Brasil, a companhia figura entre as 10 primeiras, fruto do trabalho de Marek.
Durante o seu período na subsidiária brasileira, a empresa adquiriu e integrou às suas operações a Multilab, o que tornou a companhia asiática uma potência nacional em medicamentos sem prescrição médica. Dentro do seu portfólio estão campeões de vendas como o remédio para dor de cabeça Neosaldina, o antinauseante Dramin, o digestivo Eparema, o antibactericida Nebacetin e o antigripal MultiGrip. No começo de abril, Marek assumiu o novo cargo na Ásia. Em julho, o processo de mudança com a família deve ser concluído, quando a esposa e as suas filhas, que terminarão um semestre de faculdade, poderão se juntar na cidade de Cingapura, um dos mais importantes hubs de negócios internacionais da atualidade.
“É uma cidade muito cosmopolita, com grande presença de estrangeiros e capacidade de captação de talentos, além de ter uma infraestrutura espetacular”, disse Marek à DINHEIRO, em uma recente passagem por São Paulo, a única que deve fazer no ano. “E ainda fico próximo do Japão, para onde preciso ir bastante para reuniões.” Marek agora se reporta diretamente ao CEO global, Christophe Weber, que está baseado na sede em Osaka. A operação brasileira e da América Latina, agora, está sob comando da executiva Renata Campos, que comandava a filial argentina da Takeda.
Com a nova função, Marek provou ser um queridinho no board da companhia pelo desempenho apresentado na subsidiária brasileira, que passou de uma receita de US$ 300 milhões para cerca de US$ 1,2 bilhão, de 2011 a 2016. Agora será responsável por administrar os negócios em 35 dos 70 países nos quais a companhia tem presença, em cinco regiões diferentes. São elas a América Latina, o Oriente Médio – que no mapa da Takeda inclui Turquia e África – a Rússia e países do Leste Europeu, a China e seus arredores, e países da Ásia e Pacífico, excluindo o Japão.
Os mercados emergentes respondem por 17% do faturamento mundial da Takeda, cerca de US$ 2,5 bilhões. O Brasil contribui com quase metade desse total (Crédito:Divulgação)
Em conjunto, essas localidades concentram mais de 80% da população global. Em termos de negócios, os emergentes respondem por 17% do faturamento mundial da Takeda, ou cerca de US$ 2,5 bilhões. O Brasil contribui com quase metade desse total. “São países com uma possibilidade de crescimento do tamanho de suas populações”, afirma Marek. “E também possuem altos investimento governamental em saúde. No Brasil, chega a 8% do PIB, e em alguns países atinge-se 10%.” No último ano fiscal, terminado em março, os emergentes ajudaram a Takeda com um crescimento de 4,5%, e passaram a se posicionar no centro da estratégia global da empresa de abrir novos campos potenciais de crescimento.
O plano elaborado por Weber, o CEO global, destina a explorar melhor países em desenvolvimento e medicamentos inovadores, como forma de garantir a expansão futura. “Nos últimos três anos, nos focamos em três áreas de especialidades para inovação: gastroentologia, sistema nervoso central e oncologia”, diz Marek. Essas categorias juntas responderam por um crescimento de 14,7% no ano passado. Entraram no foco tratamentos para linfoma de Hodgkin, doença de Crohn – o medicamento Entyvio (vedolizumab), aprovado em 2014, já superou as vendas de US$ 1 bilhão ao ano –, colite ulcerativa e mieloma múltiplo.
Agora, também chega a fase de desenvolvimento uma vacina contra dengue, que pode ter impacto em países tropicais. Egresso da empresa química Akzo Nobel, Marek chegou há seis anos na Takeda e teve uma ascensão que merece o adjetivo de meteórica, sem o risco de cometer exageros. De executivo-chefe de finanças, foi alçado a presidente das operações brasileiras, em 2013, e um ano depois já era responsável por toda a América Latina. Nesse período, além de completar a aquisição da Multilab e integrar a sua fábrica em São Jerônimo (RS), foi responsável por introduzir a estratégia de oncologia na América Latina.
Um dos seus maiores desafios, na nova posição, deve continuar nessa linha. Expandir o portfólio nos países em desenvolvimento para medicamentos com maior margem de lucro. Segundo Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, os países emergentes se aproximam da tendência dos mercados maduros de consumo de remédios complexos. “São regiões em que a expectativa de vida da população vem aumentando muito”, diz.
“Mesmo em crise o mercado não desaquece.” Uma prova disso é o Brasil, que viu as vendas de medicamentos ao consumidor final subir 12% no ano passado, para
R$ 51 bilhões. O crescimento da Takeda também pode acontecer por meio de aquisições. “Queremos estar entre as 10 maiores empresas dos principais mercados emergentes”, afirma Marek. “Isso não vai ser possível só com crescimento orgânico. Estamos vendo oportunidades de aquisições principalmente no Brasil, na Rússia e na China.” Mesmo com 11 horas afastado do fuso horário brasileiro, Marek terá o País no centro de suas preocupações.
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