O papel das centrais de abastecimento
por Rui Daher — publicado 10/04/2018 00h10, última modificação 09/04/2018 16h52
Além de opção para escoar safra, centrais de abastecimento são referência de ofertas, demandas, preços, variedades e origem
Com centrais de abastecimento governo procurava forma de apoio à produção e ao escoamento de frutas, legumes e verduras nos anos 60
Já informei na coluna a relevância da cadeia hortifrutigranjeira para a segurança alimentar dos brasileiros e quem aqui reside. Em março deste ano, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) publicou seu mais recente Boletim, dentro do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort)
Trata-se de análise sobre a comercialização dos principais produtos do segmento, através das entregas feitas em entrepostos públicos (CEASA), de oito capitais brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória, Brasília, Goiânia, Recife e Fortaleza), que representam um dos principais canais de escoamento de produtos in natura do país.
Segundo a Conab, nele, podemos conhecer “estudos de movimentação de produtos, calendários de safras, variação estacional de preços, identificação de origem da oferta, entre outros”.
Também, conhecer o tamanho da comercialização no atacado e seus preços, comparando-os aos do varejo. Isto, nos principais municípios e microrregiões produtores e em cada um dos dez itens selecionados (alface, batata, cebola, cenoura, tomate, banana, laranja, maçã, mamão e melancia).
O contexto em que surgiram as centrais de abastecimento, segundo informa o Boletim, se iniciou no final dos anos 1960. O governo federal procurava forma moderna de apoio à produção e ao escoamento de frutas, legumes e verduras.
Nos anos 1970 e 1980, essas plataformas passaram a ser construídas em larga escala, espalhando-se pelo país. A partir da década de 1990, segundo o Boletim, “época das privatizações e diminuição da presença do Estado, tal quadro passou a ser desconstruído de forma assustadoramente rápida, por virtude de uma linha política de pensamento que não contemplava adequadamente a questão do abastecimento como primordial e estratégico na ação de Governo”.
Além de excelente opção para o produtor escoar sua safra, as centrais de abastecimento representavam referencial seguro quanto a níveis de ofertas, demandas, preços, variedades e origem desse importante segmento da economia.
Entendendo tal importância, o governo federal, em 29 de março de 2005, pela Portaria 171, criou o Prohort, ampliando-o, em 2014, com a Portaria 339. Só assim foi possível o Brasil ter esse arcabouço de dados e de apoio aos pequenos produtores e à agricultura familiar. Quem quiser conhecer o trabalho é só clicar aqui.
Pensam que terminei? Não. Além dos anos 2005 e 2014 me remeterem aos presidentes e ao partido que exerciam o Poder Executivo que ressuscitaram o sistema, surpreendeu-me não ver Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS) entre as capitais pesquisadas.
Seria esse o motivo que faz um juiz de piso manter preso em Curitiba, apoiado em julgamento viciado do TRF-4 do Rio Grande do Sul, o presidente que autorizou a primeira Portaria, deixou o cargo com quase 90% de aprovação popular, elegeu e reelegeu sua sucessora com 54 milhões de votos, o suficiente para autorizar a segunda Portaria, em 2014, para ser derrubada por um golpe de Estado, em 2016?
Fato. De que adiantaria incluir Curitiba e Porto Alegre nos estudos? Provável que importante parcela de seus moradores não necessite de alimentação humana.
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