O setor de farmácias repete processo vivido pelo comércio de eletrodomésticos há duas décadas: ameaças e alternativas para a economia regional

O mesmo movimento que se viu em Campos (e outras cidades de porte médio) há cerca de duas décadas, na área de eletrodomésticos, agora acontece com o setor farmacêutico.

A entrada no comércio local dos grandes grupos que atuavam nas regiões metropolitanas como o Ponto Frio, Tele Rio, Casas Bahia e outros, que foram responsáveis por desmontar o comércio local deste segmento com o fechamento da Icaraí Móveis, Distribuidora Mercantil, Tri Som e outras.

Agora este processo avança para um setor onde a característica de varejo – com pequenas e constante compras – é ainda forte, como no caso da venda de medicamentos e materiais de beleza e perfumaria, como é o caso das farmácias, onde se vende de tudo um pouco.

A invasão das lojas de redes como a Pacheco, Droga Raia e outras, já espreme o segmento varejista local do comércio de farmácias, mesmo aqueles que possuem não apenas lojas, mas uma base de distribuição, como é o caso da tradicional Isalvo Lima, grupo cada vez mais vinculado à área de imóveis e menos à de drogarias.

Este movimento não é um fenômeno local, mas atinge todo o interior, inicialmente nas cidades de porte médio em quase todo o Brasil.

Observa-se assim que o comércio no país é cada vez menos local e mais de massa, com grandes grupos e corporações comandando o varejo em boa parte do país. Tudo isto, sem falar nas vendas pela internet (e-commerce).

No máximo, os interessados em investir nos comércios locais, quase que ficam restritos às franquias de marcas mais conhecidas e com os riscos já conhecidos, para quem se dispõe a colocar suas economias no setor. Neste tipo de alternativa, muita gente vem perdendo dinheiro iludido com as promessas das marcas.

Inicialmente, as comunidades tendem a ver neste processo, uma espécie de sinal de modernidade, pelo acesso a estas marcas, porém, mais adiante percebem que elas embutem outros problemas e riscos.

Desta forma, avança-se na oligopolização também ne varejo, em grande parte do comércio nacional. Os grupos ficam de olho nas economias locais/regionais que ganham algum dinamismo, com o objetivo de capturar seus excedentes que são levados para as metrópoles.

Assim, as economias e os comerciantes locais vão sendo ameaçados por um processo difícil de ser detido. Tratam-se de circuitos distintos da economia que merecem ser investigados. Um é ligado às grandes marcas (e fundos financeiros que são seus controladores) e o outro, “inferior”, cada vez mais empurrado para o comércio informal e marginalizado instalado mais próximo do cidadão.

Em alguns pontos eles se cruzam com o uso das informações digitais e buscam disfarces para fugir dos tributos e das fiscalizações governamentais.

Fato é que este movimento tende, no geral, a enfraquecer as economias locais-regionais e favorecer – com a captura de dinheiro e lucros – os maiores grupos econômicos do país.

A vida na sociedade contemporânea é cada vez mais complexa e o interesse e capacidade de atuação dos grandes grupos é quase avassalador.

O fato chama mais a atenção porque o comércio sempre foi um espaço de atuação da antiga burguesia, num momento pós-rural, nestes negócios de intermediação, que exigia menos investimentos, por exemplo do que a implantação de plantas industriais.

O caso parece ser apenas do comércio, mas ele aponta outras as dificuldades. Analisando mais profundamente este fato, ele mostra que a implantação de projetos regionais de desenvolvimento precisam ser integrados e envolver vários municípios. Será necessário visão de integração regional.

Será necessário um projeto de desenvolvimento regional que vá além do comércio e serviços. Será preciso envolver a produção material (agrícola e industrial), para assim arrastar os demais setores. Sem essa perspectiva, os municípios viverão sempre dependentes.

Não agir pró-ativamente nesta linha reforçará a velha ideia de esperar e estimular os grandes projetos que vêm de fora (exógenos), o chamados “Grandes Projetos de Investimentos” (GPI) que quando acontecem, tendem a se instalar como enclaves, com pouquíssimo diálogo e articulação com as comunidades locais que ficam isoladas.

É preciso investir nas pessoas da região com os recursos que ainda existem e que vão ficar mais escassos adiante quando a Economia dos Royalties tiver se liquefeito.

Mas, fiquemos por aqui com a análise que acaba levantando outras questões que esta postagem quer apenas provocar.

É preciso pensar saídas, num momento em que há um certo vazio, em termos de se pensar alternativas para a diversificação da economia (para além dos royalties do petróleo) e em implantar Políticas Públicas mais eficientes e de interesse do cidadão.

Postado por Roberto Moraes às 17:02

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