Pesquisa identifica assinatura molecular do zika vírus

Trabalho desenvolvido pela Unicamp e instituto A*Star, de Cingapura, acaba de ser publicado pelo “The Journal of Infectious Diseases”

Em estudo inédito, pesquisadores da Unicamp e do Singapore Immunology Network (A*Star) identificaram biomarcadores associados a complicações neurológicas provocadas pelo Zika Vírus. O trabalho gerou artigo que acaba de ser publicado pelo The Journal of Infectious Diseases, dos Estados Unidos, considerado uma das mais importantes revistas científicas do mundo na área de doenças infecciosas. “Tão importante quanto identificar os biomarcadores foi abrir perspectivas para novas pesquisas que permitam compreender os mecanismos de ação do vírus e os fatores associados a manifestações clínicas graves. Conhecendo melhor esse agente patogênico, teremos mais chance de combatê-lo”, considera o professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, Fabio Trindade M. Costa, um dos coordenadores do estudo.

De acordo com o docente, os pesquisadores da Universidade que participaram da investigação integram a Rede Zika Unicamp [ao todo, 29 profissionais da instituição são coautores do artigo], que reúne especialistas de diversas áreas do conhecimento. O objetivo da rede, criada em 2016, é desenvolver pesquisas que contribuam para enfrentar os graves impactos provocados na saúde pública pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Uma das iniciativas nesse contexto foi o estabelecimento de cooperação científica com o A*Star, de Cingapura, considerado um dos melhores institutos de pesquisa do mundo.

A colaboração bilateral, acrescenta Trindade, permitiu resultados muito significativos em apenas um ano de atividades. “Além do artigo publicado, nós temos outro já submetido a uma revista científica de alto impacto e um pedido de depósito de patente em fase final de tramitação”, elenca. Em relação à pesquisa que identificou biomarcadores associados a complicações neurológicas causadas pelo Zika Vírus, o professor do IB explica que a investigação foi realizada com cerca de 100 pacientes diagnosticados com o vírus, atendidos no Hospital de Clínicas (HC), no Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) e na rede hospitalar do município de Campinas.

Os pesquisadores analisaram amostras sorológicas dos voluntários [homens, mulheres, grávidas e recém-nascidos], com o propósito de responder a três perguntas principais. A primeira delas era se o infectado pelo vírus apresentava alguma assinatura molecular. Ou seja, se tinha em seu sistema imune alguma molécula diferente daquelas encontradas no sistema de uma pessoa não infectada. A segunda questão foi se também haveria algum biomarcador específico nos pacientes adultos que desenvolveram síndrome neurológica [perto de 10% do total].

Por fim, a terceira pergunta era se os cinco recém-nascidos do grupo que desenvolveram síndrome neurológica apresentavam igualmente uma assinatura molecular particular. “Para as três perguntas, tivemos a mesma resposta, que foi ‘sim’. Os pacientes infectados e os que desenvolvem anomalias decorrentes da ação do vírus apresentaram um conjunto de moléculas que se diferencia das moléculas presentes no organismo das pessoas que não foram infectadas pelo vírus Zika”, explica Trindade.

A descoberta, segundo o docente, pode contribuir para que a medicina faça prognósticos mais seguros sobre o quadro do infectado. Dependendo dos níveis dos marcadores, os médicos terão uma indicação sobre o possível agravamento ou não do estado do paciente, o que permitirá uma intervenção mais precoce. Outra contribuição importante do estudo, destaca o professor do IB e também coordenador da pesquisa, José Luiz Proença Modena, é que, a partir dele, é possível vislumbrar novas investigações. “Ainda precisamos saber, por exemplo, se esses biomarcadores são causa, consequência ou se são ao mesmo tempo causa e consequência das anomalias. Ao esclarecermos essas dúvidas, teremos mais informações para combater o vírus”, reforça.

Além gerar novos conhecimentos sobre o tema, a parceria entre Unicamp e A*Star, observam os docentes do IB, também é importante para a formação de recursos humanos, dado que estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado da Universidade estão envolvidos no esforço de pesquisa. “Foi muito interessante poder dividir a bancada com pesquisadores de Cingapura, que estiveram nos visitando. Pudemos trocar experiências e aprender muitas coisas com eles”, atesta a pós-doutoranda Juliana Almeida Leite, com a concordância da também pós-doc Carla Judice, ambas pós-graduandas do IB.

O avanço do Zika Vírus tem preocupado diversos países além do Brasil, como informam os professores Trindade e Modena. A atenção tem sido maior onde o micro-organismo está chegando agora, como nos Estados Unidos, especialmente na porção sul daquele país. “O mesmo ocorre no México e Colômbia. Também é bom lembrar que a Índia identificou recentemente o primeiro caso autóctone de infecção por Zika Vírus. Trata-se de uma situação preocupante, principalmente se levarmos em consideração o tamanho da população do país, que supera 1 bilhão de pessoas”, pontua Modena.

Além dos dois coordenadores vinculados à Unicamp, o projeto de pesquisa conta com outros dois coordenadores por parte do A*Star, os professores Lisa F.P. e Laurent Rénia. No Brasil, as pesquisas são financiadas pela Unicamp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em Cingapura, o financiamento é de parte do A*Star, que é um instituto de pesquisa privado.

Unicamp

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